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Steven Johnson, professor da Universidade de Nova Iorque

Ser elevado ao posto de apólogo da tecnologia não tirou do cronista de ciência Steven Johnson alguns costumes típicos da intelectualidade norte-americana mais conservadora, como o gosto por usar blazers com meias de lã verdes. Porém, as concessões à tradição acadêmica não avançam muito além disso. O nova-iorquino de 42 anos e "1,4 milhão de seguidores no Twitter" defende a internet como meio de socialização também para grupos locais e a existência dos video-games como produto cultural válido. Johnson esteve em Curitiba nesta última semana para participar da Conferência In­­ternacional de Cidades Inovadoras, promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná. Autor do best-seller Everything Bad is Good for You: How Today’s Popular Culture Is Actually Making Us Smarter (Tudo o que é ruim faz bem para você: Como a cultura popular contemporânea nos torna mais espertos, em tradução livre), ele conversou com a Gazeta do Povo sobre as possibilidades da internet e o conceito de cidade como um organismo vivo.

A tecnologia, que o senhor defende como integradora, não age contra a sua ideia da cidade como um organismo vivo à medida em que dissolve as relações fisicamente próximas?

Penso que as duas coisas ocorrem ao mesmo tempo. A globalização está acontecendo. Estamos conectados de uma maneira que nem (o pensador canadense Marshall) McLuhan poderia sonhar quando criou o conceito de "aldeia global". Quando se olha para o mundo desta maneira, a geografia importa cada vez menos. O importante é a sua habilidade de criar uma rede de contato ao redor do mundo. Mas por outro lado, mais e mais pessoas estão se mudando para as cidades. Previam 30 anos atrás que, com a internet, as cidades se esvaziariam, mas ocorreu o extremo oposto. A população ainda reconhece que os benefícios de estar junto a outras em um mesmo ambiente, e a comunicação eletrônica também auxilia o desenvolvimento das cidades. Há conexões locais que são muito mais fáceis de fazer por meio da internet, e que fazem a experiência de viver em cidades populosas mais fácil.

Qual é o ponto de intersecção entre as relações mediadas pela tecnologia e as do "mundo real"?

Acho que há um tipo de conexão que você alcança apenas em relações face-a-face; certas emoções e sutilidades que surgem apenas no espaço físico. Nada vai superar isso. O que a internet fez foi acrescentar uma nova dimensão. É uma questão sobre o tipo de mídia utilizada. A sensação de ler um romance permanece extraordinária – algo que a televisão não pode substituir plenamente –, mas a preponderância do livro já não é a mesma do século 19. Vizinhos também já não têm a mesma importância que tinham nas pequenas cidades do século retrasado, mas isso não quer dizer que o senso de comunidade não seja a resposta para o que significa ser humano e integrado ao mundo.

Você concorda com a ideia de que a tecnologia tornou possível a comunicação e a produção artística sem presença de um mediador superpoderoso?

Não há dúvida de que houve uma explosão de interações descentralizadas. Hoje, a maioria das pessoas cria conteúdo para ser consumido apenas pelos amigos. Mas é algo complicado pensar que o vetor "de cima para baixo" simplesmente acabou. (O seriado de tevê) Lost é criado pelas elites – uma grande rede de televisão americana – e o cidadão não pode alterar a estrutura do seriado, e mesmo assim a audiência o ama. Lost é um grande exemplo porque, ao mesmo tempo em que é servido pronto, criou uma massa de fãs integrados no mundo inteiro discutindo as teorias do roteiro e especulando sobre os mistérios da trama. O que temos ao final é um diálogo entre a cultura de massa e a cultura de elite, que é absorvida e transformada ao longo do caminho.

E onde, no meio de tudo isso, é criado o espaço para as interações locais, dadas exclusivamente entre as comunidades próximas?

Se o tema é "devemos construir um playground nessa esquina?", você fala com seus vizinhos, que são as pessoas que dividem os mesmos interesses no caso. E a web torna possível discutir isso de uma maneira que seria difícil de fazer antes dela. Em Brooklyn, Nova Iorque, onde eu moro, há pioneiros em blogs locais que escrevem sobre casas à venda e assaltos. Mas se você quiser falar sobre o episódio de ontem de Lost, talvez os seus vizinhos não sejam as pessoas ideais para isso. Talvez a pessoa que divida os mesmos interesses esteja em Tóquio! A diferença é que agora você tem opções que não existiam antes.

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