
Quando a gente acha que todas as abreviaturas necessárias a um emocionante papo nerd já foram inventadas, vira uma esquina e mergulha num cardume de letrinhas novo em folha, nadando nas águas sempre agitadas da informática. O Forum Mundial de Banda Larga (BBWF), realizado em Berlim há uma semana, não foi exceção. Uma sigla mereceu o troféu de protagonista do evento: o IPTV, um quarteto de letras que já circula na área há uns dez anos, causando invariáveis polêmicas e despertando as platéias semi-adormecidas no lusco-fusco dos power-points. A diferença é que as indigitadas letras começam a deixar o terreno da ficção-científica para plantar-se solidamente na realidade.
IPTV vem de Internet Protocol TV, e está para o universo audiovisual assim como o VoIP (Voice over IP) está para as telecomunicações. Em outras palavras, estamos diante de um momento de quebra de paradigma; e uma quebra de paradigma que muda radicalmente a forma como nos relacionamos com televisão, possibilitando a oferta de canais praticamente personalizados, vídeo sob demanda (outra sigla: VoD, de video-on-demand) e mobilidade total. Usar IPTV, tecnologia que já é bastante forte no mercado europeu, com 11 milhões de assinantes, não significa reunir a família diante do computador; na verdade, a maioria dos que a utilizam sequer sabem que existe, assim como a maioria dos usuários de VoIP brasileiros sequer desconfia que suas empresas usam a internet para serviços de telefonia.
Mas a beleza da IPTV é que seu conteúdo pode ser acessado de qualquer lugar, de uma multiplicidade de telas: de computadores, PDAs, celulares e, imaginem, até de tevês.
Nesse ponto, chega-se a outra palavra-chave, convergência, que, num encontro sobre banda larga como o BBWF, vem, geralmente, acompanhada da expressão triple-play. Isso nada mais é do que o nosso já conhecido uso da banda larga para oferecer ao usuário três tipos de serviços: tevê a cabo, internet e telefone fixo. Quando a jogada se estende também aos celulares, entra em cena o quadruple-play. Ninguém precisa pensar muito para perceber que se trata de uma briga boa: quem conseguir fisgar o cliente ganha todos os serviços de comunicação da casa. É por isso que, no BBWF, assim como em qualquer outro encontro atual sobre telecomunicações, falou-se tanto em casa inteligente, em ponto de controle da casa e assim por diante.
"Os usuários querem uma experiência mais simples e mais fácil no uso desses serviços", diz o presidente da potência francesa Alcatel-Lucent, Michel Rahier. "As redes fixas e wi-fi tendem a se fundir num único serviço baseado em IP, capaz de distribuir multimídia via banda larga." A Alcatel-Lucent, fabrica os "canos" assim como a "enroscada" Cisco ou a NEC, por exemplo e está com a vida ganha num mundo que, cada vez mais, depende de conexão.
"O patrocínio e a publicidade são as bases desses novos modelos", reconhece Rahier, apontando aquela que parece ser a grande solução para o desenvolvimento universal da banda larga. Para os meios de comunicação tradicionais, como jornais, rádios e emissoras de televisão aberta, não há nada de novo nisso a publicidade sempre foi a sua principal fonte de renda. Mas como a internet vai entrar nisso ainda é um mistério. Tome-se o mercado de telecom brasileiro, por exemplo, que anda aí pelos R$ 100 bilhões; o mercado publicitário é quase dez vezes menor, sendo que destina uns 70% do seu movimento para a televisão aberta. É, para dizer pouco, uma equação complicada de resolver.
Em relação às assinaturas de serviços, há uma tendência a se pensar em diferentes categorias de consumo, assim como acontece hoje com a tevê a cabo. Faz sentido, porque não dá para comparar o consumo de banda de quem vive no Second Life e em games on-line com quem apenas usa e-mail.
Acima de tudo, porém, pairam as eternas questões da segurança e do volume de dados. A internet não foi feita para suportar o gigante e crescente tráfego que flui por suas veias congestionadas, o que ficou ironicamente claro no BBWF. Onde, naturalmente, ninguém conseguia se conectar direito.



