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Ao pôr uma foto na web você pode revelar mais do que pensa. | Bigstock/
Ao pôr uma foto na web você pode revelar mais do que pensa.| Foto: Bigstock/

Com uma câmera de smartphone não muito diferente da sua, um jovem fotógrafo usou o metrô de São Petesburgo, na Rússia, para um experimento. Nos traslados, aqueles a sua frente eram discretamente fotografados. Pessoas comuns que ele provavelmente nunca havia visto. As fotos eram jogadas imediatamente em um aplicativo novo, o FindFace. Em segundos, o app direcionava Egor Tsvetkov ao perfil de seu companheiro de viagem na VKontate, rede social que está para os russos como o Facebook para os brasileiros. Amante de pets, lutador de boxe, estudante. Pronto, a sua frente já não estava mais um mero desconhecido.

A privacidade nunca foi, de fato, o forte das redes sociais. Se você tiver a foto de uma pessoa e jogar no Google, pode facilmente descobrir o perfil dela em uma rede social – basta que esta pessoa tenha cadastrado uma imagem igual ou parecida. Mas agora estes algoritmos estão um passo à frente. O da NTechLab, empresa por trás da tecnologia do FindFace, bem como outros que estão sendo desenvolvidos leem os traços faciais com tanta eficiência que nem precisa de foto semelhante.

Tsvetkov fotografou na hora e teve 70% de sucesso na busca pelos perfis dos fotografados. “Descobri muito da vida deles sem ter qualquer contato. Eu me senti um pouco desconfortável”, admitiu à imprensa russa.

Apesar do desconforto, não há crime algum em “stalkear”. No Brasil, direito à intimidade, honra e imagem são constitucionais. Mas um software de busca por imagens não agride honra e privacidade. “A partir do momento em que compartilha em uma rede social, você está autorizando que as pessoas tenham acesso a sua foto. A simples busca não configura crime”, define Fernando Peres, advogado especialista em direito digital e crimes cibernéticos. “Existirá um problema jurídico se essas imagens e informações pessoais forem usadas de forma ilícita.”

Seu rosto é Big Data

O fotógrafo transformou seu experimento em uma exposição de nome autoexplicativo: “Seu Rosto é Big Data”. Um trabalho por si só polêmico, já que publicou as fotos sem consentimento dos fotografados. Poderia ser pior. “Este serviço poderia ter sido usado por um assassino serial ou um cobrador buscando maliciosamente alguém que está devendo”, ponderou o fotógrafo ao Global Voices, um site que trata de preocupações da era digital. 

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Quase simultaneamente ao experimento, usuários de um fórum russo fotografaram prostitutas e atrizes de filmes pornô e usaram o FindFace para localizar e divulgar seus perfis pessoais na rede social.

Obviamente, a lei se aplica a casos como estes em praticamente qualquer lugar do mundo. Mas, talvez, precaver-se seja cada vez mais urgente. “O que é preciso é entender a necessidade de compartilhamento consciente de informações e imagens na internet. Quando divulga perde controle sobre elas”, defende Peres.

“Nossa tecnologia é revolucionária e avanços como este sempre trazem efeitos positivos e negativos, dependendo de quem os usa”, defendeu a FindFace, no centro da polêmica. Curiosamente, o aplicativo foi criado para “promover a amizade”.

Para que serve?

Os algoritmos de leitura de rosto têm aplicações que vão além de marcar amigos nas fotos do Facebook:

Segurança

Mecanismos de reconhecimento facial já são usados em eventos esportivos e shows para prevenir e punir possíveis atos de desordem. Há programas governamentais e privados atuando na área.

Amizades

É a ideia do FindFace, por exemplo. Por fotos tiradas na hora ou salva no computador, o software é capaz de fazer varreduras em redes sociais para achar o perfil do fotografado. O “stalker” pode então fazer um pedido de amizade ou simplesmente ter mais informações para melhorar o approach.

Vendas

Há aplicativos investindo na identificação de clientes como forma de melhorar a performance de vendas. Por exemplo, o americano FaceFirst. Nele, imagens captadas por câmeras especiais de segurança servem para formar um banco de dados. Quando um bom cliente volta à loja, o software reconhece e avisa o vendedor. O mesmo aplicativo diz ser capaz de detectar a presença de ladrões.

Outros serviços

O curioso Churchix é um serviço norte-americano capaz de reconhecer os fieis mais assíduos a eventos religiosos. O banco de dados precisa ser formado pela igreja com fotos previamente captadas dos frequentadores.

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