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inteligência artificial

Máquina vence humanos em programa de tevê

O supercomputador Watson, da IBM, ganhou US$ 1 milhão no Jeopardy!, o jogo de perguntas e respostas mais popular da tevê norte-americana

Jennings e Rutter a postos, com o "representante" do Watson no centro: rapidez do computador para responder fez diferença no resultado final | Divulgação / IBM
Jennings e Rutter a postos, com o "representante" do Watson no centro: rapidez do computador para responder fez diferença no resultado final (Foto: Divulgação / IBM)
Dave Ferrucci, diretor do projeto que criou Watson: dois anos de trabalho |

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Dave Ferrucci, diretor do projeto que criou Watson: dois anos de trabalho

No fim, os humanos do programa Jeopardy! renderam-se humildemente. Diante da iminente derrota para um gigantesco computador da IBM, Ken Jennings, famoso por vencer 74 jogos consecutivos no show de perguntas e respostas mais popular da tevê norte-americana, reconheceu o óbvio. "Eu, de minha parte, saúdo nossos novos senhores, os computadores", escreveu ele em sua tela, citando uma frase dos Simpsons. Para usar a lógica invertida do quiz: de agora em diante, se a resposta for "O computador campeão em Jeopardy!", a pergunta será "O que é Watson?"

Para a IBM, o confronto não apenas rendeu boa publicidade e um prêmio de US$ 1 milhão, mas serviu também como prova de que a companhia deu um grande passo em direção a um mundo em que as máquinas irão compreender e interagir com os seres humanos – e talvez substituir alguns deles. Watson é um tipo de "equipamento para responder perguntas" que durante décadas deu muito trabalho aos pesquisadores da inteligência artificial – algo similar ao computador da série Jornada nas Estrelas, que entende questões construídas em linguagem natural e que oferece respostas.

Watson também mostrou suas imperfeições, mas os cientistas da IBM e de outras empresas já estão pensando em como aplicar sua tecnologia – e ela poderá ter um impacto significativo na maneira como os médicos trabalham ou no modo que os consumidores fazem compras. "Há 20 anos, quem pensaria que isso seria possível?", pergunta Edward Feigenbaum, cientista da computação na Universidade Stanford e um dos pioneiros nesse campo de estudos.

No "projeto Jeopardy!", os pesquisadores da IBM tiveram de enfrentar um jogo que não somente requer um conhecimento enciclopédico como também exige habilidades para decifrar frases complicadas e, muitas vezes, obscuras – no jogo, o apresentador oferece uma resposta, e o competidor precisa fazer a pergunta correta –, além de uma dose de sorte, rapidez e estratégia na hora de apertar um botão.

A competição ocorreu ao longo de três noites em janeiro, no Laboratório de Pesquisas T.J. Watson da IBM, diante de uma plateia de executivos e clientes da companhia. Além de Jennings, Watson também enfrentou Brad Rutter, outro expert humano no jogo. O computador chegou a abrir grandes vantagens, mas a vitória não esteve assegurada até os instantes finais da terceira rodada, quando Watson estava na seção "Não Ficção". "Mesma categoria, por US$ 1,2 mil", disse a máquina, num tenor robotizado, após ser sorteado com um "desafio duplo", em que o jogador ganha o direito de responder a uma segunda questão consecutiva. Jennings fez uma careta. Mesmo depois dessa jogada, caso Jennings tivesse recebido a mesma chance, era possível que a partida fosse prolongada, reconhecem os pesquisadores da IBM.

Mais do que tudo, a vitória serviu como uma espécie de reafirmação para um ramo da ciência da computação que prometia muito nos anos 1960 – quando se imaginava a criação de uma máquina pensadora –, mas que havia se tornado motivo de piada no Vale do Silício na década de 1980, época em que várias empresas, recebedoras de grandes investimentos, foram à falência.

Vexame

Apesar de sua proeza intelectual, Watson não se mostrou nem próximo da onisciência. A certa altura, na categoria "Cidades dos EUA", a pista dada foi: "Seu maior aeroporto foi batizado em homenagem a um herói da Segunda Guerra Mundial; e o segundo maior, em homenagem a uma batalha do mesmo conflito." A máquina arrancou risadas da plateia ao responder "O que é... Toronto?????". A sequência de pontos de interrogação após o nome da cidade canadense (a resposta correta seria Chicago) indicava que o computador tinha pouquíssima confiança na resposta, explicam os pesquisadores da IBM, mas, pelas regras do jogo, naquele momento Watson era obrigado a escrever algo.

"Não conseguimos programá-lo bem para o episódio", diz David Ferrucci, cientista da IBM que liderou o desenvolvimento de Watson. "Na realidade, existem muitos dados ligados a cidades dos EUA cujas respostas são países, cidades europeias, pessoas, prefeitos. Apesar de a categoria ser 'cidades dos EUA', não tínhamos certeza se essa deveria ser a característica mais relevante a ser levada em consideração", afirma.

Tradução: João Paulo Pimentel

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