Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
comércio

Frigoríficos temem mais dificuldades após ação de supermercados

Supermercados anunciaram suspensão de compras de carne com origem em área desmatadas no Pará

Frigoríficos brasileiros, em meio a um período difícil devido ao recente aperto no crédito e queda na demanda externa, temem mais dificuldades devido à questão ambiental e às restrições a animais de áreas da Amazônia Legal.

Na semana passada, supermercados como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour anunciaram a suspensão de compras de carne com origem em áreas desmatadas do Pará.

A decisão dos varejistas foi embasada em um relatório do Greenpeace e acatou recomendação do Ministério Público Federal do Pará.

Edivar Vilela de Queiroz, presidente do Sindifrio-SP, sindicato que reúne os frigoríficos do Estado de São Paulo, criticou a decisão dos supermercados porque, segundo ele, o boi criado no Pará, em sua maioria, está em "áreas consolidadas", ou seja, desmatadas há dezenas de décadas.

"As ONGs e o Ministério Público estão mal informados. A carne que vem da Amazônia não tem nada a ver com desmatamento. O produto é resultado de uma situação consolidada. A criação de gado ocorreu após o desmatamento", declarou Queiroz a jornalistas, após evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que reuniu também o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, nesta segunda-feira (15).

Para Queiroz, também presidente do Conselho de Administração do frigorífico Minerva, a radicalização das discussões poderia ter implicações para a indústria de carne de São Paulo, que atualmente depende da importação de bezerros e garrotes nascidos ao Norte do país.

"Sabemos que vem muito gado semipronto para ser terminado em São Paulo. Se não tivermos a cria, podemos ter problemas... São Paulo não cria mais... Vemos muita falácia sobre o problema."

Questionado sobre qual a dependência da indústria paulista do Pará, Queiroz evitou fazer comentários específicos.

"O Estado de São Paulo não produz mais bezerro, porque foi invadido pela cana. Então o que fazemos: trazemos os bezerros e engordamos com a cana. Um hectare de pasto no passado engordava três bois, um hectare (com subprodutos da cana) hoje engorda 100 cabeças."

De acordo com o empresário, "99 por cento" das propriedades rurais do Pará, o principal produtor de gado da região Norte, estão regularizadas, e não haveria problemas.

O Sindifrio está iniciando conversas com os supermercados para tentar reverter o embargo.

Stephanes concorda, Minc discorda

Para o ministro Stephanes, adotar uma medida geral, como fizeram os supermercados, não é algo correto, pois muitas propriedades do Pará operam já há 50 anos, e portanto não estariam impulsionando o desmatamento como se argumenta.

Mas o ministro trabalha em um sistema de identificação eletrônica dos bovinos do Pará, que prevê a implantação de guias eletrônicas de transporte de gado em associação com um monitoramento, por satélite, das propriedades fornecedoras do boi, o que evitaria novos desmatamentos. O sistema poderia começar a funcionar a partir de 2009, segundo Stephanes.

Ao mesmo tempo, o ministro propõe mudanças no Código Florestal brasileiro, argumentando que ele precisa ser atualizado, por se tratar de uma legislação de mais de 40 anos. A mudança na lei, segundo o ministro, visa "criar condições para o desmatamento zero na Amazônia".

Já o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, aprova a decisão dos supermercados e discordou mais uma vez de seu colega e também do representante do setor privado.

"Ela (a indústria) vai entrar na linha por causa do consumo consciente, por causa do boicote dos consumidores... O dia que o consumidor entrar nessa parada (contra o desmatamento), ela vai ser ganha. O melhor fiscal é o povo consciente", declarou Minc, observando que empresas que trabalham com couro também anunciaram boicote ao produto amazônico.

Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, a causa principal do desmatamento é a atuação de madeireiras ilegais. "Depois é que a terra é ocupada pela produção rural."

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.