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O médico Gustavo Botelho, de 24 anos, trabalha em média 48 horas por semana e divide o seu tempo entre três empregos diferentes. Apesar da pouca idade sua renda é de R $ 4,5 mil, fruto de seis anos de estudo na graduação, em uma universidade pública, depois de três anos de pré-vestibular. Desde que se formou, há dois anos e meio, o médico junta dinheiro para poder se manter durante o período da residência, quando a remuneração será bem mais baixa.

Gustavo está dentro das estatísticas apresentadas na pesquisa "Retornos da Educação no Mercado de Trabalho", da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo mostra em números o que nossos avós já diziam: estudar é o melhor meio de ganhar mais. A diferença é que hoje os cursos de pós-graduação são quase obrigatórios, principalmente nos grandes centros urbanos. Mas carreiras como a da Medicina, por exemplo, ainda garantem bom retorno financeiro, mesmo antes da especialização, caso de Gustavo. No Brasil, ela é a única sem pós na lista das cinco atividades mais bem pagas. Médicos com mestrado ou doutorado estão no topo do ranking.

A pesquisa também aponta que a média salarial cai muito entre a população que tem pouco estudo. A empregada doméstica Maria Madalena de Carvalho, 37 anos, ganha R$ 650,00 em uma jornada de 54 horas semanais. Quando criança, estudou até a sétima série. Depois dos 30 anos, voltou para a escola, mas nunca mudou de profissão. No Paraná, a média salarial de uma pessoa com o mesmo estudo que Maria é de R$ 626,23, com empregabilidade de 64,11%.

Apesar de os parananeses Maria e Gustavo confirmarem, na prática, o que a pesquisa traz no papel, especialistas alertam que todo estudo deve ser lido com cuidado. "Em alguns casos, quando a amostra é muito pequena, os dados podem enganar. Como traçar a situação de uma carreira com uma amostra reduzida?", diz o economista Marcelo Neri, que coordenou a pesquisa feita com base no Censo de 2000, do IBGE, mas com os salários reajustados a valores de 2005.

A psicóloga Maria Alice de Moura e Claro, da Unifae, de Curitiba, é outra que alerta para as interpretações. Há possibilidades no mercado de trabalho que são pouco exploradas. "As pessoas se preparam sempre pensando nas grandes cidades, nas grandes empresas, e esquecem que existem outros caminhos. Por exemplo, o mercado de trabalho para pessoas qualificadas no interior é grande. Outra questão é o empreendedorismo. Se as escolas investissem mais não teríamos tantos desempregados", afirma.

Para o especialista em seleção de pessoal Bernt Entschev, que trabalha no recrutamento de executivos, a pesquisa da FGV, reflete, de maneira geral, o que se percebe no mercado: quanto maior o grau de especialização maiores as chances de se ter salários mais altos e de se estar empregado. Bernt levantou vários aspectos que não são abordados na pesquisa, mas que devem ser considerados em uma avaliação do mercado de trabalho. "Esta pesquisa não associa os salários aos anos de estudo. Sabemos, por exemplo, que médicos com mestrado ou doutorado têm muito tempo de estudo. Outra questão que vemos no mercado é que o nível de desemprego é sempre menor quando a pessoa pode trabalhar por conta própria, e não depende de empregadores. É o caso de carreiras que estão no topo das listas, como as de médicos, advogados e engenheiros, que trabalham como autônomos", avalia.

Além disso Bernt lembra que os dados organizados pela FGV devem ser usados junto com as informações acumuladas por quem está no mercado. "Devemos pensar na regionalidade. Por exemplo, o Paraná absorve 4,72% dos médicos de todo o país. É um bom mercado. Já em Administração, a porcentagem que o Paraná absorve, de 6,28%, é pequena se comparada com a do estado de São Paulo, que absorve metade de todos os administradores do país. Já os médicos de São Paulo tendem a sair do estado, pois na capital há mais médicos por habitantes do que seria necessário."

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