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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não mudaria nada na forma como foi o arcabouço fiscal foi aprovado em 2023 e afirmou que o governo Lula deve “evitar aventura” na economia sob o risco de vencer a eleição em 2026 e não “conseguir administrar” um novo mandato ou perder e “deixar um legado muito ruim para o país”.
Questionado sobre uma declaração recente em que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que é necessário mudar alguns parâmetros do arcabouço, Haddad concordou com a ministra em relação à adequação de parâmetros, mas disse ser contrário a uma mudança na “arquitetura” do arcabouço.
“Acho que a arquitetura foi muito bem vista por especialistas, por muita gente fora do Brasil, pelo Banco Mundial, FMI, agência de risco, e eu penso que todo mundo considera uma arquitetura robusta. Agora, ninguém discorda que você vai ter que fazer ajuste na máquina”, afirmou Haddad.
O ministro também disse que na sua visão a equipe econômica está “ajustando as contas” do governo e “perseguindo as metas”. Apesar da visão positiva do futuro, Haddad pediu mais comprometimento dos outros Poderes com a política econômica do governo Lula.
“Não vai ser um ministério que vai salvar o país. Isso é uma harmonia entre os três Poderes. Nós dependemos muito do Legislativo para continuar perseguindo essas metas, mas eu penso que o ambiente que foi criado por esse governo até aqui tem rendido bons resultados”, afirmou o ministro durante participação em evento organizado pelo jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira (24).
Haddad mostra incômodo com críticas sobre gastos
Ao defender a atual política econômica, o ministro também criticou a publicação de editoriais em jornais que citam a “gastança do governo” e cobrou visão mais “generosa” sobre o futuro do país.
“Qual era o gasto médio como proporção do PIB no período pré-pandemia? Era de 19,5% do PIB. Inclusive, em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, foi de 19,5% do PIB de gasto público [...] No ano passado, considerando o Rio Grande do Sul, foi de 18,7%. E aí eu vejo em editoriais: a gastança do governo. Onde que está a gastança? Nós reduzimos [os gastos] em quase 1% do PIB”, afirmou.
“E na receita, eu herdei um orçamento que previa 17% do PIB. Completamente incompatível com os gastos contratados. Tivemos que aprovar a PEC da Transição e repor a base fiscal para honrar as despesas contratadas. No ano passado, a receita, como proporção do PIB, chegou a 18,2%”, completou o ministro.
As críticas de Haddad também se estenderam ao Executivo, que segundo o ministro, precisa entender o papel da equipe econômica.
“Todo mundo precisa ajudar. O Judiciário precisa ajudar, o Legislativo precisa ajudar e o Executivo precisa se ajudar, porque nem sempre se tem a compreensão da necessidade, mas o papel do Planejamento e da Fazenda é justamente este: sensibilizar para a gente olhar o país com um pouco mais de generosidade em seu futuro”, disse.
Elevação da taxa de juros
Questionado sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou a taxa básica de juros em 1 ponto, indo a 14,25%, Haddad disse que acredita em uma “surpresa positiva com a inflação deste ano”.
O ministro citou como elementos que contribuirão para essa surpresa positiva, a safra, o comportamento do câmbio e resultados da geopolítica, em referência aos Estados Unidos.
“Nós tivemos muita dificuldade no ano passado com o FED (Federal Reserve System). Quem acompanhou os debates sabe que já no final de 2023 havia uma percepção muito forte de que o FED começaria a cortar a taxa de juros a partir de março. Os mais pessimistas acreditavam que seria a partir de junho com um orçamento de 150 pontos. Pois, cortou só 50 pontos e ainda com ameaças retóricas de ter que aumentar. Isso deu uma desorganizada geral”, disse o ministro.
“Não acredito que essa má surpresa que tivemos no ano passado vai se repetir esse ano para o Brasil. Pode ser que nós tenhamos outros tipos de problemas”, completou.
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