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Custo do dinheiro

Juros cobrados das famílias estão perto do maior nível desde 2017

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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Os juros cobrados das famílias estão em um dos níveis mais altos em quase seis anos, apontam números do Banco Central. Em junho, a taxa média cobrada das pessoas físicas era de 59,09% ao ano, ligeiramente abaixo do pico atingido em maio – quando chegou a 59,88% ao ano, maior índice desde agosto de 2017. Isso significa que, em um ano, uma dívida de R$ 1 mil cresce para quase R$ 1,6 mil.

As taxas podem chegar a níveis extremos. No rotativo do cartão de crédito, cobrado de quem não paga toda a fatura mensal, a taxa em junho era de 437,25% ao ano.

A situação é melhor para as empresas. De janeiro a junho, a taxa de juros média para pessoas jurídicas recuou de 25,25% para 23,07% ao ano.

Dois fatores contribuem para os juros elevados, explica Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP): a taxa básica (Selic) elevada e o alto nível do spread bancário (diferença entre o custo que o banco tem para levantar o dinheito e o quanto ele cobra do cliente).

“Há um descompasso muito grande entre a taxa Selic e os juros cobrados das empresas e das famílias”, diz Carla Beni, professora do MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Brasil tem a maior taxa básica e o terceiro maior spread do mundo

Mesmo com o corte de meio ponto percentual na taxa Selic, o Brasil continua sendo o país com a taxa de juros real (já descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses). Segundo o portal MoneYou, ela é de 6,68% ao ano, 0,04 ponto percentual acima do segundo colocado, o México.

Dados do Banco Mundial apontam que em 2022, o Brasil tinha o terceiro maior spread bancário do mundo e o maior entre as economias do G20. Era de 27,4 pontos percentuais, atrás apenas do Zimbábue e de Madagascar. Segundo o Banco Central, em junho de 2023 esse número era um pouco menor: 22,07 pontos percentuais.

O Relatório de Economia Bancária do Banco Central (REB), divulgado em junho e referente a 2022, mostra que a composição do spread é formada por:

  • inadimplência (30%);
  • despesas administrativas do banco (26%);
  • tributos diretos, indiretos e Fundo Garantidor do Crédito (22%);
  • e margens das instituições financeiras (22%).

“O spread bancário pode ser encarado como um adicional de juros”, diz Igliori. Ele aponta que os determinantes são o risco de crédito, as incertezas na economia, as estruturas de mercado e questões operacionais das instituições financeiras.

Risco de crédito é alavancado por endividamento e inadimplência

O risco de crédito no Brasil é alavancado pelo elevado endividamento das famílias (equivalente a 48,65% da renda anual, segundo dados de maio do BC) e pela alta inadimplência (em junho, 71,45 milhões de pessoas físicas e 6,5 milhões de empresas estavam com o “nome sujo”, conforme a Serasa).

Segundo o especialista do Instituto Millenium e professor do Ibmec BH, Claudio Shikida, a elevada inadimplência aumenta os custos dos bancos, dada a dificuldade em recuperar as perdas.

“Deste modo, os inadimplentes fazem com que os bancos aumentem as taxas de juro, já que, com o não pagamento, há menos recursos emprestáveis. Diante de uma demanda elevada, a única saída é aumentar os juros”, diz.

Incertezas em relação à economia e à Justiça favorecem aumento do spread

Segundo o economista da Nomad, as incertezas em relação à economia brasileira também contribuem para o diferencial entre o custo de captação e o pago pelo tomador do empréstimo. “Temos uma vulnerabilidade macroeconômica muito grande e nosso histórico não ajuda”, explica.

Outro agravante é a questão jurídica. Shikida diz que também há os que percebem na Justiça brasileira um sistema frágil, que muda as regras do jogo de maneira imprevisível e, portanto, apostam que sua inadimplência será parcial ou totalmente perdoada por uma canetada de um juiz ou de um político.

Concentração bancária: um problema que vem diminuindo

As estruturas do mercado são um outro problema que favorece o spread bancário, mas o cenário vem melhorando desde 2017. “Tem havido uma gradual e contínua redução do grau de concentração bancária ao longo dos últimos anos, tanto no que diz respeito aos depósitos totais, seja no que tange às operações de crédito”, diz o economista-chefe da Porto Asset, José Pena.

As quatro maiores instituições financeiras do país – BB, Bradesco, Caixa e Itaú Unibanco – concentraram 59% do mercado de crédito em 2022, segundo o REB. Cinco anos antes, elas dominavam 78,51%.

Entre os motivos estão o crescimento de cooperativas de crédito, fintechs e instituições de pagamentos e a digitalização de serviços financeiros. "A competição leva a uma queda nos preços praticados em um mercado", ressalta Shikida.

Segundo ele, as fintechs vêm cumprindo uma função social adicional à de fornecer recursos a quem precisa de crédito: ao aumentarem a competição, elas estimulam a busca de maior eficiência do setor.

Estrutura dos bancos afeta o custo do dinheiro

O spread bancário também é favorecido pela estrutura operacional das instituições financeiras, que é grande para cobrir os riscos e pagar os custos. Esse é um problema que, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, vem perdendo força com o avanço da concorrência e o surgimento de novas tecnologias.

“É algo pesado, mas que vem mudando com a expansão das fintechs e dos bancos digitais e de novas tecnologias, como é o caso do armazenamento em nuvem. Esta vem reduzindo a necessidade de grandes estruturas de armazenamento e de processamento de dados”, afirma o professor da FEA-USP.

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