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Sistemas operacionais

Linus, pai do Linux, não tira a mão da massa há 20 anos

Maior nome do software aberto, desenvolvedor finlandês não é radical. Para ele, não há problema em usar programas pagos, desde que sejam a melhor ferramenta para a situação

Linus Torvalds não quer polêmicas filosóficas. Em vez disso, prefere mergulhar | LinuxMag/Creative Commons
Linus Torvalds não quer polêmicas filosóficas. Em vez disso, prefere mergulhar (Foto: LinuxMag/Creative Commons)

Após quase uma hora cercado por fãs querendo fotos ou autógrafos, Linus Torvalds foi apresentado à CEO da Canonical, Jane Silber. A Canonical é a em­­presa por trás do Ubuntu, distribuição mais popular do sistema operacional criado por Linus, o Linux. Ainda assim, o programador de 40 anos – quase a me­­tade deles dedicados ao Linux – precisou de uma viagem ao Brasil para conhecer um dos principais nomes do lado corporativo do Linux.Fica evidente o foco de Linus, sempre mais próximo de programadores que de qualquer empresário, filantropo ou lobista do software livre. Seu comportamento é a antítese do que se espera de um executivo de tec­­nologia, levando em conta que esse personagem foi criado no imaginário popular com a ascensão de Bill Gates ao posto de homem mais rico do mundo nos anos 90 e, depois, com o su­­cesso de Steve Jobs e Mark Zu­­cker­­berg na última década. Em­­presários que botaram a mão na massa no começo de suas em­­presas, mas que eventualmente provaram ter espírito empreendedor ainda mais forte do que o talento para a tecnologia.

Se há um ponto em comum entre todos os citados, é a autossuficiência inicial, o ímpeto de construir algo que muitos considerariam insignificante, ou até mesmo inalcançável. O su­­cesso na empreitada torna-se o ponto de divisão, com Gates, Jobs e Zuckerberg indo cuidar de suas empresas, enquanto Tor­­valds continua concentrado no produto que criou em 1991.

Talvez concentrado não seja o termo mais preciso, já que, em suas próprias palavras, seu cotidiano consiste basicamente em "viajar pelo mundo para conferências do Linux e responder e-mails". No entanto, não se espera que Bill Gates ou Steve Jobs encarem milhares de linhas de código a cada lançamento de uma nova versão de seus sistemas operacionais. Com Tor­­valds, essa imagem é mais plausível.

Linus Torvalds veio ao Brasil para a primeira edição latino-americana da LinuxCon, evento sustentado anualmente pela Linux Foundation em países como Japão e EUA. Em seu tempo livre, pratica mergulho – não à toa, seu próximo destino após o fim da conferência em São Paulo era Fernando de No­­ronha. "Sempre tento mergulhar, em todos os países que visito", disse.

Linus ainda é membro ativo da comunidade de desenvolvedores do kernel do Li­­nux (o coração do sistema ope­­racional, fundamental na criação das distribuições mais populares). Mas é quando as discussões entre programadores e filósofos do software livre começam a fi­­car mais pessoais que Linus dá vazão a outro hobby: dirigir seu conversível.

O pai de três meninas não parece o tipo de pessoa que cos­­tuma perder a cabeça. Al­­guns minutos de conversa com o desenvolvedor são mais que suficientes para revelar uma fonte aparentemente inesgotável de bom-senso. Não surpreende o ta­­manho da admiração que ele atrai entre programadores e nerds em geral: é capaz de, na mesma frase, advogar em favor do software livre e frisar que não há problema al­­gum com o software pago. "O que me importa é saber qual é a melhor ferramenta para o meu trabalho"

Com a frase, Linus define a motivação que o levou a co­­meçar um esboço de sistema operacional aos 21 anos. "Não havia uma ferramenta para o que eu queria fazer, en­­tão eu fui lá e escrevi uma". O gesto tem sido constante em sua vida desde que começou a programar, aos 12 anos. "Se eu precisasse de um editor de textos, ia lá e progra­mava. Se quisesse um game, ia lá e desenvolvia, escrevia o código".

Após 19 anos de Linux, per­­guntamos ao finlandês o que ele faria diferente se estivesse começando a programar o sistema operacional hoje. "Eu provavelmente nem começaria", respondeu de imediato. "Algumas coisas você precisa ter 20 anos para fazer, e acho que programar um sistema operacional é uma delas".

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