Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Contas Públicas

Governo admite manobra para chegar ao superávit primário

País deverá usar mecanismo que permite abater investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para que a meta do setor público seja alcançada brasília

Obra do PAC na Vila Guaratuba, em Piraquara: governo usa investimentos para atingir meta do superávit primário do setor público, de 3,1% do PIB | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Obra do PAC na Vila Guaratuba, em Piraquara: governo usa investimentos para atingir meta do superávit primário do setor público, de 3,1% do PIB (Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo)

O governo precisará abater gastos com investimentos para fechar suas contas neste ano. Depois de muito insistir em que cumpriria a meta oficial de superávit primário (economia feita para cobrir gastos com juros) de 3,1% do PIB sem o uso de artifícios contábeis, a equipe econômica já admite que isso não será possível.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recuou, admitindo pela primeira vez a possibilidade de não cumprimento da meta cheia de superávit primário das contas do setor público em 2010. "Estamos trabalhando para o governo [Central] cumprir a meta cheia, mas há algumas dificuldades para estados e municípios. A União vai cumprir os 2,25%, mas não sei se serão atingidos os 3,1%", afirmou ontem. "É possível que tenhamos que usar o PPI [mecanismo que permite abater da meta investimentos] para cobrir estados e municípios", disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin.

Na prática, com o fraco desempenho de estados e municípios num ano eleitoral, o governo central –que inclui o Tesouro, a Previdência Social e o Banco Central– teria de fazer um esforço maior para que a meta consolidada fosse atingida. No entanto, o Tesouro não sabe nem se conseguirá dar a sua contribuição integralmente.

Ainda faltam R$ 13,5 bilhões para atingir o valor programado para o governo central em 2010. De janeiro a novembro, a economia está acumulada em R$ 62,8 bilhões e precisa atingir R$ 76,3 bilhões no ano.

Segundo Augustin, o superavit de dezembro deverá ser bastante positivo, "possivelmente de dois dígitos". Isso graças a um aumento na arrecadação que o secretário diz ser possível por causa de co-brança de tributos em atraso e repasse de dividendos das estatais.

Aliás, essas empresas controladas pela União –como Caixa Econômica, Banco do Brasil e BNDES– têm contribuído cada vez mais para o superávit. Não fosse a parcela do lucro que elas deixam de investir e repassam para o Tesouro, o resultado positivo de R$ 1 bilhão registrado em novembro seria ainda pior. Em novembro de 2009, o superávit foi de R$ 10,6 bilhões.

Somente no mês passado, as empresas estatais repassaram R$ 2,9 bilhões para os cofres do Tesouro. Desse valor, R$ 1,1 bilhão saiu da Caixa Econômica e R$ 670 milhões, do BNDES. No ano, a contribuição dos dividendos dessas empresas para o superavit primário já soma R$ 19,7 bilhões, mais do que a previsão inicial para todo o ano (R$ 19 bilhões).

Para Augustin, isso não é um problema. "Saudamos como positivo", diz. "Mostra que a União tem estatais com boa rentabilidade".

Reajustes

Para 2011, o secretário do Tesouro afirma que a tendência é cumprir a meta. Um dos fatores que irá contribuir para isso é o fato de que, nas contas do governo, os reajustes do funcionalismo não terão um impacto grande nos gastos com pessoal. "A despesa com pessoal já este ano será menor. A relação desses gastos com o PIB irá cair e isso é importante. Para 2011, não houve reajustes relevantes".

Questionado sobre se isso abre espaço para reajustes do Judiciário, ele diz que não. "O ano de 2011 é um ano de contenção e há esse entendimento por parte da sociedade e dos poderes", afirmou. "Será um ano de tranquilidade e comedimento na área de pessoal", emendou.

Indagado por jornalistas sobre a indignação de parte da população com o reajuste aprovado para os parlamentares, ministros e o presidente da República, Augustin disse que tem "a mesma opinião da sociedade", mas considerou que o aumento "tem um impacto menor" nas contas públicas.

Novembro

O Tesouro divulgou que o governo central registrou superávit primário de R$ 1,093 bilhão em novembro, resultado 85,9% inferior ao superávit de R$ 7,797 bilhões apresentado em outubro.

O resultado do mês passado é ainda cerca de dez vezes inferior ao superávit primário obtido pelo do governo central em novembro de 2009, de R$ 10,712 bilhões. Essa diferença, segundo Augustin, deve-se ao fato de as receitas de novembro do ano passado terem ficado "atipicamente acima" devido a depósitos judiciais.

O superavit acumulado no ano somou R$ 64,558 bilhões, o equivalente a 1,95% do PIB (Produto Interno Bruto). No acumulado de janeiro a novembro do ano passado, o governo central, que compreende Tesouro, Previdência e Banco Central, havia apurado superavit primário de R$ 37,515 bilhões.

O saldo positivo do governo em novembro foi atingido porque o Tesouro Nacional teve um superavit primário de R$ 5,669 bilhões no mês.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.