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Energia

Governo federal descarta uso de mina do Paraná

Na década de 70, quando foi assinado o acordo nuclear com a Alemanha, as reservas conhecidas de urânio no Brasil não passavam de 11 mil toneladas, distribuídas em duas minas: uma em Poços de Caldas (MG) e a outra em Figueira, pequeno município do Norte Pioneiro do Paraná, hoje com 8 mil habitantes. Atualmente, as duas estão relegadas. Poços de Caldas foi explorada entre 1981 e 1997, e, praticamente esgotada, está fechada desde então. A mina de Figueira, por sua vez, nunca chegou a ser usada – e, de acordo com o governo federal, deve permanecer assim mesmo se executado o plano de erguer Angra 3 e mais quatro usinas nucleares até 2030.

A explicação para isso está no tamanho da reserva – com 6 mil toneladas, a de Figueira é considerada pequena frente às outras minas descobertas após o acordo Brasil-Alemanha –, e no alto custo de produção. "Os principais estudos em Figueira foram feitos no início da década de 80. Chegamos a fazer uma galeria exploratória, mas o projeto não evoluiu porque na época nossa demanda por urânio era muito pequena, e explorá-la custava muito caro. Aliás, ainda custa", explica Luiz Felipe da Silva, assessor especial da presidência da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal responsável pela produção de urânio no país. "Em Figueira, o urânio está associado a arenito e carvão, o que exige um tratamento mais complexo. Por isso, essa mina foi deixada em 'stand by', e certamente não está entre as prioridades."

Abastecimento

Com reservas estimadas em 309 mil toneladas, o Brasil é dono da sexta maior reserva de urânio do mundo, que lhe permite uma duradoura auto-suficiência. Atualmente, o abastecimento de Angra 1 e 2 consome cerca de 400 toneladas por ano, volume que deve subir para até 700 toneladas a partir de 2014, quando Angra 3 for acionada. A demanda dos dois reatores em operação é suprida pela mina de Caetité, na Bahia, que tem aproximadamente 100 mil toneladas.

Em breve, deve ter início a exploração da maior mina do país, em Santa Quitéria, no Ceará, com reserva de 140 mil toneladas. Nela, o urânio está associado a fosfato, e, com a decisão do governo de retomar Angra 3, a INB fechou há alguns meses parceria com uma fabricante de fertilizantes para a exploração conjunta da área. De acordo com o assessor especial da INB, também há projetos para a expansão da produção na Bahia.

Dependência

Apesar de sua grande reserva, o Brasil ainda depende de outros países para a transformação de urânio em combustível nuclear. Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), explica que a pequena demanda brasileira não justifica enriquecer o minério aqui mesmo, embora o país já tenha a tecnologia e projetos-piloto nessa área, desenvolvidos pela Marinha. Com Angra 3, o enriquecimento será viável.

"Hoje o Brasil extrai e purifica o urânio e, em seguida, remete para o exterior. Depois recebe as pastilhas de urânio enriquecido. É um processo que custa caro, mas, para enriquecer por aqui, é necessário um número mínimo de centrífugas. E, para ter esse número, são necessários três reatores, o que o país terá com a conclusão de Angra 3."

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