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Startups brasileiras geralmente morrem na hora de escalar: quando o negócio já cresceu, mas ainda não é robusto | Pixabay
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Startups brasileiras geralmente morrem na hora de escalar: quando o negócio já cresceu, mas ainda não é robusto| Foto: Pixabay Wokandapix

Um fundo criado com dinheiro de empreendedores por trás de algumas das startups de maior sucesso no Brasil, como Instagram, Nubank e 99, está tentando tirar novas empresas em estágio inicial do chamado "vale da morte" – período entre a captação de investimento anjo e a primeira rodada de capital de risco (série A). Em pouco mais de um ano de operação, o Canary já colocou parte dos mais de R$ 160 milhões arrecadados com sua rede de parceiros nas mãos de mais de 20 startups brasileiras.

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Tudo começou com a amizade entre dois estrangeiros, o húngaro Mate Pencz e o alemão Florian Hagenbuch, cofundadores da Printi, startup que opera um e-commerce de materiais gráficos. Eles se formaram em universidades de ponta nos Estados Unidos e se mudaram para o Brasil para empreender. A startup nasceu em 2012, cresceu rápido e chamou a atenção da americana Vistaprint, que comprou uma fatia da empresa em 2014 por US$ 25 milhões.

"Conseguimos um bom dinheiro e começamos a investir como anjos", contou em bom português Pencz, cofundador do Canary. "Percebemos que havia poucas pessoas fomentando o ecossistema de startups no Brasil." Na mesma época, Júlio Vasconcellos, fundador do site de compras coletivas Peixe Urbano, havia vendido a empresa ao gigante chinês Baidu e se juntou aos amigos para investir. Em seguida vieram Marcos de Toledo Leite e Patrick de Picciotto, da gestora de investimentos MSquare. A ideia de unir forças em um fundo se tornou mais clara nos anos seguintes e, em janeiro de 2017, o Canary nasceu.

A experiência de quem sentiu na pele as dificuldades de alavancar uma empresa, já que poucos fundos olham para startups nesse estágio, acabou trazendo vários outros empreendedores para o Canary. Além de colocarem dinheiro, eles indicam empresas e ajudam a avaliá-las para um possível aporte.

Grandes nomes dos startupeiros brasileiros entram no jogo

Mike Krieger, fundador do app de fotos Instagram, hoje com mais de 800 milhões de usuários, é um dos 49 parceiros do fundo. "Sempre tive interesse em ajudar startups brasileiras", afirmou Krieger no ano passado. "Estou começando a me envolver por meio do Canary."

O fundador e presidente do Nubank, David Vélez, também uniu forças. "Tenho muitas oportunidades para fazer investimentos, mas dedico todo o meu tempo ao Nubank", diz. "Estar no Canary me permite ajudar sem ter que trabalhar ativamente nisso." Paulo Veras, cofundador do app de transporte 99, se juntou ao fundo em janeiro, após vender a startup para a chinesa Didi Chuxing por US$ 600 milhões.

De acordo com pesquisa divulgada em fevereiro pelo Sebrae em parceria com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), quase 30% das mais de 1 mil startups brasileiras analisadas no estudo realizado ao longo do ano passado fecharam as portas – a maioria delas por falta de acesso a capital. "Há muita gente boa empreendendo no Brasil, mas sem alternativas de investimento", diz Leite, que hoje lidera a operação do Canary.

Ajuda na hora em que as startups mais precisam

A lista de investidas também cresceu rapidamente no último ano: o fundo já analisou mais de 500 startups e investiu em 21 delas, como o site de compra e venda de carros usados Volanty e o sistema de checagem de identidade IdWall. As startups recebem, em média, aportes entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão.

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Empreendedores ouvidos pela reportagem explicam que o Canary é diferente de outros fundos, pois as condições que oferece às startups são melhores: a decisão sobre o investimento é rápida, tomada após duas ou três reuniões; o fundo fica com uma fatia de até 15% da empresa e a startup recebe ajuda para chegar aos próximos estágios.

Além disso, os empreendedores têm acesso à rede de investidores, que os socorrem nos momentos difíceis. "Eles já sofreram o que eu estou passando agora", diz Ricardo Rodrigues, fundador e presidente da Social Miners, uma das investidas.

"Somos pessoas com conhecimento e experiência à disposição deles", conta Guilherme Horn, cofundador da corretora de valores digital Ágora, vendida ao Bradesco em 2008 e um dos investidores do fundo. "Esse contato ajuda."

Até agora, o Canary já investiu cerca de 12% de seu capital. Leite planeja colocar 40% em novas apostas e aportar o restante nas mesmas startups. "Já participamos da série A de duas startups que investimos", diz. "Isso prova nossa tese de que há bons empreendedores no Brasil que estavam fora do radar dos grandes fundos."

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