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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira (29) que lamentou o vazamento da proposta do governo para ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda. Ele apontou que a divulgação de “informações incompletas” causou uma “leitura equivocada” do mercado.
A medida deveria ter sido anunciada oficialmente durante o pronunciamento feito pelo ministro na noite de quarta (27), junto com o pacote de ajuste fiscal. No entanto, se tornou pública horas antes e influenciou a cotação do dólar, que bateu R$ 5,91 naquele dia. Questionados sobre as críticas por anunciar o corte de gastos junto com a mudança no IR, Haddad destacou que o “pior” foi o vazamento.
“Eu lamentei o vazamento, porque as pessoas, eu não sei de onde vazou, mas é muito desagradável quando você não percebe o nível de responsabilidade do agente público no patamar exigido pelo seu mandato, pelo seu exercício da sua função”, afirmou em entrevista à Record News.
“Você tem que ser muito cioso de que, quando você vaza uma informação de governo sem que a divulgação seja feita com a pompa e circunstância devidas, em respeito ao cidadão, você vai ter problema de leitura”, acrescentou.
O ministro disse que ficou contrariado com a situação e apontou que não adianta culpar o mercado financeiro pela reação. “Não adianta se queixar do mercado: ‘Ah, o mercado leu errado’. Cuida da comunicação, não deixa a informação vazar, quando vazar tem uma autoridade constituída para explicar, e aí você não vai ter problema”, frisou.
A alteração no IR prevê a isenção para quem ganha de R$ 5 mil a R$ 6.980. Durante a entrevista, ele reforçou que a reforma da renda é neutra do ponto de vista fiscal. “O que quer dizer isso? Se nós demos isenção para quem ganha menos de R$ 5 mil, isso tem de ser compensado por quem ganha mais de R$ 50 mil e não paga. Então tem de encontrar um equilíbrio. As medidas fiscais, não. Essa é para conter a despesa mesmo”, disse.
Intervenção no dólar é "técnica", diz Haddad
Após a disparada do dólar nos últimos três dias, Haddad disse que a decisão de intervir na moeda é “sempre técnica” e cabe ao Banco Central. “[Alguém] De fora do Banco Central dizer: ‘Tem que intervir, não tem que intervir’, não é muito prudente”, afirmou.
Mais cedo, o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que a instituição só deve intervir se notar “algum tipo de disfuncionalidade” no mercado financeiro.
Nesta sexta, a moeda americana renovou o recorde nominal pelo terceiro dia consecutivo com a desconfiança sobre as medidas do governo. O dólar comercial fechou o pregão cotado a R$ 6 pela primeira vez na história.
Na quarta (27), a moeda americana atingiu R$ 5,91 após o vazamento sobre a ampliação da isenção do IR. No dia seguinte, bateu R$ 5,98.
Mudanças no pacote de corte de gastos
O ministro reiterou que poderá fazer mudanças no pacote de corte de gastos. “Teremos que fazer isso, porque nós temos uma regra que foi apelidada de novo arcabouço fiscal, mas na verdade são regras fiscais. Como é que a despesa tem que evoluir, como é que a receita tem que evoluir, e como é que essa diferença entre receita e despesa tem que diminuir, porque hoje a despesa está acima da receita, o que não é bom para nós nesse momento”, disse Haddad à Record News.
Ele destacou que o governo pretende fazer com a receita cresça acima da despesa, pois "contendo a despesa, nós vamos ter um equilíbrio fiscal que vai garantir justamente essa trajetória virtuosa que o povo brasileiro quer: emprego, uma renda cada vez melhor em virtude do esforço que cada geração faz para estudar mais, para trabalhar mais".