
Espanhóis e chineses estão de olho em um dos mercados mais fechados do país: o de obras e concessões públicas. Apesar das barreiras à entrada de estrangeiros, eles fazem parte da revolução silenciosa que começa a ocorrer entre as empreiteiras. Com faturamento anual, segundo especialistas, de cerca de R$ 200 bilhões e potencial de chegar a R$ 700 bilhões, as obras públicas e concessões de infraestrutura tendem a se pulverizar. O grande motivador desta mudança é a Operação Lava Jato, cujas investigações atingem as grandes empreiteiras.
Para se ter uma ideia do potencial deste mercado, o Brasil pode representar 8% de todos os investimentos do mundo em obras e concessões públicas em 20 anos, segundo estudo da KPMG. Entre as estrangeiras, as companhias chinesas e espanholas despontam como as menos ariscas ao clima de incerteza. Para que a vontade de ingressar no país se concretize, existem dois caminhos possíveis: associações com as empresas de médio porte, que tendem a se beneficiar deste movimento, e compra de participações em empreendimentos como rodovias e aeroportos. As oportunidades começam a surgir porque as empreiteiras nacionais estão sendo obrigadas a se desfazer de participações para resistir à turbulência.
No mercado é dado como certo o forte interesse das chinesas CRCC e Hydrochina, sobretudo em ferrovias e hidrelétricas. Também é esperada a entrada ou o reforço de operações das espanholas Sacyr (que já atua no Brasil com a Somague na construção de duas linhas do metrô de São Paulo e na transposição do Rio São Francisco, entre outras obras), ACS (também presente no Brasil por meio de sua subsidiária Dragados), Ferrovial, OHL (que já atuou em rodovias mas saiu do país) e da Acciona (que está no setor de petróleo, concessão federal de rodovia e na construção civil). Procuradas, as empresas preferiram não se pronunciar, exceto a Sacyr, que informou que atua no Brasil desde 1997, tem experiência sólida no país e interesse neste mercado.
O setor de obras públicas é marcado por polêmicas envolvendo diversas empresas em todo o planeta. No Brasil, porém, as investigações sobre os casos de corrupção da Petrobras envolvem as chamadas "cinco irmãs" da construção: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS. Impossibilitadas de fazer negócios com a estatal, elas poderiam sofrer ainda mais restrições nas obras públicas. Algumas empresas já enfrentam forte restrição de caixa. No total, a Polícia Federal arrolou 23 empresas em suas investigações.
Em um primeiro momento, o que se espera é uma freada nos negócios, mas, no futuro, este espaço tende a ser preenchido pelas estrangeiras e pelas empresas de médio porte. Obras de ferrovias e portos, que não devem demandar tantos recursos fiscais, seriam as primeiras na retomada do setor. O aumento do custo do dinheiro e as restrições de crédito do BNDES também surgir como empecilhos. A expectativa entre especialistas do setor é de uma alta da taxa de retorno dos projetos.
Mauricio Endo, sócio da KPMG, afirma que, apesar do potencial, o país é afetado pela concorrência com o mercado dos EUA, onde serão feitas grandes obras nos próximos anos. Ele afirma que o Brasil precisa de regras mais estáveis, planejamento de longo prazo factível e regularidade nos investimentos.



