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Bernardo Fedalto, da Volvo: no fim do ano passado, 430 demissões; agora, 250 contratações e um novo turno | Divulgação
Bernardo Fedalto, da Volvo: no fim do ano passado, 430 demissões; agora, 250 contratações e um novo turno| Foto: Divulgação

Atrás do prejuízo

Perdas da crise ainda persistem

Apesar da retomada, a indústria ainda não acertou as contas com o emprego e não recuperou todas as vagas perdidas com a crise. Entre novembro e dezembro do ano passado, foram fechados 354 mil empregos pelo setor no país. Desses, apenas 137 mil foram reabertos, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. No Paraná, o setor gerou 23,4 mil empregos nos dez meses de 2009, insuficiente para compensar as perdas do ano passado, quando foram fechadas 30,4 mil vagas.

Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, a indústria somente deve voltar aos patamares de geração de emprego de antes da crise em meados de 2010. De acordo com ele, a indústria fez um corte severo no emprego e em alguns casos precipitado. "Foi uma operação de proteção rápida e intensa que se justificou apenas parcialmente", afirma.

No acumulado do ano, o setor de alimentos lidera o saldo positivo de vagas no Paraná, com 16,1 mil empregos. Em seguida vêm os setores têxtil e de vestuário (3,3 mil) e química, farmacêutica e veterinária, com 2 mil vagas. Em compensação, material de transporte acumula um saldo negativo de 264 empregos e o setor de madeira e mobiliário encerrou 1271 vagas.

As empresas começam a dar sinais mais consistentes de que deixaram a crise para trás nesta reta final de 2009. Com boas perspectivas para o próximo ano, as empresas voltaram a contratar, estão reforçando o quadro de temporários, adotando horas-extras e até mesmo diminuindo o período de folgas de fim de ano para atender o reaquecimento da demanda. Nada que lembre o cenário do fim de 2008, quando a crise econômica afetou as vendas e provocou uma onda de férias coletivas e demissões.A Volvo cancelou, pela primeira vez, as férias coletivas de fim de ano na sua fábrica da Cidade Industrial de Curitiba. As linhas de caminhões, ônibus, motores e cabines, que empregam cerca de mil pessoas, vão produzir direto, segundo Bernardo Fedalto, gerente de vendas da empresa. "Vamos parar apenas no Natal e no Ano Novo", diz. A combinação de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), redução dos juros no financiamento de veículos e a melhora na atividade econômica fizeram a empresa retomar o segundo turno de produção a partir de janeiro, com a contratação de 250 pessoas.

A Renault, com fábrica na região metropolitana de Curitiba, não vai parar a linha de produção de motores – que emprega 300 pessoas – e vai dar duas semanas de férias para os demais funcionários. No ano passado, no auge da crise, a montadora concedeu um mês de férias. A fábrica da Case New Holland (CNH) na Cidade Industrial de Curitiba só vai parar nos feriados de fim de ano. Além disso, iniciou o processo de contratação de 400 temporários para a linha de produção de colheitadeiras. Situação bem diferente da que a empresa viveu entre o fim de 2008 e o início deste ano, quando concedeu três períodos de férias coletivas a 70% dos cerca de 1,8 mil funcionários. No fim do ano passado, a empresa, ao invés de contratar, demitiu 400 pessoas que tinham contratos temporários.

"A partir do segundo semestre já sentimos uma retomada das vendas, com as medidas do governo que facilitaram o acesso à compra de máquinas. Esperamos que 2010 seja um ano normal, com previsão de uma boa safra. A questão será saber se as condições de financiamento vão continuar favoráveis", diz Francesco Pallaro, vice-presidente comercial para a América Latina.

Na Wap, fabricante de lavadoras de alta pressão, as incertezas e a oscilação do dólar fizeram a empresa suspender por 15 dias os negócios e a demitir funcionários no fim de 2008. "Não sabíamos que cotação adotar na hora da venda, já que boa parte dos nossos produtos são importados", lembra Edla Pavan, diretora comercial e de marketing. Agora, porém, a queda do valor da moeda norte-americana rende frutos. Com sede em São José dos Pinhais, a Wap contratou, nos últimos três meses, 24 pessoas, o que representa um aumento de 15% no quadro, hoje de 96 funcionários. "Para janeiro devemos contratar mais dez pessoas".

Depois de ver seu ritmo de produção cair de 24 horas para 19 horas no fim do ano passado, a companhia Providência, também de São José dos Pinhais, retornou ao normal. A empresa, que fabrica não tecidos – usados em fraldas e descartáveis médicos – contratou, em agosto, mais 60 pessoas para atuar nas novas linhas de laminação e impressão, que absorveram R$ 25 milhões.

A retomada não se restringe à indústria. O varejo, embora tenha sentido menos a turbulência, também está puxando essa tendência. A MM Mercado Móveis, de Ponta Grossa, que não fez contratações temporárias no ano passado em função das incertezas provocadas pela crise, agora está selecionando 150 pessoas. A Livrarias Curitiba, que em dezembro do ano passado contratou 180 temporários, esse ano deve ampliar esse número para 200. Outros 45 devem ser selecionados para trabalhar nas duas novas lojas da rede, que serão inauguradas até abril.

"Hoje temos uma situação muito diferente da que víamos no passado. Quem costumava efetivar parte dos empregados temporários contratados em dezembro preferiu não fazê-lo com o risco de ter de demitir depois por conta a crise", lembra Fabio Romão, economista da LCA Consultores. A projeção da consultoria, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), é que por causa dessa mudança o volume de dispensas no mercado de trabalho em dezembro – mês em que geralmente há um saldo negativo de vagas – fique abaixo da média histórica. Em dezembro de 2008, a crise fez o volume de demissões bater recorde, com o desaparecimento de 655 mil empregos. Para esse ano, projeta-se corte de 250 mil vagas no mês.

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