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extrema pobreza
Desigualdade social tende a persistir no terceiro mandato de Lula, segundo estudo da consultoria Tendências.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Resumo desta reportagem:

  • Novo salário mínimo e reformulação do Bolsa Família favorecem crescimento de renda dos mais pobres em 2023
  • Porém, classes A e B terão crescimento de renda muito superior ao das outras faixas de renda a partir de 2025, aponta estudo.
  • Educação não revertida em ganhos de produtividade dificulta a mobilidade social

Uma das principais promessas de campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ano passado, era reduzir a desigualdade social. Mas o espaço para o cumprimento dessa meta em seu mandato é pequeno, mesmo diante da expectativa de retomada da economia nos próximos anos.

Um estudo feito pela Tendências aponta que o crescimento de renda nas diferentes classes sociais deve ser mais parelho em 2023 e 2024. Porém, a partir de 2025 o avanço do rendimento médio domiciliar das classes A e B – aquelas que ganham mais de R$ 7,6 mil mensais, segundo critério da consultoria – tende a ser bem superior ao das demais classes.

“A heterogeneidade entre as classes sociais deve se manter no governo Lula. Não há grandes chances de migração das classes D e E – que ganham até R$ 3,2 mil mensais e e estão mais sujeitas à informalidade e aos baixos salários – irem em direção à classe média”, destaca o analista Lucas Assis.

O maior entrave ao crescimento da renda nos estratos sociais mais pobres é a educação não revertida em produtividade. “O ingresso no mercado de trabalho é o principal meio de redução da pobreza, mas não é condição suficiente para superá-la”, informa relatório da consultoria.

A Tendências lembra que o mercado brasileiro é fortemente caracterizado por baixas remunerações, elevadas desigualdades entre grupos de população ocupada, altas taxas de informalidade e marcante heterogeneidade entre os setores produtivos.

Retomada tende a favorecer os mais ricos

A consultoria destaca que a retomada da economia tende a favorecer as classes mais altas. “A maior concentração de empregadores no topo da pirâmide social propicia um rápido reequilíbrio financeiro das famílias. Com rendimento atrelado aos ganhos de suas empresas, os donos de negócio buscam recuperar o padrão histórico de lucro, antes de reajustar salários e recontratar”, ressalta o estudo.

Formada por 2,9% dos domicílios e responsável por mais de um terço da massa de rendimentos, a classe A conta com elevada participação de outras fontes de renda como juros (remuneração do capital financeiro), aluguel (remuneração da propriedade) e lucros (valor excedente distribuído ou retido).

A renda dos domicílios dependentes de remuneração do capital financeiro deve ser beneficiada pelas altas taxas de juro. Mesmo com o corte da Selic, que passou de 13,75% para 13,25% ao ano no dia 2, a expectativa é de que a política monetária continue restritiva nos próximos meses.

A mediana das projeções do boletim Focus, do Banco Central, sinaliza para uma taxa básica de juro de 11,75% no final deste ano e de 9% no encerramento de 2024.

Outro fator que alimenta as expectativas mais favoráveis para as classes A e B é a redução nas incertezas sobre a economia, que estão nos níveis mais baixos desde novembro de 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). As expectativas de votação da reforma tributária no Senado e do arcabouço fiscal, na Câmara, estão contribuindo para isto.

Crescimento de renda deve ser parelho em 2023 e 2024, mas desigual na sequência

Para este ano, a consultoria projeta um crescimento de 6% na massa de renda total das classes A e B, inferior aos 6,4% das classes D e E. O dinheiro disponível para consumo e poupança vai crescer em um ritmo menor no ano que vem, cerca de 2%, motivado pelos efeitos dos juros elevados sobre o consumo e pelo desaquecimento da atividade econômica.

Porém, as projeções feitas pela consultoria Tendências indicam que, em 2025, a expansão da variação da massa de renda total da classe A vai ser quase quatro vezes maior que a das classes D e E. Em 2026, mais de cinco vezes maior.

Segundo a Tendências, a mobilidade social das classes D e E em direção à classe média deve ser mais lenta nos próximos anos, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade de renda.

É o contrário do que ocorreu no ano passado. Após ampliação dos estratos inferiores de renda em 2021, devido aos impactos da pandemia da Covid-19, houve migração das famílias mais pobres para classe média em 2022. Isto ocorreu em decorrência da recuperação intensiva em mão de obra, com destaque aos serviços prestados às famílias e ao setor público. O crescimento da ocupação foi impulsionado pelo aumento do emprego formal.

Novo salário mínimo e Bolsa Família ajudam mais pobres em 2023

O novo salário mínimo, que teve um crescimento real (já descontada a inflação) de 1,4%, e a reformulação do Bolsa Família, que deve ter um incremento de 28,1% em relação ao Auxílio Brasil, ampliaram a massa de rendimentos dos mais pobres em 2023.

O programa passou a garantir o valor mínimo de R$ 600 por família; o acréscimo de R$ 150 por criança de até seis anos e o adicional de R$ 50 por criança ou adolescente de 7 a 18 anos e por gestante; além de uma renda mínima per capita. Há, também, a expectativa de ampliação no número de famílias beneficiárias, mesmo com o pente-fino no Cadastro Único feito pelo governo federal.

A expectativa da Tendências é de que os pagamentos da Previdência Social devem avançar em 2023, beneficiada pela valorização real do piso previdenciário e a diminuição na fila de espera de novos pedidos.

Os impactos do ganho real no piso também devem se estender ao benefício de prestação continuada (BPC), destinado ao idoso com mais de 65 anos ou ao portador de deficiência de qualquer idade com renda per capita igual ou inferior a um quarto do salário mínimo.

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