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Emprego

Incentivo fiscal para contratar negros

Quase metade da população brasileira é formada por pessoas que se declaram negras – 45% do total, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Paraná, esse porcentual é de cerca de 20%. Concentração que não se reflete no quadro funcional da maioria das empresas brasileiras. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2002, os negros são 23,4% dos funcionários das 500 maiores empresas do país. "Os números se mantêm e se repetem nas pequenas e médias", afirma a socióloga e presidente do Instituto de Pesquisa da Afrodescendência (Ipad), Marcilene Garcia de Souza. Pelo mesmo estudo, eles ocupam 13,5% dos cargos de chefia, 8,8% das gerências e 1,8% entre os executivos.

Aguardando aprovação do Congresso Nacional, um projeto de lei iniciado no ano 2000 pretende equilibrar estes porcentuais com a criação do Estatuto da Igualdade Racial. Sua versão original foi aprovada em 2002, com modificações pelo Senado. Agora ele deve ser debatido no plenário da Câmara. O Estatuto prevê, entre outras medidas, incentivos fiscais às empresas com mais de 20 empregados que mantenham uma cota de pelo menos 20% de empregados afro-brasileiros. A inclusão de negros já vem sendo discutida há pelos menos dois anos nas universidades – quando entrou em vigor o polêmico sistema de cotas no vestibular. "A adoção de cotas também para o mercado de trabalho pode ser uma das medidas para promover a inclusão", diz.

O aeronauta José Eugênio Cláudio espera que essa reparação aconteça logo. Depois de muitos anos batalhando pela formação de piloto, ele conta que viveu inúmeras situações em que se sentiu descriminado pela sua cor. "Não posso garantir que não fui contratado por ser negro. Mas vi muitas outras pessoas sendo contratadas, em situações que eu também estava capacitado." Há alguns anos Cláudio abandonou a área e buscou ocupação em outros segmentos. "Não me considero empregado. Estou fazendo um bico, mas procurando um emprego melhor para poder renovar minha carteira e voltar à aviação."

O aeronauta acredita que o Estatuto pode ser um caminho para diminuir o preconceito. "Toda ação é válida porque estamos bem isolados na sociedade", diz.

Exemplos

Independente da aprovação ou não da lei, algumas empresas já admitem metas de inclusão de negros em seus quadros de funcionários e criam ações para inibir o preconceito. É o caso, por exemplo, do banco HSBC, cuja administração nacional está instalada em Curitiba.

Em parceria com o próprio Ipad, o banco está selecionando estagiários negros, com salário de R$ 1,2 mil. Segundo o departamento de Recursos Humanos da empresa, uma das políticas do grupo HSBC é oferecer oportunidades iguais a todas as pessoas, independente de raça, etnia ou religião. Por isso, segundo o RH da empresa, a filial brasileira do banco vai promover esta e outras várias ações relacionadas à promoção da diversidade ao longo deste ano.

No Boticário, as ações para inclusão começaram há pelo menos quatro anos, segundo conta a gerente de Responsabilidade Social da empresa, Márcia Vaz. "Não é filantropia ou assistencialismo. Contratamos sempre por competência, independente da aparência."

Segundo Márcia, a preocupação com a questão transpõe os muros da companhia. Como em muitos casos a seleção é feita por empresas terceirizadas, o Boticário realizou uma série de ações junto aos seus parceiros. "Tínhamos que garantir que os recrutadores também não tivessem nenhum tipo de preconceito."

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