
Após passar o ano de 2009 como coadjuvante nas discussões econômicas, a inflação voltou a dar as caras. No início de 2010, os primeiros dados sobre o comportamento dos preços vieram altos mesmo para um mês que por tradição traz correções em itens importantes na determinação dos índices, como educação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ficou em 1,29% em janeiro, o maior porcentual desde fevereiro de 2003. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, também mostra uma tendência de alta que deve se confirmar nesta semana com a divulgação do IPCA de janeiro.O comportamento dos preços nas primeiras semanas já fez com que os analistas de mercado subissem suas previsões para o ano. Segundo o relatório Focus, pesquisa semanal feita pelo BC com cem agentes do mercado, a inflação chegará a 4,62% em 2010 no início do mês, a aposta era no cumprimento do centro da meta de 4,5%. A elevação na projeção do mercado, que deve continuar nas próximas semanas, é um indicador de que atingir o alvo para a inflação neste ano exigirá um aperto do BC.Um dos efeitos imediatos da expectativa de inflação maior é a antecipação na alta dos juros. Até novembro do ano passado, a maioria dos analistas dizia que o BC só começaria a elevar a taxa básica (Selic) no segundo semestre. Agora, o consenso é de um aperto a partir de abril em um ciclo que elevará os juros dos atuais 8,75% ao ano para 11,25% até dezembro. "A projeção de 4,6% de inflação neste ano é o piso. É bastante possível que o porcentual continue subindo", diz Priscila Godoy, analista da consultoria Rosenberg & Associados.
Escolas
A inflação em janeiro foi influenciada por fatores pontuais. Além de ser o mês quando tradicionalmente sobem as mensalidades e os materiais escolares, foi registrada em janeiro uma aceleração nos preços dos alimentos, por causa das chuvas fortes nas regiões Sul e Sudeste. "Também foram reajustadas as passagens de ônibus em algumas cidades importantes, o que levou o IPC-S para 1,29% em janeiro", explica o economista Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa da FGV. "Essa pressão inflacionária deve perder força nas próximas semanas, mas a intensidade do recuo vai depender do clima."
Outro indicador que se acelerou em janeiro foi o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), que variou 0,63% em janeiro, após uma deflação de 0,26% em dezembro. Como mede também valores praticados no atacado, o IGP-M pode indicar uma pressão maior nos próximos meses. Nesta semana será divulgado o IPCA de janeiro e ele deve mostrar uma aceleração. Sua prévia, o IPCA-15, foi de 0,52% no país e de 0,21% em Curitiba nos dois casos, acima do que foi visto no mesmo período de 2009. Segundo as projeções dos analistas, o IPCA cheio deve bater em 0,7%, quase o dobro dos 0,37% de dezembro e acima dos 0,48% de janeiro de 2008.
"Surpreendeu a alta dos alimentos, mas esse é um fator pontual. Assim, o IPCA deve ficar um pouco acima de 1,5% no primeiro trimestre, que era o esperado pelo BC", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista chefe do Banco Fator. Ele pondera, porém, que o Banco Central ainda tem tempo para avaliar o cenário inflacionário, já que não são esperados reajustes de preços administrados (como luz e telefone) e a alta do dólar, que poderia influenciar cotações de commodities e itens importados, foi ainda limitada.
Sílvio Campos Neto, economista chefe do Banco Schahin, também avalia que a alta da inflação será limitada, sem descolar muito do centro da meta, mas exigirá que o BC dê um recado ao mercado. "É provável que os juros subam em abril", diz.



