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Pátio da Renault em São José dos Pinhais: motadora fez um PDV que pode desligar até mil funcionários | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Pátio da Renault em São José dos Pinhais: motadora fez um PDV que pode desligar até mil funcionários| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Demissões se multiplicam nos fornecedores

Quando o setor automotivo entra em crise, as demissões não se restringem às montadoras de carros, caminhões, ônibus, tratores e colheitadeiras. Elas se multiplicam pela cadeia de fornecedores de autopeças e fabricantes de equipamentos auxiliares, como os implementos rodoviários (semirreboques, caçambas e outros itens acoplados aos caminhões). Não foi diferente em 2014.

No Paraná, as fabricantes de veículos e máquinas agrícolas dispensaram 1.666 pessoas de janeiro a dezembro, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os fabricantes de autopeças e de reboques e carrocerias demitiram o dobro: 3.308 funcionários perderam o emprego. Em todo o Brasil, as montadoras cortaram 12,3 mil vagas e as demais empresas do setor, 36,1 mil – quase o triplo.

Dificuldades

Fornecedora de eixos para picapes e veículos pesados, a norte-americana AAM reduziu em cerca de 20% o quadro de pessoal da fábrica que tem em Araucária (Região Metropolitana de Curitiba). E espera mais dificuldades em 2015.

"Atuamos no mercado de veículos comerciais, que está pior que o de automóveis. As empresas querem gerar empregos e riquezas. Mas, se não tomarem medidas para cortar custos, não conseguirão manter as portas abertas", diz Sidney Del Gaudio, presidente da AAM na América do Sul.

As montadoras de veículos e máquinas agrícolas demitiram 12,3 mil pessoas em todo o país no ano passado, no maior corte de empregos desde 1998. E não devem parar por aí. Para consultores da indústria automotiva, o quadro de pessoal das empresas ainda não está completamente ajustado à demanda, que caminha para o terceiro ano seguido de retração.

INFOGRÁFICO: Veja alguns números da indústria automotiva

No ano passado, algumas montadoras recorreram a instrumentos de curto prazo, como férias coletivas e suspensão de contratos de trabalho (layoff). Mas, dados os reiterados sinais de que a economia brasileira continuará patinando, 2015 começou com as medidas mais extremas.

Segundo a Anfavea, representante das montadoras, o setor fechou 400 postos de trabalho em janeiro. No Paraná, a fabricante de tratores e colheitadeiras Case New Holland (CNH) dispensou 270 trabalhadores, e a Renault abriu um plano de demissões voluntárias (PDV) que, pelas estimativas do sindicato local, pode resultar em corte de 500 a mil funcionários. Em outros estados, houve cortes na Mercedes-Benz e há PDVs na MAN e na Volkswagen.

"Em 2014 vimos muitas medidas temporárias, mas chegou o momento de a indústria se adequar definitivamente à demanda. Teremos mais PDVs e mais perda de empregos", diz Martin Bodewig, diretor da consultoria Roland Berger. Segundo ele, neste ano o mercado brasileiro ficará, na melhor das hipóteses, estável, com chances de cair 3% ou 4%.

"A economia continua fraca, o consumidor não tem confiança e o financiamento ficou mais difícil. Por último, o governo não parece querer ajudar o setor como fez no passado", explica. "Isso fará as montadoras se voltarem um pouco para as exportações. O problema é que o maior mercado, a Argentina, está fraco."

Ajuste natural

Para Orlando Merluzzi, presidente da MA8 Management Consulting Group, a indústria se preparou para um crescimento que não ocorre há alguns anos, e por isso enfrenta agora "um processo natural de ajuste". Para ele, o mercado de veículos (carros, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas) deve recuar de 8% a 12% em 2015.

Um estudo da MA8 constatou que, em 14 anos, a produção de veículos cresceu mais de 130%, ao passo que o faturamento por empregado avançou 18% e a receita por veículo, já descontados os impostos, caiu 12% em dólar. "Em 2007, tínhamos 20 fábricas no país. Hoje são 28, e há sete em construção. Ou seja, o setor se preparou para um mercado que não chegou ao tamanho esperado", conclui Merluzzi.

O consultor Raphael Galante, da Oikonomia, projeta uma queda de 4% a 6% nas vendas de automóveis e comerciais leves em 2015. "Não será igual para todas as marcas. Algumas podem até crescer. Mas quem tem produtos defasados ou tem arranhões na imagem vai sofrer", prevê.

O mercado de caminhões, avalia, deve encolher mais, de 10% a 12%. "Caminhão é investimento. E os empresários estão cortando investimentos, mesmo à custa de uma produtividade menor", diz Galante, para quem o maior impacto se dará sobre fabricantes de veículos pesados. É o caso da Volvo, com fábrica em Curitiba, cujas vendas caíram 43% no mês passado, em relação a janeiro de 2014.

China puxará retomada do mercado em 2017, prevê consultor

Depois de recuar perto de 10% em 2015 e andar de lado em 2016, o mercado brasileiro de automóveis voltará a crescer a partir de 2017. A previsão é do presidente da MA8 Management Consulting Group, Orlando Merluzzi, e se baseia na premissa de que a China voltará a crescer com força daqui a dois anos – o que elevaria os preços das commodities (como minério de ferro e soja), impulsionando a economia brasileira e, por tabela, as vendas de veículos.

"A China vai puxar o mundo de novo, com um ciclo de fomento ao consumo e ao financiamento. O presidente Xi Jinping prometeu que vai dobrar o PIB chinês até 2022, e quando um líder chinês faz uma promessa, costuma cumprir", diz Merluzzi, cuja empresa também atua na China.

Se a hipótese da "segunda onda" da China se confirmar, a produção da indústria automotiva brasileira crescerá 5,6% ao ano de 2017 a 2022, estima a MA8. Caso contrário, o setor deve crescer em média 1,4% ao ano nesse período.

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