Quem visita a Agrishow não consegue imaginar que o setor está saindo de crise sem precedentes e carrega uma dívida superior a R$ 20 bilhões, a vencer somente este ano. As vendas de máquinas e equipamentos agrícolas lembram os anos de 2003 e 2004, quando a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) registrou o comércio recorde de 28,8 mil tratores e 5,6 mil colheitadeiras. A cana pode até ser a vedete do momento, mas a feira também mostra que são as máquinas para a produção de grãos que devem sustentar a previsão de crescimento da indústria este ano, que no primeiro trimestre vendeu 31% mais tratores e 58% mais colheitadeiras em relação ao mesmo período de 2006.
As máquinas à venda vão de R$ 50 mil a R$ 1 milhão. São tratores para pequenos produtores a modernas colheitadeiras, com tecnologia nacional e importadas. Nílton Alves de Oliveira, que nem agricultor é, comprou um trator de R$ 450 mil. Prestador de serviço para produtores de batata e tomate da Chapada Diamantina, na Bahia, ele vai pagar a máquina em quatro anos, com parcelas mensais e balões anuais. Ele diz que está ampliando a frota e nos últimos dois anos, apesar da crise, adquiriu três tratores.
Hélio Lamounier, de Campo Belo (MG), foi mais modesto e comprou um trator de R$ 86 mil para iniciar na agricultura. O produtor está liquidando seu rebanho de 200 cabeças de gado de corte para cultivar grãos. "O milho está mais rentável que o gado e tem boas perspectivas de preço", justifica. Lamounier e Alves de Oliveira reforçam a tese de que o agronegócio brasileiro está num processo de recuperação.
Também são casos como esses que sinalizam um incremento na produção de grãos, explica o presidente da feira, Sérgio Magalhães. Ele entende que, neste momento, "o setor de cana cria muitas oportunidades de negócios, mas o giro maior continua sendo a agricultura tradicional voltada para as commodities." Em 2006, as vendas para o segmento da cana na Agrishow representaram 30% do faturamento de R$ 500 milhões da Agrishow. Na edição deste ano, a estimativa é que o setor responda por 20% das vendas, numa expectativa de receita total de R$ 800 milhões.
Outro destaque tem sido a agricultura familiar, que passa a ter uma participação mensurável na compra de máquinas. Fábio Pilcher, diretor de marketing da Massey Ferguson, explica que o pequeno produtor investe em tecnologia porque sabe que o espaço para crescer passa pela produtividade. (GF)



