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De acordo com Gustavo Loyola, que foi presidente do Banco Central (BC) nos primeiros anos do Plano Real, o governo Lula está anulando parte do esforço do BC para controlar a inflação. Na visão de Loyola, as medidas fiscais adotadas pelo governo contrastam com o discurso de trazer a inflação para o centro da meta.
“O governo, liderado por Lula, tem o diagnóstico equivocado, achando que a inflação se controla com medidas intervencionistas. Mas, elevando gastos fiscais gera-se ambiente macroeconômico cada vez mais desfavorável à redução da inflação”, disse Loyola em entrevista concedida ao jornal O Globo, nesta quinta-feira (6).
“Na medida em que o governo toma medidas fiscais e creditícias que incentivam a demanda, acaba anulando parte do esforço do BC. Além disso, como não existe uma política fiscal vista pelos analistas como consistente com as necessidades do endividamento público, isso afeta a cotação do real, que se mantém desvalorizado, e exerce pressão altista sobre os preços. É uma situação que preocupa na medida em que o BC virou um cavaleiro solitário lutando contra a inflação”, acrescentou.
Paralelo com governo Dilma
O ex-presidente do BC fez um paralelo entre o governo Lula e o governo Dilma e disse que Lula está dando um “tiro no pé” ao contratar inflação e juros altos para 2026, ano eleitoral.
“Isso tem lembrado muito o fim do primeiro mandato da presidente Dilma (Rousseff), em que ela fez de tudo para tentar segurar a inflação artificialmente. Foi reeleita, depois tentou corrigir esses equívocos e acabou se enrolando toda, inclusive com o crime de responsabilidade fiscal, que, junto com a perda de popularidade, acabou levando ao impeachment. O presidente e seus auxiliares têm atrapalhado o combate à inflação”, afirmou Loyola.
Para Loyola, o governo deveria “esfriar a economia” e usar a política fiscal para ajudar o Banco Central.
“Quanto mais a política fiscal é expansionista, mais a política monetária tem que ser contracionista. Isso acaba significando juros mais altos. Então se acaba prejudicando a economia como um todo, para eventualmente beneficiar um ou outro segmento”, disse.
Declarações de Haddad sobre inflação foram "inoportunas"
Loyola ainda classificou como “inoportunas” as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem afirmado que inflação de 4% ou 5% é “normal”.
“Não é para ficar confortável com 5% de inflação. É para estar preocupado e buscando reduzi-la a patamares internacionais, entre 2% e 3%. O ministro talvez tenha cometido esse erro porque quisesse tirar um pouco do sentimento de apavoramento, de crise imediata, que de fato não existe”, concluiu.
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