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Para Marcelo Taulois, presidente da Aker Solutions, seria melhor para a cadeia de fornecedores se houvesse competição entre operadoras | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Para Marcelo Taulois, presidente da Aker Solutions, seria melhor para a cadeia de fornecedores se houvesse competição entre operadoras| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Paraná - Indústria prepara expansão

Longe de ser um protagonista do setor, o Paraná tem chances de receber ao menos uma pequena fatia do bolo de mais de US$ 100 bilhões que a Petrobras prevê investir até 2020 para explorar o pré-sal. O estado hospeda uma tradicional fornecedora do setor – a Aker Solutions, de Curitiba – e pode ganhar uma fábrica de outra companhia de origem norueguesa, a Subsea 7. Dona de um terreno com acesso ao mar em Paranaguá, onde poderá construir um terminal próprio, a Subsea 7 anunciou em fevereiro planos para produzir dutos flexíveis na cidade, de olho em contratos do pré-sal da Bacia de Santos.

Fabricante de árvores de natal molhadas (ANMs, equipamentos gigantescos que controlam a vazão de poços de petróleo no fundo do mar), a Aker Solutions está investindo US$ 22 milhões em novas máquinas para a fábrica de Curitiba. A ideia é dobrar sua capacidade de produção até 2010, quando começa a entregar um lote de nove ANMs para o projeto-piloto do campo de Tupi, em um contrato de 45 milhões de euros (quase R$ 120 milhões). (FJ)

A possibilidade de a Petrobras ser a única operadora do pré-sal não incomoda apenas as petroleiras privadas. Grandes e pe­­quenos fornecedores do setor também andam preocupados: seu mercado corre o risco de ser reduzido a um único cliente, que terá o poder de comprar todas as peças e equipamentos para a exploração dos novos campos.

"É positivo, até para as operadoras internacionais, que a Petrobras tenha um dedo no pré-sal, porque o conhece muito bem. O risco é se elas interpretarem a nova regulação como uma barreira à sua atuação", diz Marcelo Taulois, presidente da Aker Solutions, multinacional norueguesa que tem uma fábrica de equipamentos em Curi­tiba. "Para gerar empregos e desenvolver toda a cadeia, é preciso haver várias frentes de exploração. Com várias operadoras, cresce a demanda e cresce o mercado."

Logo que o governo anunciou seu projeto, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) manifestou a opinião de que, do ponto de vista da concorrência e da competitividade, a exclusividade para a Petrobras pode ser ruim. A avaliação da maioria dos analistas é semelhante. "Se o processo de contratação não for transparente, o mercado ficará refém de preferências que não são necessariamente genuínas e benéficas", diz a especialista em legislação de energia Daniela Santos, do escritório L.O. Baptista Advogados.

Esse contexto prejudicaria não só os fornecedores, mas a própria Petrobras, segundo o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "O modelo de monopsônio [apenas um comprador e vários vendedores] dá margem a manobras políticas. A Petrobras poderá impor preços injustos, ou simplesmente cismar com um fornecedor, e não comprar dele. Por outro lado, quem tiver bons contatos na Petrobras pode ser favorecido, em detrimento das melhores propostas, e nesse caso a estatal também perde."

Parceira ideal

O economista Edmar de Al­­meida, do Grupo de Eco­no­mia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também critica o modelo de "cliente único". Mas pondera que, no sistema atual, a Pe­­trobras já opera quase todos os campos brasileiros – e tem a seu favor o fato de conduzir elogiados programas de desenvolvimento do mercado fornecedor.

O pesquisador José Augusto Gaspar Ruas, do Núcleo de Eco­nomia Industrial e Tecnologia da Unicamp, vai mais longe. Para ele, quanto maior a participação da estatal, melhor para a cadeia produtiva. "A Petrobras tem uma política clara de nacionalização de componentes e um conhecimento profundo do mercado local. As multinacionais, não."

Fôlego

Independentemente do modelo que o Congresso aprovar, o governo terá de dar mais atenção a outro aspecto fundamental para que o pré-sal deslanche: financiamento para a indústria de base. O alerta é de Marcelo Taulois, presidente da Aker. "Nós temos fôlego para atender à demanda futura. Mas a indústria de base, que fornece para a gente, não. O governo precisa criar linhas de crédito mais baratas para que os meus fornecedores tenham confiança para investir, comprar máquinas e capacitar funcionários."

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