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Nem a confirmação da renúncia do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, foi capaz de acalmar os mercados internacionais e os juros de títulos soberanos da Itália atingiram níveis recordes nesta quarta-feira (9), arrastando as bolsas de valores para baixo.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou 2,50%, aos 57.549 pontos, com um aprofundamento da queda no fim dos pregões aqui e nos Estados Unidos. É a maior queda no Ibovespa desde 3 de outubro.

Em Nova York, o Dow Jones perdeu 3,18%, a 11.783,59 pontos, e o Nasdaq recuou 3,86%, para 2.622,19 pontos.

O FTSE MIB, principal índice de Bolsa de Milão, fechou em queda de 3,78%, após registrar recuo de 5,11% na mínima do dia.

O dólar comercial disparou no fim do pregão e fechou na máxima do dia, com alta de 2,07% ante o real, a R$ 1,774 na compra e a R$ 1,776 na venda, a maioria valorização desde 17 de outubro.

Boatos sobre mudanças na zona do euro estão por trás do aprofundamento das quedas no fim dos pregões. A agência Bloomberg News creditou ao jornal alemão "Handelsblatt" a informação de que o partido da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pretende tornar possível a saída de alguns países da área do euro.

As quedas nas bolsas já vinham impulsionadas pelo aumento da taxa de rendimento (yield) dos títulos italianos com vencimento em 10 anos, que atingiu 7,25% ao ano. Quando as taxas bateram nesses níveis na Irlanda e em Portugal, ficou irrevogável a liberação de pacotes de resgate financeiro. Nesta quarta-feira, o yield dos títulos italianos só perderam para países já resgatados financeiramente pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), como Grécia (25,18%), que se prepara para um calote parcial da sua dívida, Portugal (11,03%) e Irlanda (7,86%).

A decisão da LCH.Clearnet (uma clearing house, empresa que garante transações entre investidores) de aumentar, para seus clientes, as taxas de depósito necessárias para negociar com títulos italianos impulsionou as taxas de rendimento para cima. A maior clearing house italiana anunciou decisão semelhante, segundo a agência Reuters.

O aumento da taxa de rendimento de títulos públicos demonstra desconfiança. Quando investidores acreditam que um país terá dificuldades para pagar sua dívida, cobram maior retorno para investir em seus títulos, pois a aplicação terá maior risco.

Bolsas europeias fecham em queda

A situação da Itália arrastou as bolsas europeias, que fecharam em baixa. Em Londres, o FTSE 100 recuou 1,92%. Em Paris, o CAC 40 perdeu 2,17%. Em Frankfurt, o DAX caiu 2,21%. Em Madri, o Ibex 35 retrocedeu 2,09%.

Para o economista-chefe da Legan Asset Management, Fausto Gouveia, o agravamento da situação da Itália são os últimos capítulos da crise que vem se arrastando há tempos na Europa e começou com o caso da Grécia. A reação negativa dos investidores demonstra o temor de mais demora para se chegar a soluções, pois há a perspectiva de que o impasse político na Itália se arraste por mais tempo.

"A falta de proatividade dos líderes europeus para resolver a crise já vem incomodando os mercados e as consequências disso já vinham sendo considerados por investidores", analisa Gouveia.

O economista destaca, contudo, as diferenças entre os casos da Itália e os de Grécia, Portugal e Irlanda. Segundo Gouveia, o tamanho e a diversificação da economia italiana garantem maior capacidade de "gerar caixa". Países como Grécia e Espanha (vista como a próxima "bola da vez"), por exemplo, são dependentes do turismo, enquanto a Itália possui parque industrial diversificado.

"Por outro lado, uma queda da Itália causaria estragos muito maiores", pondera Gouveia, citando o risco para o sistema bancário europeu como o maior dos problemas.

O estrago maior está diretamente relacionado com o tamanho da dívida da Itália. Segundo a Bloomberg News, o montante chega a 1,9 trilhão de euros, mais do que a soma das dívidas de Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha.

Além disso, acrescenta a economista-chefe do BNY Mellon ARX, Solange Srour, mesmo a economia italiana sendo maior e mais diversificada do que as dos países periféricos da Europa, não tem havido espaço para crescimento econômico nos últimos anos. Embora a Itália tenha pauta de exportações mais diversificada, o país não pode se beneficiar disso porque o euro é moeda forte.

"O fato de a economia ser diversificada não ajuda diante do baixo crescimento e da necessidade de austeridade fiscal", afirma Solange.

Já o estrategista de varejo da corretora Ágora, José Francisco Cataldo, completa ainda que a Grécia segue contribuindo para acrescentar incertezas no cenário. A confirmação do nome do novo primeiro-ministro, para liderar um governo provisório, é esperada para esta quarta-feira.

"Ontem (terça-feira) houve animação com a saída de Berlusconi, mas hoje não há nada mais de concreto sobre o novo governo", diz Cataldo.

Nas bolsas do exterior, as ações dos bancos puxaram as quedas. Na Bovespa, porém, o setor teve desempenho semelhante à média e, mais uma vez, os papéis mais negociados puxaram o Ibovespa para baixo. Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) recuou 4,23%, a R$ 21,46, Vale PNA perdeu 1,57%, a R$ 41,78, e OGX Petróleo ON (ordinária, com voto) caiu 3,25%, a R$ 13,95.

Dólar em alta com euro em baixa

No mercado de câmbio, o efeito do aumento do risco da dívida italiana é o fortalecimento do dólar em relação à maioria das moedas. O euro se destaca, caindo 1,74% frente à moeda americana, segundo a Bloomberg News. No Brasil, depois de quatro pregões seguidos com oscilações mais comedidas (sempre abaixo de 0,50%, para cima ou para baixo), o dólar voltou a subir forte, seguindo o movimento externo, segundo Solange, do BNY Mellon ARX.

Para o diretor de câmbio da corretora Renova, Carlos Alberto Abdalla, com a Itália em foco, a crise das dívidas soberanas na Europa começou a ficar realmente séria, em novo patamar. Ao afetar a zona do euro, a crise leva a uma mudança no mercado internacional de moeda, com o dólar ganhando força.

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