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Tribunal de contas

Governo pede e TCU adia decisão sobre portos

Órgão retirou da pauta um processo que aponta irregularidades na atuação de quatro terminais privativos no País

Às vésperas do anúncio pelo governo das medidas de estímulo ao setor portuário, o Tribunal de Contas da União (TCU) retirou da pauta um processo que aponta irregularidades na atuação de quatro terminais privativos no País. O adiamento, segundo apurou a Agência Estado, foi uma determinação do governo para evitar ruídos que tumultuassem a divulgação do pacote.

Uma fonte no gabinete do relator admite a intervenção do governo no julgamento do TCU. O adiamento foi decidido após um telefonema da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao relator do processo, o ministro do TCU Raimundo Carreiro. "É uma questão de não perder tempo. Imagina se o TCU faz uma série de recomendações e a MP já as contempla? É técnico. Perde o objeto. Por isso o ministro atendeu o pedido", diz a fonte.

Na quarta-feira da semana passada (28), logo após a sessão do TCU, Ary Braga, a chefe de gabinete do ministro Raimundo Carreiro, revelou a um interlocutor a orientação do governo para que o caso saísse do circuito até que as novas regras do setor viessem a público. O ministro já havia preparado o seu voto. Procurada pela Agência Estado, a assessoria da Casa Civil não se manifestou.

Na prática, a recomendação seria que a Antaq tomasse providências para regularizar a situação desses terminais. Entre elas, estabelecer os volumes mínimos de carga própria a ser movimentada por eles e como solucionar a questão para aqueles autorizados antes da Resolução 517/2005, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), e o decreto 6.620/08, que criou essa restrição aos terminais privativos. A decisão do TCU seria embasada no marco regulatório pré-pacote, o que poderia abrir brecha para questionamentos.

Em nota, o TCU confirmou que foi informado pelo ministério sobre o pacote e diante de uma possível alternação no desfecho do processo, optou por aguardar o novo marco regulatório. Essa foi a segunda vez que o caso foi retirado de pauta pelo relator desde setembro, quando a área técnica do TCU concluiu o parecer sobre a ilegalidade das atividades nesses portos. Fontes no setor argumentam que o relatório técnico está bem completo e não haveria motivos para a demora no julgamento. Os alvos do TCU são os terminais de Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport, SP), Portonave (SC), Cotegipe (BA) e Itapoá (SC).

O assunto foi encaminhado ao TCU pela Federação Nacional dos Portuários (FNP), em 2009. A briga de entidades como a Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres Públicos (Abratec) contra esses terminais privativos de uso misto (TUPM) é antiga. Elas pedem isonomia, alegando que, apesar de autorizados pela Antaq como privativos, eles operam carga de terceiros, prestando um serviço público.

Mesmo sem comprovar a operação de carga própria relevante, esses terminais de uso misto operam sob regras mais flexíveis, enquanto os terminais públicos arrendados à iniciativa privada têm ônus, como pagar arrendamento à União.

A interferência da ministra do julgamento do TCU ocorreu algumas semanas após o escândalo da máfia dos pareceres, desvendado pela Operação Porto Seguro, ter vindo à tona. Um dos maiores negócios flagrados na investigação foi o complexo portuário da Ilha de Bagres (São Paulo) do ex-senador Gilberto Miranda. No cargo de advogado geral adjunto da União, José Weber Holanda, teria ajudado o ex-senador na aprovação do projeto de um complexo portuário de R$ 2 bilhões na ilha de Bagres, área de proteção permanente ao lado do porto de Santos. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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