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Perspectivas

Freada no crescimento é o primeiro item da agenda de 2009

Na melhor das hipóteses, a expansão da economia deve cair pela metade neste ano. Mas, perto da recessão prevista para países desenvolvidos e alguns emergentes, o cenário não é tão sombrio

Visto da porta de entrada, 2009 tem na agenda um grande acontecimento – a desaceleração da economia. Completam a lista de fatos que marcarão 2009 a chegada de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos e as discussões sobre como lidar com o aquecimento global. Para o Brasil, o três temas – economia, Obama e aquecimento global – são importantes, mas já está claro que a freada no ritmo do crescimento chegou na frente.

"2009 vai ser um ano muito difícil, com crescimento mundial perto de zero, o que terá um efeito muito relevante para o Brasil", diz André Loes, economista-chefe do banco HSBC. "A desaceleração será rápida por aqui, parecido com o que aconteceu em 2001, quando tivemos o apagão. É como se o chão sumisse de uma hora para a outra."

A freada da economia deu as caras ainda nos últimos três meses de 2008. Empresas reclamavam que o crédito ficou caro e escasso. Exportadores viram as encomendas rarearem, mesmo com o real mais fraco – o que, em teoria, aumenta a competitividade dos produtos brasileiros. Produtores agrícolas passaram a trabalhar com um cenário de preços em queda e custos altos. O ritmo de geração de empregos perdeu fôlego. O consumidor ficou mais cuidadoso. Agora, todas essas tendências se consolidam. E ninguém faz uma aposta firme sobre quando elas vão se reverter.

"Há uma grande diversidade de opiniões sobre o tamanho da desaceleração, mas é consenso que será forte", diz Éverton Gonçalves, assessor econômico da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). As previsões do mercado nas últimas semanas têm ficado mais pessimistas. Fala-se de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2% e 2,5% – menos da metade dos 5,6% de 2008.

Um ano de crescimento econômico menor é como um passo para o lado. O período da bonança, entre 2006 e 2008, foi acompanhado de redução do desemprego, aumento na renda e melhor distribuição da riqueza. Calcula-se que é necessária uma expansão do PIB entre 4% e 4,5% ao ano para que não aumente a proporção de pessoas sem emprego no Brasil. "Agora temos um cenário de pessimismo. As empresas atingidas pela crise fazem cortes, gerando desemprego, o que é um efeito muito grave", afirma o economista Carlos Ilton Cleto, professor da FAE Business School.

Proteção

O cenário para 2009 parece sombrio. As economias desenvolvidas, segundo a última previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) terão uma retração de 0,3% – número que deve piorar nos próximos meses. Se comparada à recessão que assombra as economias maduras, uma desaceleração não é o fim do mundo. "O Brasil está em uma situação confortável se comparado com a maioria dos países", diz André Loes, do HSBC. Para Ilton Cleto, da FAE, a economia brasileira é mais promissora neste momento do que a do resto dos emergentes.

As razões para essa análise otimista (pelo menos em relação ao tamanho da crise global) são o fato de a economia brasileira ser relativamente fechada e o espaço de manobra conquistado pelo Banco Central, apesar das acusações de conservadorismo. Em um relatório recente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) previu que as exportações do Brasil cairão de US$ 200 bilhões em 2008 para US$ 170 bilhões em 2009. Parece muito, mas é menos de 2% do PIB. Países que dependem mais do comércio internacional, como a China e os produtores de petróleo, devem perder bem mais do que isso.

No front interno, o BC entra em 2009 sem ainda ter usado sua principal arma para lidar com a desaceleração, a taxa básica de juros. Em parte, o conservadorismo da instituição vem do receio de que a desvalorização cambial continue e que ela se transmita para os preços, elevando a inflação. Aos poucos, porém, esse risco perde força. "Depois que passar esse momento de ajuste forte da crise, não haverá razão para o dólar ficar acima de R$ 2,30", aponta Loes. Com a inflação caminhando para a meta (que é de IPCA de 4,5%, com folga de dois pontos) e o câmbio menos volátil, os juros cairão mais rapidamente.

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