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Infraestrutura

Lava Jato internacionaliza setor de obras

Com grandes empreiteiras enroladas na investigação da PF, estrangeiras devem entrar no Brasil

Obra de transposição do Rio São Francisco já conta com participação de empreiteira estrangeira | Adalberto Marques/MI
Obra de transposição do Rio São Francisco já conta com participação de empreiteira estrangeira (Foto: Adalberto Marques/MI)

Espanhóis e chineses estão de olho em um dos mercados mais fechados do país: o de obras e concessões públicas. Apesar das barreiras à entrada de estrangeiros, eles fazem parte da revolução silenciosa que começa a ocorrer entre as empreiteiras. Com faturamento anual, segundo especialistas, de cerca de R$ 200 bilhões e potencial de chegar a R$ 700 bilhões, as obras públicas e concessões de infraestrutura tendem a se pulverizar. O grande motivador desta mudança é a Operação Lava Jato, cujas investigações atingem as grandes empreiteiras.

Para se ter uma ideia do potencial deste mercado, o Brasil pode representar 8% de todos os investimentos do mundo em obras e concessões públicas em 20 anos, segundo estudo da KPMG. Entre as estrangeiras, as companhias chinesas e espanholas despontam como as menos ariscas ao clima de incerteza. Para que a vontade de ingressar no país se concretize, existem dois caminhos possíveis: associações com as empresas de médio porte, que tendem a se beneficiar deste movimento, e compra de participações em empreendimentos como rodovias e aeroportos. As oportunidades começam a surgir porque as empreiteiras nacionais estão sendo obrigadas a se desfazer de participações para resistir à turbulência.

No mercado é dado como certo o forte interesse das chinesas CRCC e Hydrochina, sobretudo em ferrovias e hidrelétricas. Também é esperada a entrada ou o reforço de operações das espanholas Sacyr (que já atua no Brasil com a Somague na construção de duas linhas do metrô de São Paulo e na transposição do Rio São Francisco, entre outras obras), ACS (também presente no Brasil por meio de sua subsidiária Dragados), Ferrovial, OHL (que já atuou em rodovias mas saiu do país) e da Acciona (que está no setor de petróleo, concessão federal de rodovia e na construção civil). Procuradas, as empresas preferiram não se pronunciar, exceto a Sacyr, que informou que atua no Brasil desde 1997, tem experiência sólida no país e interesse neste mercado.

O setor de obras públicas é marcado por polêmicas envolvendo diversas empresas em todo o planeta. No Brasil, porém, as investigações sobre os casos de corrupção da Petrobras envolvem as chamadas "cinco irmãs" da construção: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS. Impossibilitadas de fazer negócios com a estatal, elas poderiam sofrer ainda mais restrições nas obras públicas. Algumas empresas já enfrentam forte restrição de caixa. No total, a Polícia Federal arrolou 23 empresas em suas investigações.

Em um primeiro momento, o que se espera é uma freada nos negócios, mas, no futuro, este espaço tende a ser preenchido pelas estrangeiras e pelas empresas de médio porte. Obras de ferrovias e portos, que não devem demandar tantos recursos fiscais, seriam as primeiras na retomada do setor. O aumento do custo do dinheiro e as restrições de crédito do BNDES também surgir como empecilhos. A expectativa entre especialistas do setor é de uma alta da taxa de retorno dos projetos.

Mauricio Endo, sócio da KPMG, afirma que, apesar do potencial, o país é afetado pela concorrência com o mercado dos EUA, onde serão feitas grandes obras nos próximos anos. Ele afirma que o Brasil precisa de regras mais estáveis, planejamento de longo prazo factível e regularidade nos investimentos.

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