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O cancelamento da compra de aviões brasileiros pelos Estados Unidos e a decisão da Índia de comprar aviões franceses Rafale influem na decisão do Brasil sobre a compra de 36 caças e favorecem Paris na disputa, segundo fontes de governo e analistas.

A força aérea americana anunciou abruptamente na terça-feira o cancelamento de um contrato de 355 milhões de dólares para a compra de 20 aviões Super Tucano, da brasileira Embraer, depois de uma ação legal de sua concorrente local Hawker Beechcraft Corp.

O governo brasileiro "recebeu com surpresa" a decisão dos Estados Unidos de cancelar esse contrato, e considera que a iniciativa não "contribui para o aprofundamento das relações de defesa entre os dois países", informou nesta quinta-feira a chancelaria. O fato ocorre um mês antes da viagem da presidente Dilma Rousseff a Washington, prevista para 9 de abril.

A anulação "afetará" e "será levada em conta" na decisão brasileira para a compra de 36 aviões caças, por 5 bilhões de dólares, pela qual competem o Rafale, da francesa Dassault, o F/A-18 Super Hornet, da americana Boeing, e o Gripen NG, da sueca Saab, completou uma fonte do governo brasileiro à AFP.

O chefe da força aérea americana, Norton Schwartz, qualificou na quarta-feira de "vergonha" o cancelamento e se comprometeu a renovar rapidamente a licitação.

Nesta quinta-feira, o número dois do departamento americano de Estado, William Burns, assegurou no Rio de Janeiro que seu país "continua interessado" em comprar esses 20 aviões de ataque da Embraer, que devem equipar a nova força aérea afegã.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, reativou a adormecida licitação brasileira para a compra de caças, que tinha sido adiada no ano passado devido à crise, ao anunciar neste mês que a presidente Dilma Rousseff poderá tomar uma decisão neste semestre.

O governo brasileiro prevê decidir depois das viagens de Dilma à Índia, no fim de março, e aos Estados Unidos, em abril, e uma vez conhecido o resultado das eleições francesas em maio, "três fatores" que afetarão a decisão, segundo a fonte.

A Índia decidiu em fevereiro entrar em negociações exclusivas com a França para comprar 126 caças Rafale, em meio a uma licitação estimada em 12 bilhões de dólares.

Poucos dias depois, o ministro da Defesa empreendeu uma viagem à Índia. Amorim reconheceu o interesse pela compra indiana, apesar de assegurar que o Brasil não chegou a uma decisão. "É muito importante que o Brasil troque informações (com Índia), mas não quer dizer que a decisão venha a ser a mesma".

"O Rafale ganhou muitos pontos com esse contrato na Índia", disse à AFP o diretor do site especializado Defesanet, Nelson During. Mas também advertiu que "os três aviões têm um bom histórico, e o Gripen também ganhou pontos com uma recente venda à Suíça".

"Se a decisão do Brasil pelos caças fosse esta semana, o avião F18 teria perdido muitos pontos, mas não sabemos o que acontecerá em breve, pelo que no longo prazo é difícil definir o impacto", avaliou o especialista.

Mas para o analista militar e general da reserva Alvaro Pinheiro, "tudo dependerá da negociação que a Índia fizer" para a compra dos Rafale da França: o preço final e a real transferência de tecnologia que representar.

"O Brasil não definiu o caça (que vai adquirir); houve uma aproximação maior com o Rafale, mas não quer dizer que ganhou", disse à AFP.

O Brasil exige dos fabricantes a transferência de tecnologia e a possibilidade de produzir os aviões no país. Nesse aspecto, os analistas e o própio governo sempre apontaram os franceses como favoritos, já que os brasileiros desconfiam das intenções americanas. Mas quanto aos preços, destacam que os melhores são os dos Estados Unidos.

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