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| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo

Apesar de ainda ter relevância, a indústria brasileira perdeu espaço em termos globais. Dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), compilados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mostram que, no início da atual década, o Brasil tinha o sexto maior parque industrial, atrás apenas de potências como China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coreia do Sul. Em 2015, o país foi ultrapassado por Índia, Itália e França e caiu para a 9.ª posição ao reduzir a sua contribuição na produção industrial mundial para 2,3%.

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A retração da indústria nacional no mundo é um dos indicadores que corroboram a tese de que o Brasil está em um processo de desindustrialização precoce. Segundo economistas, esse processo começou na década de 1980 influenciado por fatores macroeconômicos, como a hiperinflação e a taxa de câmbio, por políticas industriais de pouca eficácia adotadas nos últimos 30 anos e pela entrada da concorrência internacional, em especial a chinesa.

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A crise econômica atual, iniciada no segundo trimestre de 2014, agravou ainda mais a situação da indústria brasileira. O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) David Kupfer avalia que o setor está em inércia, sem capacidade de investimento e cortando custos para sobreviver, o que aumenta o hiato tecnológico em comparação a parques industriais mais desenvolvidos.

“A indústria fez redução de custos para simplificar processos, insumos e embalagens. Não investiu em tecnologia, em transformação qualitativa”, diz Kupfer. Com isso, afirma o pesquisador, o setor vem perdendo competitividade global, pois ainda predomina por aqui o modelo de indústria intensiva de mão de obra.

Para o economista do Ibre-FGV Mauricio Canêdo Pinheiro, o Brasil possui uma economia muito fechada que levou a indústria nacional a focar no mercado doméstico. Essa estratégia, somada ao chamado “custo Brasil”, tornou o setor ineficiente, com dificuldades para competir no mercado global. “O Brasil está em um meio do caminho muito complicado. Não conseguimos competir em setores intensivos de mão de obra e não temos indústria da inovação”, relata o economista.

A desindustrialização é uma etapa natural em economias desenvolvidas. O problema no Brasil, segundo economistas, é que o setor vem perdendo relevância antes de o país atingir a maturidade econômica, ou seja, ter renda per capita elevada e empregos de alta produtividade. Isso, defendem, pode comprometer a retomada econômica do país, pois outros setores, como de serviços, não têm a mesma capacidade de gerar valor agregado.

Setor precisa investir em inovação tecnológica para ter diferencial competitivo

A retração da indústria brasileira, que vem perdendo espaço no PIB global e nacional, não é um processo irreversível. Para economistas consultados pela reportagem, a solução está no investimento em inovação tecnológica para o setor ter um diferencial competitivo e conseguir atender tanto demandas internas quanto externas. O problema é que ainda são poucos os sinais de que o país caminha nessa direção.

Para David Kupfer, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a indústria deveria estar se preparando para atender a demanda futura, mas, no momento, ela está focada em redução de custos. “Até ela ter capacidade de resposta [à demanda], o ciclo já acabou ou a produção estrangeira já entrou”, diz. Ele afirma que há oportunidades de investimentos em infraestrutura, habitação, fontes renováveis, mobilidade urbana e para modernização do setor de serviços.

O economista do Ibre-FGV Mauricio Canêdo Pinheiro afirma que é preciso, ainda, nivelar o campo de negócios, promovendo reformas estruturais e dinamizando a economia, para que as empresas brasileiras sejam competitivas globalmente. “É preciso melhorar o ambiente de negócios, a qualidade da mão de obra e a infraestrutura”, resume o especialista.

Nem mesmo o crescimento econômico elevado dos últimos fez com que a indústria alavancasse sua capacidade de competição. Na visão do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Fagundes Cagnin, a taxa de juros elevada e o câmbio muito volátil fizeram com que o setor não aproveitasse o bom momento econômico. Para ele, é preciso rever esses políticas macroeconômicas para a indústria ter condições de voltar a investir.

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