São Paulo O McDonald's vendeu ontem suas operações em 18 países da América Latina, inclusive o Brasil, por US$ 700 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão). O comprador foi a Restco Iberoamericana, presidida por Woods Staton, até então masterfranqueador da marca na Argentina. Associado a Staton, completou a operação um grupo de investidores formado pela Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, e pelos grupos especializados em mercados emergentes Capital International e DLJ South American Partners.
"Queremos reabrir as oportunidades de crescimento em todos os países latino-americanos", afirmou Staton durante o anúncio.
A preocupação faz sentido. Apesar de ter crescido a índices superiores a 10% nos últimos três anos no Brasil e em alguns outros países da região, toda a operação latino-americana tinha tornado-se um problema dentro do McDonald's. Segundo analistas, vivia um momento de estagnação e enfrentava forte avanços dos concorrentes. "Empresas como Burguer King e o próprio Bob's, que está licenciando o KFC, aproveitaram-se do estado quase moribundo do McDonald's para avançar", diz Kan Wakabayashi, sócio da consultoria Cypress Associates.
Além disso, a operação latina pressionava os controladores americanos pela baixa rentabilidade. Dos US$ 21,5 bilhões de faturamento do grupo no mundo, a América Latina respondeu por US$ 1,7 bilhão no ano passado, equivalente a 7,7% do total. Quando se olha sob a perspectiva do lucro operacional, no entanto, o percentual latino-americano cai para 1,2% de participação.
"Os controladores americanos se livraram de um mico que tinham em mãos", afirma Eugênio Faganholo, da Mixxer, consultoria especializada em varejo. Tanto é assim, diz o consultor, que, apesar de ter recebido US$ 700 milhões, a empresa assumiu contabilmente que a venda valia US$ 1,5 bilhão, deságio encarado como prejuízo.
"Sob o comando de Staton, o grupo crescerá duas vezes mais do que fizemos nos últimos dois ou três anos", afirmou Matt Paul, diretor financeiro do McDonald's.
Entre os planos para o mercado brasileiro estão a abertura de 150 novos restaurantes nos próximos três anos. "Vamos dar prioridade aos nossos atuais franqueados", afirma Sérgio Alonso, presidente do McDonald's no Brasil.
Para suportar o crescimento, a Restco Iberoamericana, que assumiu o compromisso de investir US$ 100 milhões ao ano na operação, pode abrir capital no médio prazo. Apesar de Staton dizer que a perspectiva não é imediata, ele não descartou a hipótese e o mercado acredita que a alternativa é inevitável.



