• Carregando...
E190, avião da Embraer. | EMBRAER/DIVULGAÇÃO
E190, avião da Embraer.| Foto: EMBRAER/DIVULGAÇÃO

Nas fábricas da Embraer no interior de São Paulo, houve tanto comemoração quanto preocupação na quinta-feira (5), após os funcionários receberem o comunicado de que a brasileira e a Boeing haviam assinado um memorando de entendimento para criar uma nova companhia. “Teve gente eufórica, achando que vai ser transferido para os Estados Unidos. Mas a maior parte está receosa”, disse a engenheira Rozana Nogueira, diretora do sindicato da categoria do Estado de São Paulo (Seesp).

Segundo ela, a preocupação maior é com a manutenção do polo tecnológico em São José dos Campos, cidade em que fica a maior unidade fabril da companhia. “Vamos continuar como um centro de desenvolvimento de tecnologia ou virar apenas uma montadora?”, questionou.

LEIA TAMBÉM:Por que a Embraer é tida como estratégica pela Boeing?

Filé

Rozana lembrou ainda que há apreensão em relação ao que restará de forma independente na Embraer — os segmentos de aviação executiva e de Defesa. As duas áreas foram responsáveis por 42% da receita da companhia no ano passado. “A Boeing levou o filé. Como o restante vai sobreviver? É a área de Defesa que fomenta pesquisa. Depois, a tecnologia é embarcada na comercial”, acrescenta a engenheira, que trabalha há 19 anos da Embraer.

Em carta enviada nesta sexta-feira (6), ao presidente Michel Temer, os sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara pediram que o governo vete a operação de venda de 80% da área de jatos comerciais da Embraer para a Boeing.

Para as entidades, é responsabilidade do governo "agir em benefício da nação e vetar o processo de venda". "O poder público não pode se omitir num momento como este. É obrigação do presidente da República defender os interesses do nosso País, e não do mercado", afirma o diretor do Sindicato, Herbert Claros.

No documento, os sindicalistas solicitam reuniões para discutir a joint venture com Temer e também os presidentes da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira.

Ao contrário do que pretendem os sindicatos da região, o sindicato dos engenheiros não planeja pedir que o negócio seja vetado, de acordo com Rozana. “Vetar é quase uma utopia. É uma empresa privada. Mas temos preocupação de como a questão vai se desenrolar.”

Segundo outros trabalhadores ouvidos pela reportagem, o clima de receio e insegurança nas fábricas vem desde dezembro do ano passado, quando surgiram as primeiras notícias sobre as negociações.

Remanejamento

Há inquietações pessoais, disse Rozana, como em qual companhia cada trabalhador vai ficar — ela mesma exerce funções hoje tanto na área de aviação comercial como na militar — e se aqueles que forem transferidos para a nova companhia serão demitidos para depois serem recontratados. “Não sabemos de muita coisa além do que foi divulgado. Não sabemos como serão as transferências, se haverá demissões, se seremos demitidos e recontratados pela joint venture, são muitas as incertezas”, disse um engenheiro que não quis se identificar.

Um profissional da área de novos projetos da unidade de São José dos Campos disse apenas esperar que a empresa defina o quanto antes seu futuro. “Que agora comece a ficar mais claro, porque existiam muitos boatos que estavam nos consumindo”, desabafou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]