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Embora o consumo em marcha lenta seja a surpresa dos indicadores econômicos americanos, cabe ao investimento o papel de destaque entre as preocupações estruturais acerca do potencial de crescimento dos EUA. Desde a grande crise, o desembolso dos empresários para renovação e ampliação da capacidade produtiva patina. Mas os economistas têm outro motivo para frustração: o setor público, imobilizado pela polarização extrema da política americana, não tem alocado recursos suficientes para obras, num país que, para seus padrões e necessidades, tem infraestrutura deficiente.

Apenas no primeiro trimestre, o investimento público em construção recuou 4,4% nos EUA.

— O investimento em defesa também caiu, ampliando o fosso. O Congresso até discute afrouxar um pouco a corda nos gastos militares e em infraestrutura, mas é pouco provável que vejamos esses setores como locomotivas adiante — lamenta Diane Swonk, economista-chefe da consultoria Mesirow Financial.

A inoperância do Congresso ficou evidente em 13 de maio, quando foram cortados US$ 300 milhões do orçamento da Amtrak, a companhia ferroviária pública, um dia após o acidente na Filadélfia que matou oito pessoas. Neste corredor da Costa Leste, o mais movimentado do país por ligar Washington a Nova York e Boston, metade das pontes foi construída até 1920, há túneis de 1870 e não há dinheiro para modernização de trens e adoção de tecnologias como os sistemas anticolisão e de redução automática de velocidade em curvas.

O plano de investimentos de cinco anos da Amtrak para o corredor, consultado pelo Globo, faz uma revelação chocante: para substituir as pontes velhas com o orçamento corrente, a operadora levaria 300 anos.

— São coisas de antiquário, muito acima de cem anos. O sistema está em decadência — afirmou Steve Ditmeyer, ex-administrador de pesquisa e desenvolvimento da Administração de Ferrovias Federais, órgão regulador americano, em entrevista no dia seguinte do acidente.

Aumento de imposto em debate

O presidente dos EUA, Barack Obama, encaminhou ao Congresso um plano de investimentos em infraestrutura de seis anos, no valor de US$ 478 bilhões. Para não elevar o déficit público, a proposta é aumentar a taxação sobre o topo da pirâmide. Os republicanos vetaram no fim de fevereiro, mas não ofereceram uma alternativa.

Ao contrário, na semana passada, os parlamentares aprovaram mais uma extensão de autorização de gastos temporários para transporte — ou seja, o setor não tem orçamento, e isso ocorre há anos, impedindo planejamento. Já o fundo federal de rodovias (Highway Trust Fund) expira em 15 dias sem solução à vista.

A necessidade de investimentos em infraestrutura é urgente. A nota do país na avaliação quadrienal feita pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis (ASCE) é D, numa média de 16 categorias. Para reverter o quadro, a entidade calcula que os aportes necessários entre 2014 e 2020 somam US$ 3,6 trilhões — mas falta US$ 1,6 trilhão no orçamento.

Se incorporados aos planos, o aporte pouparia US$ 3,1 trilhões em PIB, US$ 1,1 trilhão em comércio, 3,5 milhões de empregos e US$ 2,4 trilhões em gastos das famílias, “comparável ao PIB do Brasil”, diz o relatório da ASCE.

Segundo o projeto Renovando a América, do centro de estudos Council on Foreign Relations, o gasto público federal em transporte de superfície é de cerca de US$ 50 bilhões ao ano, mas deveria ser de US$ 96 bilhões a US$ 118 bilhões para que a infraestrutura fosse de fato melhorada.

— A deterioração da infraestrutura tem um efeito cascata sobre a economia. Investimos em infraestrutura, mas não o suficiente — afirmou Greg DiLoreto, presidente da ASCE, na ocasião do lançamento do relatório.

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