
A possibilidade de a Petrobras ser a única operadora do pré-sal não incomoda apenas as petroleiras privadas. Grandes e pequenos fornecedores do setor também andam preocupados: seu mercado corre o risco de ser reduzido a um único cliente, que terá o poder de comprar todas as peças e equipamentos para a exploração dos novos campos.
"É positivo, até para as operadoras internacionais, que a Petrobras tenha um dedo no pré-sal, porque o conhece muito bem. O risco é se elas interpretarem a nova regulação como uma barreira à sua atuação", diz Marcelo Taulois, presidente da Aker Solutions, multinacional norueguesa que tem uma fábrica de equipamentos em Curitiba. "Para gerar empregos e desenvolver toda a cadeia, é preciso haver várias frentes de exploração. Com várias operadoras, cresce a demanda e cresce o mercado."
Logo que o governo anunciou seu projeto, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) manifestou a opinião de que, do ponto de vista da concorrência e da competitividade, a exclusividade para a Petrobras pode ser ruim. A avaliação da maioria dos analistas é semelhante. "Se o processo de contratação não for transparente, o mercado ficará refém de preferências que não são necessariamente genuínas e benéficas", diz a especialista em legislação de energia Daniela Santos, do escritório L.O. Baptista Advogados.
Esse contexto prejudicaria não só os fornecedores, mas a própria Petrobras, segundo o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "O modelo de monopsônio [apenas um comprador e vários vendedores] dá margem a manobras políticas. A Petrobras poderá impor preços injustos, ou simplesmente cismar com um fornecedor, e não comprar dele. Por outro lado, quem tiver bons contatos na Petrobras pode ser favorecido, em detrimento das melhores propostas, e nesse caso a estatal também perde."
Parceira ideal
O economista Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também critica o modelo de "cliente único". Mas pondera que, no sistema atual, a Petrobras já opera quase todos os campos brasileiros e tem a seu favor o fato de conduzir elogiados programas de desenvolvimento do mercado fornecedor.
O pesquisador José Augusto Gaspar Ruas, do Núcleo de Economia Industrial e Tecnologia da Unicamp, vai mais longe. Para ele, quanto maior a participação da estatal, melhor para a cadeia produtiva. "A Petrobras tem uma política clara de nacionalização de componentes e um conhecimento profundo do mercado local. As multinacionais, não."
Fôlego
Independentemente do modelo que o Congresso aprovar, o governo terá de dar mais atenção a outro aspecto fundamental para que o pré-sal deslanche: financiamento para a indústria de base. O alerta é de Marcelo Taulois, presidente da Aker. "Nós temos fôlego para atender à demanda futura. Mas a indústria de base, que fornece para a gente, não. O governo precisa criar linhas de crédito mais baratas para que os meus fornecedores tenham confiança para investir, comprar máquinas e capacitar funcionários."
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