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O Congresso do México aprovou na quarta-feira (10) um aumento significativo nas tarifas de importação de 1.463 produtos de 12 países. O "tarifaço mariachi" impõe uma tarifa mínima de 35% e coloca o Brasil entre os mais afetados.
A nova política tarifária entra em vigor em 1.º de janeiro como parte do Plano México, iniciativa do governo da presidente Claudia Sheinbaum para fortalecer a produção doméstica e combater a triangulação de produtos chineses via território mexicano.
A estratégia visa barrar mercadorias fabricadas na China que usam o México como porta de entrada para driblar tarifas norte-americanas, e proteger 320 mil empregos.
A proposta foi aprovada com facilidade nas duas casas do Parlamento. Segundo o Senado mexicano, a lei busca "implementar ações concretas que permitam uma interação equilibrada do mercado". O objetivo é evitar distorções econômicas que afetem setores produtivos estratégicos e atrair empresas e indústrias de alto valor agregado.
Assim, o México passa a cobrar tarifas sobre produtos de setores industriais, incluindo têxtil, siderúrgico, eletrodomésticos, autopeças, eletrônicos, plásticos e químicos, além de semimanufaturados de aço e alumínio.
Além do Brasil, países como Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Rússia, Tailândia, Turquia e Vietnã foram atingidos. No caso brasileiro, setores-chave das exportações, como o automotivo, o têxtil, vestuário, plásticos, eletroeletrônicos e calçados, serão afetados.
Brasil busca acordo comercial para proteger US$ 7,1 bilhões em exportações
O México é o sexto maior destino das exportações brasileiras, atrás de China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Espanha. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre janeiro e novembro de 2024 o Brasil vendeu US$ 7,1 bilhões em mercadorias ao mercado mexicano, com queda marginal de 1% em relação ao mesmo período de 2024.
Apesar da leve retração, o México ganhou importância na pauta brasileira, subindo uma posição no ranking e ocupando o lugar que era de Singapura.
Na pauta de exportações, cinco dos dez produtos mais vendidos para o México são do agronegócio: carnes de aves, bovina e suína, soja e café. Outros três estão ligados à indústria automotiva: veículos comerciais, de passageiros e autopeças. Completam a lista aviões comerciais e produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado.
Os três maiores crescimentos nas exportações nesse período foram de aviões comerciais — que não registraram vendas no mesmo período de 2024 —, carne bovina (alta de 235%) e carne suína (81,1%).
O desempenho, no entanto, pode ser comprometido pela falta de proteção tarifária. Embora acordos setoriais existentes entre Brasil e México cubram parte do comércio (automotivo, borracha, plásticos, máquinas, sabões e cremes dentais), mais de 70% do comércio bilateral permanece desprotegido.
Diante dessa ameaça, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) está defendendo uma aceleração nas negociações de um acordo de livre comércio com o México. Em declaração feita na semana passada, Ricardo Alban, presidente da CNI, alertou que "é preciso acelerar a negociação de um acordo de livre comércio" para proteger as exportações brasileiras.
Tarifas do México acompanham com PIB em contração e alta informalidade
A medida protecionista chega em meio a uma crise econômica no México. O país registrou contração do PIB de 0,3% no terceiro trimestre de 2025, com projeção de crescimento anêmico de apenas 0,7% para o fechamento do ano.
A demanda doméstica está debilitada, com queda no consumo privado devido à desaceleração da massa salarial. A formação bruta de capital fixo teve queda severa de 7,3% no acumulado do ano, prejudicada por um ambiente de incerteza gerado por reformas judiciais internas e pela volatilidade política externa.
A deterioração econômica se manifesta de forma ainda mais aguda no mercado de trabalho. A geração de emprego formal atingiu seu nível mais baixo desde 2010 (excluindo 2020, ano marcado pela pandemia de Covid-19), com a informalidade ultrapassando 55%, segundo dados do governo mexicano. O cenário fecha um ciclo vicioso: menos empregos formais reduzem a massa salarial, que por sua vez deprime o consumo e agrava a estagnação.
A economia mexicana atual assemelha-se a um veículo tentando subir uma ladeira com o freio de mão puxado: o motor (exportações para os EUA) ainda funciona, mas o freio de mão (queda no investimento interno e incerteza jurídica) limita o avanço, enquanto o motorista decide trocar os pneus em movimento (imposição de tarifas protecionistas) para evitar que o carro derrape na curva geopolítica.
Segundo relatório do banco espanhol BBVA divulgado na quarta-feira (10), as perspectivas para o médio prazo indicam uma recuperação lenta, com riscos fiscais crescentes. Espera-se uma elevação moderada do PIB para 1,2% em 2026, mas as finanças públicas preocupam.
Sem uma reforma tributária ou ajustes de gastos significativos, o déficit público elevado deve persistir, podendo levar a dívida pública a 58% do PIB até 2030, o que ameaça a nota de crédito soberana e a manutenção do grau de investimento do país.
A guinada protecionista do México ocorre quando o país se prepara para a revisão do Tratado de Comércio com Estados Unidos e Canadá (USMCA), prevista para 2026, em meio às ameaças constantes do presidente norte-americano, Donald Trump.
Para o Brasil, a urgência agora é acelerar as negociações de um acordo bilateral que proteja as exportações e evite perdas significativas em setores estratégicos.




