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Pós-impeachment

Mercado reage com cautela ao novo governo

Após excesso de otimismo, investidores aguardam ações incisivas na economia para apostar as fichas em Michel Temer

Bovespa fechou em alta de 0,9% no dia em que Michel Temer assumiu interinamente a Presidência da República. | Rafael Matsunaga/
Bovespa fechou em alta de 0,9% no dia em que Michel Temer assumiu interinamente a Presidência da República. (Foto: Rafael Matsunaga/)

Depois de alimentar grandes expectativas com relação à queda de Dilma Rousseff, o mercado deve reagir com cautela em relação aos primeiros passos do governo de Michel Temer. Empossado de forma indireta após uma vitória com ampla margem no Senado (foram 55 votos a favor e 22 contra), Temer evidenciou em seu primeiro discurso na tarde de quinta (12) que está disposto a retomar a confiança dos agentes econômicos e levar em frente as reformas esperadas pelo mercado, como a trabalhista e da Previdência.

No entanto, para o economista da Toro Investimentos Mehanna Mehanna, as primeiras falas do novo presidente não foram incisivas o suficiente para empolgar o mercado. “Apesar da grande expectativa criada para a posse, não foi possível mensurar por meio do discurso o impacto que uma possível agenda Temer terá, nem quais serão as iniciativas tomadas no futuro”, afirma.

Para pessoas ligadas ao mercado financeiro, a paciência será curta com o novo presidente. A lua de mel deverá durar pelo menos dois meses, período em que o dirigente interino terá de dar indicativos mais consistentes de que está disposto a colocar a economia nos eixos.

O caminho, no entanto, será árduo, visto que Temer terá de levar adiante propostas pouco populares, como a agenda de reformas, e a flexibilização do uso de receitas obrigatórias para a saúde e a educação. “Num primeiro momento, o mercado ficará de olho nos resultados alcançados por Temer antes de colocar todas as fichas nele”, avalia o economista da RC Consultores Marcel Caparoz.

Precificação

A saída de Dilma foi precificada com otimismo. No acumulado do ano, o Ibovespa teve alta superior a 25%, fechando acima dos 53.200 pontos no dia do afastamento da petista. Em grande parte, a alta foi puxada pela perspectiva de melhora na gestão de estatais como a Petrobras, que na visão dos investidores tende a melhorar com a posse do novo governo.

Nos primeiros quatro meses, o dólar apresentou queda de 14%, fechando pertos dos R$ 3,47. Já os juros futuros despencaram para 13% até o fim do ano, o que demonstra a crença de que uma mudança na condução do governo resultará em cortes nos gastos públicos e maior espaço para políticas de crescimento.

Na opinião do economista-chefe da Eleven Financial, Gustav Gorski, ainda pairam dúvidas em relação à estabilidade de Temer no poder, visto que pesam contra ele o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, que tramita no Tribunal Superior Eleitoral; e as eleições municipais deste ano, que podem dificultar a aprovação de medidas impopulares no Congresso.

Para o economista, a única forma de o governo prolongar a lua de mel é por meio de medidas incisivas no início do mandato. “Não há mais espaço para um tratamento gradual. É preciso que sejam tomadas medidas de choque já nos primeiros 60 dias de governo”.

Crise política deve respingar na economia

O afastamento da presidente Dilma Rousseff por 180 dias e a escolha da equipe econômica, capitaneada por Henrique Meirelles no ministério da Fazenda e por Ilan Goldfanj na presidência do Banco Central, animaram o mercado financeiro. Mas a definição das pastas do governo interino e a votação do impeachment no Senado não deram cabo às incertezas políticas que rondam Temer.

Para o economista da RC Consultores Marcel Caparoz, os desdobramentos da Operação Lava Jato, que pode envolver ainda mais o novo presidente e integrantes da sua equipe, têm o potencial de prejudicar a economia. “O afastamento de Dilma diminui a desconfiança e aumenta a previsibilidade, mas a política ainda interfere na economia e gera volatilidade”, acredita ele.

Apesar das dificuldades no âmbito político, Caparoz afirma que o cenário econômico, com tendência de equilíbrio do dólar e queda da inflação, abre espaço para a redução dos juros até o fim do ano. O economista-chefe da Eleven Financial, Gustav Gorski, alerta que caso a gestão monetária seja ineficiente e reformas como a da previdência não sejam aprovadas, o otimismo pode se reverter.

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