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Após três anos assistindo movimentos ousados dos principais rivais no xadrez do mercado bancário, o Bradesco passou por alguns movimentos recentes que avivaram a imaginação de especialistas do setor.

Seriam o aumento do limite para presença estrangeira no capital votante de 14 para 45%, o lançamento de ADRs para ações ordinárias e a saída do português BES do capital do banco o prenúncio de uma grande tacada para retomar a ponta entre as instituições financeiras privadas no Brasil, perdida em 2008 com a união de Itaú e Unibanco?

Se sim, isso implica na entrada de um grande parceiro e até uma guinada estratégica rumo à internacionalização?

Analistas consultados pela Reuters acreditam que crescer para fora do país é inevitável para o Bradesco e a instituição sabe que, num prazo mais longo, não terá escolha.

"O banco não pode ficar parado e vai seguir este caminho também", diz o sócio da Engenheiros Financeiros Carlos Coradi.

"Não tenho dúvidas de que o assunto está na pauta do banco", emenda o economista João Augusto Frota Salles, da RiskBank.

Os planos além Brasil existem. Engana-se, porém, quem pensa que o Bradesco está correndo atrás de Banco do Brasil e Itaú Unibanco para espalhar filiais pela América Latina. Pelo menos nas operações de varejo.

Para executivos do Bradesco, ainda não se divisa o horizonte em que o mercado doméstico já não será grande o bastante. "O plano é Brasil. As maiores oportunidades estão no Brasil e vão continuar no Brasil por vários anos", disse à Reuters o vice-presidente do banco Norberto Barbedo.

Atualmente, o único vetor de expansão da companhia para fora do país é um estudo de parceria com BB e BES para expandir as operações do banco português na África.

Fora isso, a movimentação se resume a ampliar operações já existentes. Hoje o Bradesco tem escritórios em Luxemburgo, Nova York, Buenos Aires e Cayman, cuja missão principal é captar recursos no exterior para empresas brasileiras. A unidade europeia e a mais recente em Hong Kong também prestam serviços de gestão de recursos.

"Vamos reforçar nossa operação na Argentina, aumentando nosso time lá, e talvez expandir em outros mercados", disse o também vice-presidente do Bradesco Domingos Abreu.

É um discurso bem distinto do usado pelo BB, que comprou o argentino Patagônia e o norte-americano Eurobank, pediu aval para entrar no Uruguai e admitiu que negocia a entrada no Chile e em Portugal.

Mas mesmo no varejo doméstico a atuação do Bradesco, outrora um dos mais agressivos consolidadores na época das privatizações de bancos estaduais, tem sido mais tímida nos últimos anos pós-crise.

Sem grandes fusões ou a retaguarda do governo que catapultou BB e Caixa Econômica Federal, o Bradesco foi o que cresceu mais devagar nos últimos anos. Em ativos, desde 2007 até o final de março, o Bradesco cresceu 98 por cento, enquanto Itaú Unibanco avançou 164 por cento. O BB evoluiu 142 por cento e o Santander Brasil deu um salto de 231 por cento. A Caixa foi a líder em termos percentuais, com 243 por cento.

Entre outros motivos, esses números refletem o fato de o Bradesco ter perdido a corrida por ativos como o Votorantim (que teve metade comprada pelo BB). Mais recentemente, foi batido pelo Itaú na briga por 49 por cento do Banco Carrefour.

A julgar pelo comportamento das ações, no entanto, isso parece não incomodar investidores. As ações do Bradesco acumulam leve alta no acumulado dos últimos três anos, desempenho semelhante ao dos papéis de Itaú e BB.

O foco tem sido, e continuará a ser, o de crescer organicamente no mercado doméstico devido à expansão esperada das classes de consumo, diz o vice-presidente Barbedo.

O estoque de crédito no Brasil equivale a 46,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 20 pontos percentuais acima do visto dez anos atrás, segundo o Banco Central.

Nesse contexto, o banco tem apostado na campanha "Presença", inaugurando de 150 a 200 agências por ano para alcançar o maior número possível de municípios no país.

Para Frota Salles, da RiskBank, mesmo esperando que o ritmo do avanço daqui para frente será menor, o país ainda seguirá como prioridade do Bradesco nos próximos cinco anos.Retorno sobre patrimônio

Simultaneamente, o Bradesco tem conseguido ganhar escala sem machucar a muito a rentabilidade, item do banco para o qual analistas torciam o nariz no passado.

"A ação do Bradesco antes negociava com desconto em relação ao Itaú, mas a gente viu que ao longo dos últimos anos esse desconto caiu fortemente, o que quer dizer que o mercado acha que eles estão melhorando em eficiência", disse a gestora de recursos Roseli Machado, da Fator.

De fato, um estudo divulgado pela Economatica mostrou que no período de 12 meses encerrado em março o Bradesco foi o segundo banco mais rentável das Américas. Sua rentabilidade sobre patrimônio era de 22,3 por cento, só atrás da do BB, com 26,5 por cento.

Capitalização à vista?

Se do ponto de vista operacional o plano de voo segue preferencialmente na rota doméstica, no societário o destino pode ser diferente.

O gatilho pode ser o crédito, que vem crescendo bem mais rápido do que os bancos conseguem reforçar o capital. Mantido perto dos níveis atuais, os bancos brasileiros terão que recorrer nos próximos anos a aumentos de capital para dar algum conforto ao índice de Basileia. É o que já fizeram desde 2008, por caminhos distintos, BB, Santander Brasil e Caixa.

Em março, o Basileia do Bradesco era de 15 por cento, ainda confortavelmente acima do piso de 11 por cento exigido pelo BC. Para Frota Salles, as regras de Basileia 3 que vão vigorar nos próximos anos devem exigir mais dos bancos no país.

"De agora em diante, os bancos brasileiros vão ter que conviver com aumentos de capital a cada dois a três anos", disse à Reuters em abril o presidente do BB, Aldemir Bendine.

Tal cenário tem sido um terreno fértil para especulações. Na semana passada correram rumores de que o Bradesco estaria negociando uma parceria com o BTG Pactual, envolvendo o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, que também era braço direito da Bradespar, unidade do Bradesco.

O BTG controla o Banco Panamericano, cujo presidente José Luiz Acar Pedro anos atrás chegou a disputar a presidência do Bradesco com o atual presidente Luiz Carlos Trabuco.

Segundo o vice-presidente Abreu, "não há uma plano de parceria mais forte em andamento".

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