O programa governamental "Computador para Todos" até incentiva o uso do sistema aberto Linux, mas o que se vê é que tal medida contribui para aumentar a pirataria do Windows, mais conhecido entre usuários finais. Como você vê isso?
Alexandre Oliva As pesquisas afirmam justamente o contrário, mas são deturpadas de modo a induzir os leitores a acreditar nessa mentira. Quando se compara a presença de GNU/Linux em desktops, estimada em menos de 5%, com o número de Computadores para Todos cujos donos mantiveram o GNU/Linux, estimado em 25%, conclui-se que uma fração muito menor de usuários está usando cópias não autorizadas no Computador para Todos que no mercado em geral. Permita-me mencionar que pirataria é um termo descabido para caracterizar cópias não autorizadas. Copiar um programa em nada se assemelha a invadir um navio para saquear sua carga. Este termo é outra tentativa de manipular a forma como as pessoas raciocinam a esse respeito.
Em vez de a comunidade de desenvolvedores Linux se aproximar em torno de um padrão, percebe-se uma miríade de distribuições diferentes. Isso não dificulta ainda mais um dos grandes problemas do Linux, que é a falta de suporte técnico especializado?Essa preocupação é resultado da máquina de FUD (sigla em inglês para "medo, incerteza e dúvida") daqueles a quem não interessa o sucesso do software livre. Por que ninguém se preocupa com a fragmentação do Windows em tantas variedades como disponíveis hoje? Uma das forças do software livre é justamente a possibilidade de qualquer um criar uma variante do software para ocupar um nicho. Ou seja, a variedade (que quem busca induzir uma percepção negativa chama de fragmentação) não é uma fraqueza, mas uma força do software livre.
As grandes corporações, como Google, IBM e Sun Microsystems não continuarão sendo essenciais em um eventual mundo "dominado" por softwares livres?O Google é um enorme usuário de software livre, mas suas contribuições são relativamente pequenas. Há outras empresas muito menores que contribuem muito mais. É importante ressaltar que comércio não é incompatível com software livre. Muito pelo contrário. Qualquer software cujos termos de licenciamento proíbam o uso comercial, ou a distribuição comercial, não se caracterizam como software livre. A premissa implícita na sua pergunta é duvidosa. É possível que certas empresas adquiram um papel muitíssimo importante nesse novo cenário econômico e social que se forma, mas é difícil imaginar empresas essenciais. Isso só ocorre na manutenção de monopólios e dependência tecnológica, como o fazem as vendedoras de tecnologia proprietária.



