
Desde o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, há cinco anos, canadenses, venezuelanos, brasileiros e argentinos encabeçam o time dos endinheirados que sacudiram o mercado imobiliário do sul da Flórida, ajudando a desencalhar torres novas e totalmente vazias por causa da crise. Mas tudo indica que o apetite dos brasileiros por imóveis em Miami já não é mais o mesmo dos últimos dois anos.
O principal motivo está no aumento do dólar. Depois de chegar a R$ 1,54 em meados de 2011, a moeda americana ultrapassou a marca dos R$ 2 em maio deste ano e segue nesse patamar. Além disso, os estoques de imóveis formados durante a crise já se aproximam do fim e os lançamentos voltaram a aparecer. Segundo o órgão de Desenvolvimento Econômico e Comércio Internacional de Miami ligado ao governo americano (Miami-Dade), o preço médio dos imóveis subiu 16,3% entre junho de 2011 e julho de 2012.
De acordo com o presidente do Conselho de Franquias da Apolar, Júlio Fagundes, a procura diminuiu. Em 2011, quando a empresa começou a atuar em parceria com uma imobiliária de Miami, 74 clientes foram atendidos. Em 2012, de janeiro até agora, foram menos da metade. "Os preços já não são mais tão atraentes como há dois anos."
O corretor brasileiro Diogo Esteves conta que o Paradise Palms, um condomínio de casas de veraneio em Kissimmee, a 10 minutos da Disney, subiu 25% de janeiro até agora. Segundo Esteves, mesmo com a retomada dos preços, ainda é possível fazer negócios vantajosos.
Um dos motivos apontados por ele é a facilidade de financiamento para estrangeiros e os juros mais baixos que no Brasil: "Fechei uma casa para um cliente brasileiro no tempo recorde de 28 dias, da assinatura do contrato à entrega de chaves. Foi com 30% de entrada, financiamento de 30 anos e juro fixo médio de 5,5%".
As corretoras americanas ainda apostam alto nos compradores brasileiros. A imobiliária Elite International Realty veio ao Brasil com uma equipe de 12 profissionais para uma rodada de demonstração e vendas de imóveis e passará a ter representação em São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto e Curitiba.
"Mesmo com a recuperação dos preços, sobretudo nos locais onde há investimento dos estrangeiros, o preço médio do metro quadrado de um lançamento menos luxuoso em Miami [US$ 4 mil ou R$ 8 mil] ainda é menor do que o de um imóvel semelhante na região do Ecoville [entre R$ 10 mil e R$ 12 mil], em Curitiba", disse o presidente da imobiliária, o paulista Leo Ickowicz.
O preço médio do metro quadrado em sete capitais brasileiras, segundo o índice FipeZap de imóveis de setembro, foi de R$ 6.862. Os bairros mais caros do país estão no Rio de Janeiro: Leblon (R$ 18.332) e Ipanema (R$ 16.984).
Taxas mensais e anuais fazem parte do pacote
O deslumbramento de comprar um imóvel em Miami por um preço atrativo pode virar decepção quando o comprador descobrir os custos mensais e anuais que acompanham a aquisição.
A advogada Letícia Mary Fernandes do Amaral, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), acompanhou o processo de compra de uma casa em Keystone Island, em Miami, em janeiro deste ano, e conta que cliente se surpreendeu com o valor do Property Tax (o nosso IPTU), que custa, em média, 1,75% do valor do imóvel. Só esse imposto vai custar US$ 23 mil por ano.
Há também um seguro obrigatório anual da residência no valor de US$ 8 mil e a taxa de condomínio mensal, que deve se aproximar de US$ 1 mil, por causa da localização e do padrão do imóvel.
O cliente teve de arcar com as taxas de documentação (US$ 15.225 mil), os honorários do advogado do vendedor e de um advogado americano contratado por ele para acompanhar o processo de compra (US$ 5 mil), além de outras taxas municipais e de transferência do imóvel. "Ele foi atraído pelo preço baixo e não contava com custos adicionais tão altos", diz ela.



