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O aumento do preço do milho pode reduzir a oferta de carne | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
O aumento do preço do milho pode reduzir a oferta de carne| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Quebra de safra pressiona custo dos alimentos

Fora do alcance das medidas do governo, o choque dos preços agrícolas vem pressionando a inflação. Impactado pelo clima – sobretudo pela grande seca que atingiu o Meio-Oeste dos Estados Unidos –, o mercado agrícola mundial trabalha com estoques baixos e preços altos.

Segundo projeções do departamento de agricultura norte-americano, o Usda, as perdas na safra milho e soja já somam mais de 115 milhões de toneladas. Com projeções de uma boa safra de milho e soja, o Brasil virou o principal fornecedor dos compradores mundiais, e os preços dispararam no mercado interno.

A aceleração do preço dos grãos afetou a indústria de alimentos e impulsionou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,08% em junho para 0,43% em julho. Produtores de aves e suínos estão tendo dificuldades para manter seus plantéis diante do aumento do preço da ração.

Cadeia

A tendência é de uma redução brusca da oferta de produtos que têm soja e milho na cadeia de produção – caso das carnes –, o que deve elevar ainda mais os preços para o consumidor nos próximos meses. "Fica difícil imaginar como estaria a economia brasileira sem essas medidas do governo", diz Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia.

Apesar dos temores de um possível descontrole dos preços por causa do choque agrícola e da expectativa de aumento dos combustíveis, a inflação deve continuar oscilando entre o centro e o teto da meta – 4,5% e 6,5%, respectivamente – até o fim do ano. Para o Banco Central, a probabilidade de que a inflação ultrapasse o limite é de apenas 3%, segundo relatório trimestral de junho.

Dentro dessa margem que vai do centro ao teto, no entanto, a projeção do mercado para o índice oficial da inflação (o IPCA) vem sendo elevada: passou de 4,85% para 5,15% ao longo das últimas seis semanas.

Para incentivar a economia, o governo lançou mão de medidas de incentivo. Como em 2008, reduziu o IPI para eletrodomésticos da linha branca e automóveis. Vem barrando os reajustes da gasolina e absorvendo os custos para não repassá-los aos consumidores. E já projeta uma desoneração de cerca de 10% para a energia elétrica nos próximos meses.

Embora estejam ajudando a conter o avanço da inflação, essas medidas ainda não surtiram o efeito desejado na atividade econômica. "Historicamente, medidas de incentivo ao consumo têm impactos marginais decrescentes quando reeditadas", afirma o economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Flávio Combat.

A expectativa, segundo ele, é de que esses estímulos surtam efeito neste semestre. "Esperamos que haja uma retomada da atividade, mas a oferta vai precisar ser compatível com a demanda para não pressionar a inflação", diz. Para Combat, não há razões para temer um descontrole. "Os índices estão compatíveis com as projeções do Banco Central."

A grande preocupação vem do possível aumento dos combustíveis. Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, desde 2009 o preço do diesel e da gasolina está defasado em relação ao mercado internacional. Na semana passada, essa defasagem atingiu 24% na gasolina e 27% no diesel. Com o preço baixo, o consumo da gasolina e do diesel cresceu 12% e 7%, respectivamente, no primeiro semestre do ano, levando a um aumento das importações. "De janeiro a junho, a área de abastecimento da Petrobrás acumulou um prejuízo de R$ 7 bilhões", diz o especialista.

Para Pires, o governo perdeu a oportunidade de reajustar os combustíveis no início do ano, quando a inflação estava mais controlada. Agora a expectativa do mercado é de que o aumento – de 8% a 10% – ocorra só após as eleições ou, o mais provável, em 2013.

Banco Central vai continuar reduzindo os juros, preveem analistas

Embora crescente, a inflação não deve afetar a política de redução dos juros promovida pelo governo, segundo percepção dos analistas. "Nos últimos anos, a inflação tem oscilado em torno de 5%, apesar da volatilidade das taxas de juros", afirma o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Heron do Carmo. Hoje a taxa básica de juros (Taxa Selic) está em 8% ao ano, devendo chegar a 7,5% ou 7,25% até o fim de 2012, na opinião de boa parte dos analistas. O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, definirá a nova taxa na próxima quarta-feira.

Para Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, o Banco Central está bastante alinhado com a política do governo: "Estamos diante de uma nova postura do Banco Central, que tem se mostrado mais preocupado em estimular a atividade econômica do país do que em manter um controle rígido dos preços". Contudo, para Combat isso não sinaliza o abandono do regime de metas de inflação pelo BC, sobretudo por causa do histórico hiperinflacionário do país.

Entraves

O cenário econômico mun­­­dial é um dos fatores que tem dificultado a retomada da atividade no Brasil. No ano passado, quando o mercado externo estava aquecido, o real valorizado dificultava as exportações dos produtos brasileiros. Agora o câmbio está favorável, mas os grandes compradores do Brasil, como a China e os Estados Unidos, desaceleraram um pouco. Para o professor Heron do Carmo, da USP, essa desaceleração não vai afetar o mercado brasileiro de grãos – que já vem sendo muito procurado para suprir a demanda mundial–, mas pode comprometer a exportação de minérios.

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