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Empresário e presidente de honra do Grupo Votorantim, Moraes foi o responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, em 1955. | Divulgação
Empresário e presidente de honra do Grupo Votorantim, Moraes foi o responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, em 1955.| Foto: Divulgação

Trajetória

Família grande e dramaturgia fazem parte da história de Ermírio

Ermírio nasceu em São Paulo em 4 de junho de 1928. Estudou no Colégio Rio Branco. Casou-se com Maria Regina Costa de Moraes. A lua de mel foi na Europa visitando fábricas.

Tiveram nove filhos. Dois morreram de câncer: Mario, em 2009, aos 51, e Carlos, em 2011, aos 55 anos.

A família grande almoçava em cantina barulhenta na rua Augusta. Em finais de semana, passeava pela praia de Bertioga e cantarolava o "Chico Barrigudo", lembra a filha Rosa Helena no livro comemorativo aos 80 anos de Ermírio.

Trabalhador obsessivo no seu escritório na praça Ramos de Azevedo, desde 1963 também se dedicava à administração da Beneficência Portuguesa, fazendo o hospital crescer.

Em meados dos anos 1990 passou a escrever peças de teatro. É autor de três: "Brasil S/A" (1994), sobre a saga de um empresário, "SOS Brasil" (1999), que trata do descalabro na saúde, e "Acorda Brasil" (2006), enfocando o problema da educação.

Escreveu a coluna vertical da página A-2 da Folha de 1991 a 2008. Foram 868 textos. Alguns estão na coletânea "Educação Pelo Amor de Deus!" (Editora Gente, 2006). Em 2007 publicou "Somos Todos Responsáveis" (Gente).

Atuação

Empresário foi crítico da ditadura e tentou carreira política

Em 1978, Antônio Ermírio de Moraes lançou, um manifesto histórico que ficou conhecido como "Documento dos Oito", em parceria com Jorge Gerdau, José Mindlin, Severo Gomes, Paulo Villares, Cláudio Bardella, Laerte Setúbal Filho e Paulo Vellinho. No texto, os empresários pediam mudanças na política econômica e a volta da democracia. Leia mais

Veja artigos de Antônio Ermírio de Moraes publicados na Gazeta:

Política urgente de empregosLeia o texto

A prioridade democráticaLeia o texto

Morreu na noite deste domingo (24), em São Paulo, aos 86 anos, o empresário e presidente de honra do Grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes. Em nota oficial, o Grupo Votorantim comunicou que ele faleceu em casa, por insuficiência cardíaca.

Antônio Ermírio era engenheiro metalúrgico formado pela Colorado School of Mines (EUA) e iniciou sua carreira no Grupo em 1949. Foi o responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, inaugurada em 1955. Deixa a esposa, Maria Regina Costa de Moraes, e nove filhos.

O corpo do empresário será velado a partir das 9 horas desta segunda-feira (25), no Salão Nobre do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e o cortejo sairá às 16h rumo ao Cemitério do Morumbi, onde o corpo será enterrado.

Império

Antônio Ermírio de Moraes, que morreu na noite deste domingo (24) aos 86 anos, construiu um dos maiores impérios econômicos do país e foi uma liderança empresarial ímpar em mais de 50 anos de história brasileira. Sem receio de gerar desafetos, criticou a ditadura militar e a atuação de multinacionais.

Na redemocratização, viu frustrada sua tentativa de governar São Paulo. Na privatização dos anos 1990, perdeu a disputa pela Vale do Rio Doce, porém se orgulhava em dizer que "saiu limpo" do processo. Investiu em saúde e virou dramaturgo.

Atacou os bancos, mas acabou se tornando banqueiro. Chegou a ser o homem mais rico da América Latina, contudo tinha ojeriza à ostentação. Vestia ternos simples e não se preocupava com o ajuste das gravatas. Passou quase toda a vida sem guarda-costas. Considerava a elite local muito egoísta.Foi em 1962 que Ermírio assumiu o controle do grupo Votorantim. A história empresarial da família tinha começado com o avô, um imigrante português que chegou ao Brasil com 13 anos tendo só feito alguns anos do ensino primário.

Carreira

Instalou uma banca de sapatos (depois teria uma fábrica de tecidos) em Sorocaba, no interior de São Paulo. Na região, no início do século 20, também nascia o império do imigrante Matarazzo, que chegou deter o maior complexo industrial da América do Sul. Ao contrário dos Matarazzo, os Ermírio de Moraes não sucumbiram às mudanças da economia.

O pai de Antônio, José, foi senador por Pernambuco e ministro da Agricultura do governo João Goulart em 1963. Formou-se em engenharia metalúrgica na Colorado Scholl of Mines, nos Estados Unidos.

Antônio foi fazer o mesmo curso lá. Vivia numa pensão e, para economizar, comia muitos sanduíches. Para comemorar a melhor nota da turma, tomou uísque pela primeira vez. Foi parar no hospital e ficou sabendo que tinha só um rim. Nunca mais bebeu.

À frente da companhia, percorreu o interior do país buscando jazidas de níquel e de cobre. Nessa toada, ficou uma semana nas entranhas do Piauí comendo exclusivamente frutas do agreste.

Quando o grupo já se estendia por 17 Estados pelas áreas de cimento, aço, tecidos e papel, Antônio Ermírio passou a se destacar como líder empresarial. Ao receber uma premiação em 1977, em plena ditadura, declarou não acreditar no "milagre econômico" e disse nunca ter lido os planos de desenvolvimento dos militares.

Num discurso para seus pares, conclamou os empresários a resistir contra o avanço do capital externo: "Estabeleçam-se, lutem com honestidade e não pensem na chamada economia de escala. E, quando alguma multinacional os procurar, resistam".Em entrevista no mesmo ano, Ermírio disse que as empresas estrangeiras não passavam de parasitas: "Se aproveitam de todas as facilidades que o governo brasileiro oferece, de mão de obra barata que encontram aqui, sugam o que podem e nada fica no Brasil. Acho que Kurt Mirow colocou muito bem a questão em seu livro 'A Ditadura dos Cartéis'".

Para Ermírio, o Brasil estava "entregando ouro aos bandidos". Criticava o aumento da dependência econômica e empresários que queriam ficar ricos e não se incomodavam em "serem usados pelas multinacionais".Naquela época, a ditadura começava a se ver pressionada. O Congresso tinha sido fechado, e os militares tentavam sufocar protestos. As fissuras no poder se tornavam mais claras.

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