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FINANÇAS

Na crise, bancos “punem” mais o consumidor que as empresas

Embora a inadimplência das pessoas físicas tenha ficado mais comportada, elas arcaram com os maiores aumentos nas taxas de juros

Fachada do Banco Central em Brasília | Banco Central/Divulgação
Fachada do Banco Central em Brasília (Foto: Banco Central/Divulgação)

Em dois anos e meio, a recessão desempregou quase 5 milhões de brasileiros e levou 3,2 mil empresas – das quais 533 de grande porte – a pedir recuperação judicial. Para lidar com o risco maior dos empréstimos, os bancos têm aumentado os juros quase sem trégua. E estão pesando bem mais a mão sobre as pessoas físicas.

Números levantados pelo Banco Central sugerem que o castigo imposto aos consumidores é desproporcional. As taxas de juros cobradas deles, que em condições normais já são maiores, subiram mais que as exigidas das empresas, apesar de os níveis de calote terem disparado no setor empresarial e ficado um pouco mais comportados entre as pessoas físicas.

Quando a recessão começou, no segundo trimestre de 2014, a inadimplência das pessoas físicas era de 4,09% da carteira total de empréstimos. Ela recuou um pouco na sequência, passou a subir em meados de 2015 e recentemente voltou a ceder, retornando ao patamar de 4,10%. Mesmo assim, a taxa média de juros cresceu de 31,14% para 41,85% ao ano, o que significa que pegar dinheiro emprestado ficou 34% mais caro para o brasileiro comum.

A inadimplência das pessoas jurídicas, por sua vez, subiu de 1,91% em abril de 2014, no começo da crise, para 3,15% em agosto deste ano – um salto de 65%. Em contrapartida, o custo do dinheiro para as empresas aumentou 32%, com a taxa média de juros subindo de 16,63% para 22% ao ano.

A discrepância no tratamento que os bancos dispensam a pessoas e empresas é ainda maior no chamado crédito livre, que exclui operações com recursos direcionados, como a habitação e financiamentos subsidiados ao setor produtivo. Nesse caso, o crédito para pessoas físicas ficou quase 50% mais caro, acompanhando um aumento de 10% no índice de calote. Para as empresas, cuja inadimplência avançou 60%, a taxa de juros subiu pouco menos de 30%, em média.

Empresas encrencadas

É inegável que a situação ficou menos confortável para os bancos. Com a renda das famílias e o faturamento das empresas corroídos pela retração econômica e pela inflação, o sistema financeiro aumentou as reservas para cobrir prováveis calotes. As chamadas provisões, que em abril de 2014 equivaliam a 4,9% do total emprestado, chegaram a 6,4% recentemente, o maior nível em mais de seis anos.

Parte importante desse movimento, no entanto, está ligada à penúria de grandes empresas, em especial as gigantes que pediram recuperação judicial ou são investigadas pela Lava Jato. Algumas se enquadram nos dois casos, como a Sete Brasil, que deve R$ 19 bilhões, e a OAS, com passivo de R$ 11 bilhões. Sozinha, a operadora Oi deve R$ 65 bilhões a bancos e fornecedores.

Tentando se antecipar, os bancos têm relaxado as condições de pagamento de companhias encrencadas. Em agosto, a incorporadora PDG Realty reestruturou R$ 4 bilhões em dívidas. Meses antes, a Rossi Residencial anunciou ter renegociado 90% de sua dívida bancária. A Gol e a varejista Camisaria Colombo também sentaram à mesa em busca de condições melhores.

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