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Razões

Com queda no lucro, empresas investem menos

As empresas estão investindo menos porque estão lucrando menos. A conclusão é de um estudo dos economistas Carlos Rocca e Lauro Modesto Santos Junior, do Centro de Estudos do Ibmec. "Existem razões para acreditar que a forte redução da geração de recursos próprios e da rentabilidade do capital (...) estejam entre os principais fatores para explicar a queda de seus investimentos e a tendência à estagnação da economia brasileira", afirmam.

Segundo os economistas, que avaliaram os balanços de 741 empresas não financeiras, o lucro líquido baixou de 5,5% para 2,5% do PIB entre 2010 e 2013. Para investir, as empresas passaram a depender mais de endividamento: a fatia de recursos próprios nos projetos caiu de 68% para 61%.

O mais grave é que caiu de 60% para 51% o porcentual de empresas com taxa de retorno do capital superior ao custo médio da dívida – ou seja, para quase metade das companhias o lucro gerado pelo investimento ficou abaixo do juro pago no financiamento. "É razoável acreditar no impacto negativo desse quadro sobre a decisão de investir", afirmam os autores.

Peso pesado

O peso da Petrobras no investimento brasileiro se faz notar também nos momentos ruins. De janeiro a outubro de 2014, a estatal e suas subsidiárias investiram R$ 65,6 bilhões, 11% menos que em igual período de 2013. Isso puxou para baixo o investimento total das estatais federais, que recuou 9%, para R$ 75,6 bilhões, segundo o portal Siga Brasil. Sem a Petrobras, o investimento das estatais teria subido 9%.

Fundamental para sustentar o crescimento econômico por longos períodos, o investimento produtivo caiu, em 2014, aos níveis mais baixos em sete anos. E tende a continuar em baixa em 2015, prejudicado pelo ajuste fiscal do governo, pela insegurança dos empresários e pelos desdobramentos da Operação Lava Jato.

INFOGRÁFICO: Veja as principais dificuldades do Brasil no setor econômico

Os gastos em máquinas, equipamentos e na construção civil são importantes porque aumentam a capacidade do país de gerar riquezas. Por isso, quando diminuem, acabam limitando o crescimento econômico dos anos seguintes.

Há também um impacto mais imediato, porque esses desembolsos – medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), mais conhecida como taxa de investimento – entram no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, quando o investimento cai, a expansão da economia depende mais do consumo das famílias, dos gastos públicos e das exportações. Fatores que, por uma série de razões, também não estão nada promissores.

Os dados mais recentes indicam que o investimento produtivo acumulado em 12 meses recuou para 17,3% do PIB no terceiro trimestre de 2014, a menor taxa desde meados de 2007. É pouco. Economistas calculam que, para crescer por vários anos a taxas de mais de 4%, o país teria de investir perto de 25% do PIB.

Para o economista Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B, manter um investimento próximo de 17% do PIB em 2015 "já será uma vitória". "O ano será dificílimo, e seria um arroubo dizer que vamos sair dessa rapidamente. Haverá uma redução dos investimentos do governo, o que, por si só, tende a diminuir o investimento privado, que em muitos casos é complementar ao público", avalia.

Segundo ele, a inércia do governo, paralisado pelo escândalo da Petrobras, prejudica ainda mais as decisões das empresas, que já eram afetadas pela persistente queda da confiança na economia. A alta do dólar, avalia Frischtak, pode até dar um "choque de competitividade" às exportações da indústria, mas isso não significa que o setor reagirá tão cedo. "Há uma defasagem entre a melhora da competitividade e a retomada dos investimentos", diz.

Alternativas

Gabriel Leal de Barros, professor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), explica que a rigidez do orçamento fará com que boa parte da contenção de gastos do governo recaia sobre os investimentos. "O governo tem pouca margem de manobra, porque apenas 25% do gasto é discricionário, ou seja, pode ser manejado."

Mas, segundo o economista, há formas de mitigar os impactos da redução do investimento. Uma delas é concentrar esforços em obras com mais "externalidades positivas". "Gosto de usar como exemplo a Ferrovia Norte-Sul, que cortaria o país de cima a baixo. Uma vez concluída, ela não apenas contribuiria para elevar a competitividade da economia, mas também destravaria uma série de investimentos privados complementares, criando toda uma estrutura logística em torno desse corredor."

Um ano para "baixar a poeira" da Lava Jato

Os gastos em infraestrutura vinham crescendo, alcançando cerca de 2,5% do PIB em 2014, segundo cálculo da Inter.B. Mas mesmo essa área tende a sofrer em 2015, prevê Cláudio Frischtak, presidente da consultoria. Para ele, o governo gastará boa parte do ano "esperando baixar a poeira" levantada pela Lava Jato.

O economista crê que a investigação – que alcançou quase todas as grandes empreiteiras – vai impedir a retomada das concessões de infraestrutura por pelo menos todo o primeiro semestre. Ele propõe que o governo privilegie "linhas de menor esforço", como as concessões de rodovias, que podem ser tocadas por empreiteiras de médio porte.

"Outra linha é renovar antecipadamente os terminais portuários arrendados a partir de 1993, o que destravaria investimentos de R$ 11 bilhões", diz o economista.

Para contornar eventuais restrições às empreiteiras da Lava Jato, o economista Gabriel Leal de Barros, do Ibre/FGV, propõe abrir o mercado brasileiro para empresas internacionais.

Ineficiência

O avanço dos últimos anos não mudou o fato de que o Brasil investe pouco em infraestrutura. A Inter.B calcula que seria preciso gastar 3% do PIB na área apenas para conservar o que já existe, e perto de 4,5% do PIB para sustentar um crescimento econômico da ordem de 4% ao ano.

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