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Taxação de Trump

Haddad diz que EUA “perderam o jogo” da globalização que eles mesmos criaram

Fernando Haddad
Ministro diz que Brasil avalia medidas de negociação, mas que o momento é de prudência. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, avalia que os Estados Unidos perderam a liderança no modelo de globalização que eles próprios ajudaram a estabelecer nas últimas décadas e que agora tentam mudar as regras numa resposta ao avanço da China, que une poder militar e econômico.

A análise ocorre dias depois do presidente norte-americano Donald Trump impor uma pesada taxação sobre dezenas de países que derrubou as bolsas de valores pelo mundo e drenou trilhões de dólares da economia.

“Quem armou as regras do jogo da globalização, nos anos 1980, foram basicamente os EUA. Quarenta anos depois, eles descobriram que perderam o jogo. E querem mudar as regras do jogo”, disse o ministro em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta terça (8).

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Haddad vê que a ascensão chinesa surpreendeu os Estados Unidos por sua abrangência estratégica, não apenas como uma potência econômica ou militar isoladamente, como o Japão ou a antiga União Soviética. Mas, sim, uma combinação de investimentos robustos em setores de alta tecnologia e influência crescente em mercados globais.

“É um país com 1,3 bilhão de habitantes e um PIB que cresce ainda fortemente. Que tem uma capacidade tecnológica invejável, inclusive em áreas em que os Estados Unidos se sentiam seguros, como a da inteligência artificial. Que faz investimentos vultosos onde são vulneráveis, como a indústria de chips. Eles [chineses] são realmente um elemento muito desafiador, como os Estados Unidos ainda não tinham conhecido”, disse o ministro.

O recente pacote de sobretaxas anunciado por Donald Trump, que atinge produtos de vários países, é interpretado por Haddad como uma tentativa norte-americana de recuperar influência econômica por meio de políticas protecionistas — uma guinada oposta ao discurso histórico de livre comércio defendido por Washington.

“O país que defendia o livre comércio, a OMC [Organização Mundial do Comércio], é o mesmo que hoje está adotando as políticas mercantilistas mais radicais desde há muito tempo”, pontuou.

Apesar do impacto negativo das novas tarifas, Haddad considerou que a América do Sul foi relativamente poupada. O continente recebeu a menor das sobretaxas, com aumento de 10% — exceto Venezuela e Guiana — o que, segundo o ministro, demonstra que os Estados Unidos enxergam a região como área vulnerável à influência chinesa.

O caso do Uruguai, que cogitou deixar o Mercosul para negociar diretamente com Pequim, é citado por Haddad como exemplo dessa tendência.

No caso brasileiro, o ministro destacou que as exportações seguem crescendo simultaneamente para os três principais blocos comerciais do mundo — EUA, Europa e Ásia, principalmente a própria China —, e que a sobretaxa americana sobre produtos nacionais foi recebida com alívio.

“As pessoas esperavam um cenário pior para o Brasil. E eu acredito que houve uma ponderação [dos Estados Unidos]”, avaliou.

A resposta do Brasil, segundo o ministro, será baseada no princípio da reciprocidade, mas com cautela. Ele lembrou que o Congresso aprovou uma lei nesse sentido, mesmo com uma suposta tentativa de obstrução pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL).

“Nós temos que ser tratados da forma como tratamos vocês. [...] O presidente Lula sempre deixou claro que não vai reagir apenas retoricamente, mas que vai agir com a prudência devida. Vai defender o trabalhador brasileiro, as indústrias brasileiras, vai exigir reciprocidade, mas tudo dentro da boa tradição diplomática brasileira”, completou.

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A possibilidade de medidas imediatas, no entanto, não está descartada, mas segue em análise pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Segundo Haddad, há espaço para ampliar as negociações, pois Brasil e Estados Unidos têm interesses comuns que podem ser explorados em acordos futuros.

“O Brasil está em uma posição relativamente vantajosa. Não temos dívida externa. Temos reservas cambiais. Temos um bom fluxo de comércio com os três maiores blocos econômicos do mundo. Não temos dependência da economia norte-americana”, arrematou.

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