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Sala Escape Kitchen, da unidade do Escape 60 em Curitiba: espaço que permite que uma equipe jogue contra a outra simula um reality show culinário em que todos os participantes foram envenenados por um ex-competidor . | Divulgação/Escape 60
Sala Escape Kitchen, da unidade do Escape 60 em Curitiba: espaço que permite que uma equipe jogue contra a outra simula um reality show culinário em que todos os participantes foram envenenados por um ex-competidor .| Foto: Divulgação/Escape 60

Líder de uma equipe jovem, com profissionais entre 20 e 30 anos, o engenheiro eletricista Heber Gonçalves buscava algo diferente para fortalecer o seu time. As dinâmicas e outros tipos de treinamento de equipe pareciam não surtir tanto efeito com profissionais de uma geração tão tecnológica e conectada. Até que um colega da empresa sugeriu os escape games ou “jogos de escape”, e ele comprou a ideia.

Depois de testar o jogo pessoalmente, Heber levou sua equipe para o Escape 60, em Curitiba. Durante 60 minutos, 30 profissionais divididos em três salas temáticas diferentes tiveram de trabalhar juntos para encontrar pistas, conectá-las e resolver o grande enigma que leva a chave para sair do espaço. O jogo pode parecer fácil, mas só cerca de 20% dos grupos participantes conseguem escapar da sala antes de o cronômetro zerar no Escape 60.

“As pessoas saem da sala extasiadas. A troca de experiências foi um negócio que eu nunca tinha vivenciado”, conta ele, que trabalha em uma multinacional de autopeças que tem fábrica em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.

Dividida em três grupos, equipe de Heber jogou em três salas temáticas distintas.Divulgação/Escape 60

As escape rooms (ou salas de fuga) não são uma novidade, nem mesmo no mundo corporativo. Mas é crescente o número de empresas que viram nesses espaços um potencial que vai muito além do simples entretenimento. Seja para selecionar candidatos ou treinar e integrar equipes, colocar os profissionais à prova em uma sala de jogo de 60 minutos pode ser muito mais eficiente para conhecer seus perfis e habilidades do que gastar horas e horas com treinamentos e dinâmicas corporativas. 

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O grande trunfo do jogo para as empresas é que ele potencializa a espontaneidade dos jogadores, explica o consultor de gestão de pessoas Raul Zanon, da Go!BRZ. “Por mais que seja um ambiente controlado, em 10 minutos a pessoa esquece que está sendo filmada e monitorada, inclusive pelos gestores”, conta Zanon, que faz toda a análise do jogo com os participantes, o chamado debriefing. Por exemplo: “Faltou comunicação no jogo? E como é isso lá na empresa?, exemplifica ele.

Com enredos ruins que levam os participantes ao limite, as salas funcionam como uma panela de pressão. “É um jogo de conflito, negociação, liderança e tomada de decisão. Funciona bem porque tira as pessoas da sua zona de conforto”, afirma Mauro Silvano, um dos sócios do Escape 60. “É legal para brifar o dia a dia das empresas com algo lúdico, não apontando o dedo”, acrescenta.

Jogo não funciona sem conexão com o dia a dia

A ambientação realista das salas e a forma como o jogo vai sendo conduzido permitem trabalhar diversas competências: gestão do tempo, relacionamento interpessoal, liderança, comunicação, competitividade, trabalho em equipe. Lá dentro, sob pressão e sem a cerimônia do ambiente corporativo, a adrenalina sobe e as qualidades e defeitos dos jogadores saltam aos olhos. Do lado de fora, os gestores conseguem ter uma visão do todo, mas também têm munição para avaliações individuais. 

O ideal, contudo, é que o jogo não seja usado como o único método de seleção ou avaliação de profissionais ou equipes, mas como parte de um processo estruturado de desenvolvimento ou, então, para referendar etapas anteriores, ressalta Zanon. Sem esse link com o dia a dia do time, a experiência perde força. 

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Heber teve o cuidado de fazer com que toda aquela experiência das escape rooms não fosse algo isolado. A atividade no Espape 60 foi alinhada com um programa de desenvolvimento interno que avalia competências e desempenho. A atividade aconteceu 20 dias antes da rodada de feedbacks do final do ano e acabou reforçando o processo que veio na sequência, segundo ele.

Muitas vezes, o jogo também serve para referendar impressões sobre os profissionais, tanto positivas quanto negativas, e ajuda a fazer movimentações que coloquem as pessoas certas nos lugares certos, um dos grandes desafios dos gestores. Na sala, um analista do time de Heber se sobressaiu em raciocínio lógico e resolução de problemas. “Não acho que lá se descobre uma coisa nova, mas você reforça a percepção. Entendemos que seria interessante ele fazer um job rotation porque acreditamos que ele vai aproveitar melhor as sua competências em outra área”, conta. 

Da internet para o mundo real

Inspirada nos jogos de videogames e até em produções do cinema, como a famosa saga “Jogos Vorazes”, a experiência das escape rooms nasceu como entretenimento, mas logo atraiu a atenção das empresas, especialmente em São Paulo, onde surgiram as primeiras salas no Brasil. 

Inaugurada em 23 de setembro de 2016, a Escape 60, onde Heber jogou com a sua equipe, é uma franquia trazida para Curitiba pelos sócios Mauro Silvano, Danielle Chevalier e Michel Godoy.

Mauro diz que já no início do negócio eles viram nas empresas um nicho com grande possibilidade de crescimento. E deu certo. Em menos de dois anos, 150 companhias já passaram pelo Escape 60, que tem seis salas de 28 a 35 metros quadrados em Curitiba: Corredor da Morte, Escape Kitchen, Fuga Explosiva, Operação Resgate, P.S. Tenha Medo e Salvem Nossas Almas (SOS). 

A lista de clientes recorrentes, por exemplo, tem nomes como O Boticário, Renault, Itaipu Binacional, Bosch, Electrolux, Votorantim. Mondelez, Exxon Mobil, Telefônica, Copel, Correios, Grupo Positivo e Fiep.

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