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Autônomos no mercado de transporte aumentou bastante por causa da Uber.; | Daniel Caron/Gazeta do Povo
Autônomos no mercado de transporte aumentou bastante por causa da Uber.;| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

Você pode ver a economia dos freelas em todos os lugares, menos nas estatísticas. Por anos, economistas, especialistas e formuladores de políticas públicas enfrentam a ascensão da Uber, o crescimento do trabalho temporário e as fissuras nas relações de trabalho entre as empresas e seus funcionários. Os otimistas aplaudiram a flexibilidade oferecida pela vida de freelancer. Pessimistas temeram pelo desaparecimento dos empregos tradicionais, bem como dos benefícios e proteções legais que fornecem.

O debate tem acontecido em grande parte sem base em dados sólidos. Mas recentemente a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos lançou o primeiro relatório com uma análise mais profunda sobre o trabalho não tradicional desde 2005, e chegou a uma conclusão surpreendente: o trabalho à moda antiga continua a imperar.

Cerca de 10% dos trabalhadores nos EUA eram empregados em alguma forma do que o governo chama de “arranjos alternativos de trabalho” em 2017. Uma categoria ampla, que inclui motoristas da Uber, escritores freelancers, pessoas empregadas por meio de agências de ajuda temporária, ou seja, essencialmente qualquer pessoa cuja principal fonte de renda venha de fora de uma relação tradicional de trabalho. Longe de estarmos em um boom dos frilas, na realidade houve um ligeiro declínio neste tipo de trabalho se comparado a 2005, quando cerca de 11% dos trabalhadores se encaixavam nessa categoria.

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“Acho que a narrativa de todo mundo foi para o espaço”, disse Michael R. Strain, diretor de estudos de políticas econômicas no Instituto Americano de Empreendimento, um think-tank conservador.

Strain e outros peritos advertiram, no entanto, que os dados não sinalizavam qualquer estagnação em relação à década passada. Os números do governo não incluem as pessoas que fazem bicos ou trabalho freelance em combinação com empregos tradicionais, e talvez esses dados também não consigam capturar plenamente as atividades geradoras de renda que as pessoas não consideram como “trabalho”, por exemplo alugar uma casa pelo Airbnb.

Outros dados divulgados pelo Federal Reserve, o banco central americano, constataram que quase um terço dos adultos tem algum trabalho considerado um bico, seja como atividade principal ou como complemento de outras fontes de renda. Pesquisas realizadas pelo setor privado chegaram a conclusões semelhantes.

Os dados da secretaria também não refletem outras mudanças que têm deixado os trabalhadores americanos se sentindo menos seguros e com poucas oportunidades de crescimento. Muitas empresas, por exemplo, agora terceirizam grande parte de seus trabalhos. Funcionários dessas empresas não serão contabilizados em “trabalhos alternativos” sob a definição do governo. Mas eles geralmente ganham menos e recebem benefícios menores do que os trabalhadores contratados diretamente por grandes empresas e ainda têm muito menos oportunidade de ascensão na vida corporativa.

“Na minha opinião, é essa terceirização interna que representa a grande mudança no porquê dos salários não subirem e na insegurança que os trabalhadores sentem. E nós ainda temos apenas dados indiretos para demonstrar isso”, disse Eileen Appelbaum, codiretora do Centro de Pesquisa de Economia e Políticas, um think-tank liberal.

Preferência pela autonomia

Rafael Sanchez é um dos que podem cair em uma área cinzenta nas estatísticas. Ele se mudou para os Estados Unidos, vindo do México, há 16 anos e se estabeleceu em New Brunswick, Nova Jersey, onde inicialmente conseguiu um trabalho estável, sendo funcionário integral de uma fábrica de janelas por cinco anos.

Mas foi demitido em 2007 e desde então trabalha em uma série de empregos arranjados por agências de ajuda e de trabalhos temporários, pulando de fábrica em fábrica, de armazém em armazém, ganhando US$ 9 por hora para embalar caixas e fazer outros tipos de trabalho manual. As vagas podem durar meses ou mesmo anos sem nunca se transformar em um cargo permanente, com contratação direta pelas fábricas, que oferecem pagamento melhor e espaço para promoções na carreira.

“Não são empregos em que você pode progredir”, disse Sanchez através de um intérprete.

Economistas já argumentam há muito tempo que os tipos mais visíveis dos bicos são uma parte relativamente pequena no total de trabalho em todo mercado e que arranjos trabalhistas fora do padrão antecederam o surgimento de plataformas baseadas em aplicativos, como a Uber e o TaskRabbit. (O impacto da Uber foi visível nos dados: o número de autônomos no mercado do transporte aumentou em 200 mil entre os anos de 2005 a 2017).

A maior categoria de pessoas em trabalhos alternativos, ou terceirizadas, está desproporcionalmente distribuída no corte dos 40 anos ou mais, e é comum em setores como a construção, que não são ameaçados pelas atividades do Vale do Silício. Eles ganham em média quase tanto quanto os funcionários padrão e são relativamente felizes em seus arranjos trabalhistas: quase oito em cada dez pessoas dizem preferir ser um trabalhador autônomo do que um empregado.

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Mas parece diferente quando se trata dos trabalhadores de plantão e temporários, que tendem a ser mais jovens, ganham menos e raramente têm acesso a planos de saúde fornecidos pelo empregador ou benefícios de aposentadoria. Eles também estão muito mais propensos a dizer que preferem o trabalho tradicional.

Nenhuma das categorias, no entanto, teve crescimento na força de trabalho desde 2005. Tom Gimbel, chefe executivo da LaSalle Network, empresa de terceirização em Chicago, disse que a narrativa da economia dos frilas já tinha sido desbancada há muito tempo. “Por causa das redes sociais e das histórias que são espalhadas, acho que a percepção quanto a isso foi inflada”, concluiu ele.

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