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Siemens transforma 80% dos funcionários em acionistas

Cerca de 400 milhões de euros foram aportados pela multinacional no projeto Profit Sharing, que mira funcionários abaixo do nível de diretoria

Funcionários viram acionistas. No exterior, esse modelo de remuneração é comum, mas centrado em altos executivos e não em funcionários de níveis mais baixos como no caso da Siemens. | Fabio Tieri/Divulgação
Funcionários viram acionistas. No exterior, esse modelo de remuneração é comum, mas centrado em altos executivos e não em funcionários de níveis mais baixos como no caso da Siemens. (Foto: Fabio Tieri/Divulgação)

Em uma iniciativa global, a Siemens – uma das líderes mundiais em soluções de digitalização, automação e eletrificação – desenvolveu o programa Profit Sharing, que possibilita a todos os colaboradores elegíveis, em cargos abaixo de Senior Management (diretores e executivos), receberem ações gratuitas da empresa. Desde que foi criado, em 2015, o programa agregou 80% dos 377 mil funcionários de 102 países, que desempenham funções de coordenação e administração, técnicas e operacionais, quase dobrando a meta pretendida até 2020, de 200 mil colaboradores.

O projeto distribuiu cerca de 400 milhões de euros em ações, que estavam sendo depositados na conta do programa de participação de lucros nos últimos três anos. Do total, 2% foram direcionados ao Brasil. A medida é uma maneira de valorizar o comprometimento do colaborador, que contribuiu para o sucesso da organização, explicam as responsáveis pela implementação dos programas de ações da Siemens do Brasil, Vanessa Thomazzella e Débora Couto. 

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“Ele surgiu como um dos pilares da nova cultura da Siemens – o ownership culture. É um reforço ainda maior para que os colaboradores atuem realmente como se a empresa fosse sua, agindo com responsabilidade e pensando no longo prazo.” 

As executivas contam que a oportunidade de ganhar ações da Siemens estimulou que os próprios colaboradores investigassem o comportamento da ação da empresa, que é negociada na bolsa da Alemanha e, por isso, muitas vezes ficava distante do conhecimento de muitos. 

“Eles identificaram que a ação da Siemens valorizou muito nos últimos anos e, como já existia possibilidade de compra aos colaboradores (com o benefício de compre três, mantenha por três anos e ganhe uma adicional), muitos aderiram ao programa nos últimos anos, gerando um aumento de 12% entre os funcionários no Brasil.” Hoje o país tem 99% de aderência ao programa, ou seja, cinco mil colaboradores.

Como funciona a ideia da Siemens de transformar colaboradores em acionistas

Para participar do Siemens Profit Sharing, o colaborador precisava estar ativo em duas datas-chaves na empresa: 1.º de outubro de 2017 e 26 de fevereiro de 2018. Para receber, além de fazer parte do público elegível, o colaborador teve de abrir uma conta no banco de custódia parceiro da Siemens – o FinTech Group Bank AG, que gerencia as ações pela plataforma eletrônica Equateplus. Foram distribuídas, no mínimo, duas ações por colaborador. 

“O quanto cada um recebeu foi proporcional à remuneração total de cada um. Ou seja, quanto maior a remuneração, mais ações o colaborador recebeu”, explica Vanessa. Foram no máximo, em torno de 30 ações para uma mesma pessoa. Cada uma delas vale pouco mais de 100 euros, de acordo com a cotação nestes primeiros dias de junho.

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O programa não previa nenhum período de indisponibilidade, ou seja, desde o momento da transferência das ações aos colaboradores, em março deste ano, está disponibilizada a venda ou transferência para outro banco de custódia de ações. E as taxas administrativas do banco, explica Débora, ficam por conta da empresa. 

“Caso peça demissão ou seja demitido, terá a isenção das taxas do banco por um período de quatro meses e deverá usar o prazo para decidir o que fazer com as ações: vender e transferir o dinheiro ao Brasil ou transferir as ações a outro banco de custódia no exterior.”

No próximo ano fiscal, novas reservas serão depositadas de acordo com os resultados dos negócios atingidos mundialmente em 2018. Quando o fundo atingir novamente a cota de 400 milhões de euros, esse valor poderá ser distribuído novamente em forma de ações aos colaboradores, revelam as executivas, sem estipularem um prazo. A Siemens gerou a receita de 83 bilhões de euros e o lucro líquido de 6,2 bilhões de euros no ano fiscal de 2017, que foi encerrado em 30 de setembro de 2017.

Modelo de remuneração é comum no exterior 

Os modelos de remuneração de longo prazo, como o da Siemens, existem há bastante tempo no exterior e começam a chegar ao Brasil por meio das multinacionais. Normalmente, são um pouco diferentes do que o oferecido pela indústria alemã: as ações são vendidas com bons descontos, e não oferecidas gratuitamente, e limitadas a profissionais de altos cargos.

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Segundo o especialista em remuneração variável Roberto Martins, diretor da PwC, eles garantem um engajamento maior do profissional da companhia com um vínculo mais interessante que outras formas de remuneração, que são o próprio salário, benefícios (plano de saúde, vale alimentação) e programas de curto prazo (PLRs e comissões). “Quanto melhor o desempenho da empresa, maior a valorização da ação e maior o ganho do colaborador. É uma maneira diferente de criar a cultura de dono da empresa.” 

Martins aponta alguns cuidados que as empresas devem ter ao adotar programas alternativos. Com base em três anos de estudos com executivos de todo o mundo, o especialista concluiu que a criação de um programa com muitas regras para participar, como tempo mínimo de companhia ou cumprimento de metas específicas, por exemplo, geralmente espanta o colaborador. “Muitas vezes o investimento é grande, mas para o empregado não tem valor se for algo muito complexo. As regras precisam ser claras e simples para que se enxergue o real ganho para os dois lados.”

O profissional percebeu ainda muitas diferenças entre executivos de países desenvolvidos e latinos. Enquanto lá fora os colaboradores preferem garantir um valor X na hora do que uma quantia maior em cinco anos, o povo latino toma mais risco. “Ele prefere arriscar ganhar 100 ou perder 60, por exemplo, em alguns anos, com um programa de bonificação, do que ter 75 garantidos nas mãos. A lógica é ganhar mais, assumindo o perigo.”

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