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Elon Musk, CEO da Tesla, no veículo elétrico Tesla Roadster | rc/ES/REBECCA COOK
Elon Musk, CEO da Tesla, no veículo elétrico Tesla Roadster| Foto: rc/ES/REBECCA COOK

Olhando para trás, havia um claro risco na decisão da Tesla Motors de instalar sistemas de piloto automático em todos os veículos produzidos pela empresa desde outubro de 2014. E o preço foi pago. Aguentaram os reguladores federais examinando o acidente mortal envolvendo um Modelo S enquanto operava com o sistema, além, claro, dos críticos destratando a Tesla por liberar a tecnologia tão cedo.

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Mas também há a recompensa. A empresa coletou mais de 2 bilhões de quilômetros de dados com equipamentos de piloto automático, já que os veículos circularam por diversas estradas e condições climáticas ao redor do mundo. E, na corrida frenética para lançar o primeiro carro autônomo e totalmente funcional, esse tipo de informação, de conhecimento do mundo real, tem valor inestimável. Nesse momento, por enquanto, a fabricante de carros elétricos está um passo adiante dos competidores, incluindo Google, General Motors e Uber.

“Não há dúvidas de que a Tesla tem uma vantagem”, declarou Nidhi Kalra, cientista de informação da Rand Corporation. “Eles podem aprender de uma gama bem maior de experiências reais e muito mais rápido que uma empresa fazendo testes com motoristas e funcionários treinados atrás do volante.”

A grande promessa dos veículos autônomos é que eles salvarão vidas. De acordo com um relatório da Rand, divulgado em abril, co-assinado por Kalra, os carros “vão precisar andar centenas de milhões de quilômetros, em alguns casos até bilhões de quilômetros, para demonstrar que são seguros”. Dados são a chave de tudo, quanto mais você possui, mais rápido os algoritmos vão aprender.

Claro que nem todos os dados são iguais: existem os semi-autônomos assim como os completamente autônomos, mundo real versus simulações, rodovias e aglomerados de vias no ambiente urbano. Ainda assim, Tesla está “em uma posição muito única para colocar o algoritmo de direção automática e a capacidade das máquinas aprenderem no transporte pessoal”, enfatiza Adam Jonas, analista que lidera a equipe de pesquisa em mobilidade automática e compartilhada da Mogan Stanley.

Os concorrentes

Desde 2009, os veículos autônomos do Google já cobriram mais de 3,2 milhões de quilômetros no mundo real com funcionários a bordo, de acordo com a empresa. Nos últimos dias, a Parent Alphabet Inc. transformou o projeto de veículos autônomos em um negócio chamado Waymo.

A Uber, que já opera veículos em Pittsburgh, também está implantando uma frota em São Francisco em parceria com a Volvo. Cada SUV da empresa é ocupado por dois funcionários, um pronto para tomar o controle do veículo e outro responsável por monitorar os pedestres. Porém, a Uber deu esse passo sem a autorização do Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia e os procuradores do estado já ameaçam pedir na justiça uma ordem para impedir a empresa de continuar. De acordo com os executivos, eles apenas estão “agindo como a Tesla.”

No mesmo ritmo, a GM se prepara para implantar uma pequena frota de veículos nas ruas de Michigan, já que o governador Rick Snyder assinou uma lei autorizando testes com carros não controlados por humanos. De acordo com a regulamentação, não há necessidade que o carro tenha direção, pedais ou qualquer tipo de controle humano, apesar disso, a GM optou por deixar os engenheiros de prontidão a bordo, assim como ocorreu em testes anteriores. A Ford Motor também está realizando testes no Michigan desde 2015, inclusive em dias com neve.

O sistema

Modelo híbrido da Tesla, em Detroit, nos Estados UnidosMB/TSS/MARK BLINCH

Quando o piloto automático está ligado, os veículos da Tesla podem fazer coisas como mudar de pistas e estacionar sozinhos. A empresa salienta que ainda assim o motorista está no comando e deve sempre manter as mãos na direção, apesar disso, trabalha para evoluir a tecnologia para operar corretamente mesmo que as pessoas não compreendam que estão no controle ou ignorem as instruções.

O acidente fatal ocorreu em maio, quando um homem bateu um Modelo S 2015 contra um caminhão em uma rodovia da Flórida. De acordo com a Tesla, nem o motorista nem sistema de piloto automático notaram a lateral branca do caminhão contra o céu muito iluminado, portanto o freio não foi acionado. A administração da rodovia está investigando.

Os dados

Os mais de 2 bilhões de quilômetros de dados que a Tesla diz ter coletado incluem as áreas cobertas pelos veículos mesmo quando o sistema de piloto automático não estava ligado, já que ele opera em “modo sombra”, com sensores recolhendo as informações. Em maio, um executivo da empresa afirmou, durante uma palestra no Massachusetts Institute of Technology (MIT), que os carros cobriram mais de 160 milhões de quilômetros com o piloto automático ligado. Em outubro, Elon Musk, CEO da empresa, afirmou pelo Twitter que esse número já supera a casa dos 357 milhões.

“Não sei se estão em vantagem ou não, o que tenho certeza é que a Tesla tem uma tonelada de informação”, declarou Richard Wallace, diretor de análises de sistemas de transporte no Centro de Pesquisa Automotiva em Arbor, no Michigan. “Eles podem analisar os dados de diversas maneiras diferentes e turbinar ainda mais o algoritmo.”

Também em outubro, Musk disse que o novo Modelo 3, previsto para o final de 2017, assim como todos os outros modelos que estão sendo fabricados pela Tesla na Califórnia, terão um sistema que permite a condução automática. Embora ele tenha afirmado que, dentro de um ano, a empresa vai realizar uma demonstração, atravessando os Estados Unidos com um veículo autônomo, outras fabricantes descartam a possibilidade pelo menos até 2020.

“A maioria das empresas de carro e tecnologia não querem mostrar em que pé estão nessa corrida. Elon, claro, é a exceção. Ele sempre faz questão de mostrar que está em vantagem em relação a todo mundo”, explica Karl Brauer, editor executivo da Kelley Blue Book. Ao passo que as empresas vão melhorando o mecanismo de coleta de informação, “o nível de dados gerados fica difícil de ser concebido. Isso aqui é só a ponta do iceberg.”

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