
"Terrível para os EUA, terrível para o mundo." Assim Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, definiu as consequências de um calote americano, no mesmo dia em que divergências sobre a dívida de Washington surgiram dentro dos partidos. Ontem, acabou o dinheiro do governo dos EUA. Se o Congresso não autorizar a Casa Branca a se endividar além dos US$ 14,3 trilhões que já contraiu em empréstimos quase o PIB do país , contas deixarão de ser pagas.
Em evento no Council on Foreign Relations ontem, Lagarde disse que enquanto "o relógio está chegando cada vez mais perto" do prazo, Congresso e Executivo norte-americanos se dedicam a "alfinetadas políticas". Ela alertou que um eventual calote, pior resultado da falta de acordo, contaminaria a economia global. "É óbvio que as consequências não vão parar na fronteira", avisou. As "alfinetadas", trocadas há semanas e levadas ao ápice no domingo com o duelo de discursos do presidente Barack Obama (democrata) e do líder da Câmara John Boehner (republicano), agora surgem dentro dos partidos. Legisladores republicanos ameaçam votar contra a proposta mais recente de Boehner, e democratas estudando votar a favor.
"A questão do teto da dívida tem de ser resolvida", disse Lagarde. "Mas a consolidação fiscal deve ser tratada pelo médio e longo prazo, pois nenhum país consegue crescimento sustentável com a base tão desequilibrada", acrescentou. Ela disse que, embora os EUA precisem elaborar rapidamente um plano para apertar seu orçamento e aumentar a receita com o objetivo de controlar as finanças, os legisladores devem tomar cuidado para não serem precipitados nos cortes futuros. Segundo Lagarde, isso é especialmente verdade dada a probabilidade de os EUA estarem enfrentando problemas no mercado de trabalho. Elaborar um plano confiável pode ter poucos efeitos adversos sobre a demanda e possivelmente até impactos positivos, disse a autoridade.
Europa
A Europa, por sua vez, precisa implementar rapidamente as medidas prometidas pelos líderes na semana passada para fortalecer a governança econômica na zona do euro. O acordo para a Grécia mostrou que os líderes estão comprometidos com a zona do euro, "mas a turbulência pode facilmente ressurgir", afirmou Lagarde.
A diretora do FMI declarou que a crise de dívida soberana da Europa "revelou os riscos impostos por uma união econômica e monetária incompleta". A equipe do FMI tem afirmado que a Europa precisa se mover na direção do federalismo fiscal, mesmo se isso significar a perda de parte da soberania por alguns membros.
Lagarde disse que o FMI precisa de mais recursos para combater a crise. "A questão é: nós ainda temos o nível de recursos que agora é necessário e apropriado para solucionar as crises?", questionou Lagarde. "No futuro não muito distante nós provavelmente teremos de revisitar esse assunto", acrescentou.
Proposta republicana deve ser votada hoje
O plano apresentado pelo porta-voz da Câmara, o republicano John Boehner, para aumentar o teto da dívida e equilibrar o orçamento deve ir a votação hoje. A ideia de Boehner é subir o teto da dívida em etapas. Na primeira, agora, o limite seria esticado até o início do ano, mediante cortes de gastos de US$ 1,2 trilhão. Depois, haveria nova votação para outra extensão de um ano, e novos cortes de US$ 1,8 trilhão. O plano não prevê retomar os impostos suspensos desde a presidência de George W. Bush, maior ponto de atrito entre os dois partidos. Ontem, Obama repetiu a ameaça de veto se a proposta de Boehner passar pelo Congresso.
A líder da minoria democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, defendeu ontem outra proposta, apresentada pelo líder da maioria no Senado, o também democrata Harry Reid, que prevê o aumento do teto da dívida e a redução do déficit do país em um único movimento, em vez de forçar o Congresso a retomar o debate antes das eleições presidenciais de 2012.
Pelosi classificou como um "bom plano" a proposta de Reid para cortar US$ 2,7 trilhões do déficit na próxima década e elevar o teto da dívida, enfatizando que isso não levaria a mais um tenso debate no próximo ano. "O que eu mais gosto [no plano] é que ele nos leva até 2013, portanto a confiança que estamos tentando restaurar será restaurada por um período suficientemente longo e nós não teremos de passar por isso novamente em poucos meses", disse Pelosi.
Tanto Boehner quanto Reid têm sido criticados por colegas de partido: os republicanos afirmam que os cortes previstos por Boehner são insuficientes para equilibrar o Orçamento estima-se que os EUA precisem cortar US$ 4 trilhões em dez anos , e Reid também sofreu críticas internas ao sugerir um pacote sem aumento de impostos. Segundo a agência de notícias Reuters, o representante que tabula os votos do governo, Steny Hoyer, disse que "alguns democratas" podem votar com a oposição.



