
Temendo efeitos mais agudos da crise argentina na balança comercial, o Brasil começa a ceder e pretende enviar uma missão a Buenos Aires nesta sexta-feira para tratar das relações com o principal parceiro do Mercosul. Uma das alternativas oferecidas pelo governo brasileiro é a ampliação das transações com pagamento em moeda local. Com isso seria possível fazer operações sem o uso de dólares.
As transações entre os dois países teria estrutura de garantia em dólares dos bancos centrais. Com esse sistema, exportadores e importadores brasileiros e argentinos poderiam usar pesos e reais para fazer pagamentos por meio de uma instituição bancária.
Outra proposta em estudo pelos dois governos é a criação de uma linha de crédito à exportação de até US$ 2 bilhões. O prazo para se fazer as operações seria de três meses, com renovação automática, mas sem garantia do Tesouro brasileiro. A medida seria um auxílio para grandes exportadores, responsáveis por 50% do comércio bilateral. Nesse segmento estão indústrias de automóveis, autopeças, máquinas e equipamentos.
Conforme fontes do governo informaram ao jornal O Estado de S.Paulo, as bases do acordo estão prontas e os argentinos mostraram-se receptivos à proposta. A intenção do governo brasileiro com as medidas é também melhorar as condições de pequenos e médios importadores e exportadores, a exemplo dos fabricantes da calçados.
Sem efeito
As alternativas em estudo dividem a opinião de especialistas. O diretor de Comércio Exterior da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi), Mário Camargo, diz que a proposta de usar moeda local nas transações já existe entre Brasil e Argentina, ao contrário do Brasil com o Paraguai. No entanto, a prerrogativa praticamente não é usada em razão das barreiras não tarifárias criadas pela burocracia argentina. "Tanto em moeda local como em dólar o procedimento burocrático é o mesmo. Eles demoram 90, 120 dias e tem caso de até um ano para autorizar uma importação", diz.
O professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Demian Castro considera as medidas paliativas. Ele diz que a questão mais importante no momento seria a Argentina ter a suficiente humildade e postura diplomática para chegar aos governos e dizer que precisa ter o alívio da dívida gerada. "A Argentina precisa mostrar que a economia vai começar a se mexer".
Castro, que nasceu na Argentina, critica a postura da presidente Cristina Kirchner de se digladiar com o setor agroexportador, o único que gera dólares para o país. "Você não pode ficar dando paulada na galinha dos ovos de ouro, a não ser que se tenha muita certeza de que daqui a cinco anos a indústria vai tomar conta do pedaço", afirma.



