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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça (22) que há um claro incômodo dentro da autoridade monetária com a persistência da inflação acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2024 em 4,83%, ultrapassando o centro da meta de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
A inflação acumulada em 12 meses alcançou 5,48% em março de 2025, mantendo-se acima do teto previsto para o ano. De acordo com o Relatório Focus desta semana, o índice deve terminar o ano em 5,57%, novamente estourando a meta.
“Obviamente, estamos todos no BC incomodados por não estarmos cumprindo a meta. Mas estamos falando de um patamar de inflação muito inferior ao que vivíamos no período [pré-Plano Real] e, ao mesmo tempo, mais próximo das taxas observadas em economias avançadas e emergentes”, disse Galípolo em uma audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
O presidente do BC ressaltou que a inflação está “bastante disseminada” entre diferentes setores da economia, como bens industriais e serviços, e que não se trata de um fenômeno pontual.
“Quando a gente olha para os preços, percebe que a inflação acima da meta está bastante disseminada e não é algo pontual. Tanto que a gente olha para o IPCA para segmentos mais voláteis e consegue enxergar uma inflação que está bastante acima da meta disseminada por vários produtos, sejam bens industriais ou sejam serviços”, afirmou pontuando que isso exige atenção e dificulta o controle e a previsibilidade do comportamento dos preços.
Outro ponto crítico apontado por Galípolo é a desancoragem das expectativas inflacionárias para os próximos anos, o que compromete a eficácia das ações do Banco Central. Segundo o economista, este cenário já vinha parcialmente ao longo de 2023 crescendo “para todos os vértices, tanto para 2025, 2026 e 2027, estando acima da meta”.
Nessa conjuntura, ele defendeu o papel do Banco Central como uma instituição que precisa agir com firmeza, ainda que isso contrarie o clima de otimismo em alguns momentos da economia. Para ele, é como se a autarquia fosse o “chato da festa”.
“Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa”, ilustrou.
Galípolo também avaliou que a economia brasileira, apesar da alta dos juros, continua aquecida, mas que é preciso ficar atento. Para ele, o funcionamento eficaz da política monetária depende de uma série de reformas estruturais, muitas delas fora da alçada do próprio Banco Central.
“Pode ser que alguns canais estejam entupidos, o que acaba exigindo doses maiores do remédio para obter o mesmo efeito”, pontuou.
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Outro fator que influencia a inflação no Brasil, segundo o presidente da autoridade monetária, é a depreciação cambial, especialmente no grupo de alimentação em domicílio, um dos mais sensíveis à variação do dólar. Além disso, Galípolo mencionou o impacto das medidas tarifárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como fonte de incerteza no cenário internacional.
“Se essa guerra tarifária escalar, podemos ter uma desaceleração mais abrupta e mais forte da economia global”, alertou.
Apesar dos desafios, Galípolo destacou o dinamismo da economia brasileira, sustentado não apenas pela força do setor agrícola, mas também por indicadores robustos da atividade econômica. Contudo, ele reforçou que o controle da inflação e a recondução das expectativas ao centro da meta seguem sendo prioridade do Banco Central, mesmo que isso implique manter uma política monetária mais restritiva por mais tempo.








