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“Ninguém sai”, diz Alemanha sobre o euro

Ministro alemão quer dar fim a especulações sobre a possibilidade de algum país deixar a moeda única europeia

O euro chegou a um ponto em que os países não teriam como sair do sistema sem graves consequências, diz ministro alemão | SukreeSukplang/Reuters
O euro chegou a um ponto em que os países não teriam como sair do sistema sem graves consequências, diz ministro alemão (Foto: SukreeSukplang/Reuters)

Numa mudança de tom que indica um maior comprometimento com a manutenção da zona do euro, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolf­gang Schäuble, descartou qualquer possibilidade de que um país possa ser excluído da unidade monetária europeia, e acrescentou: as sugestões para ressuscitar o marco alemão não passam de "nostalgia impraticável". As declarações são um sinal de que a maior economia da Europa está mais disposta a financiar medidas que assegurem a solvência de países como a Grécia e a Irlanda.

Os temores de que a Ale­manha estivesse perdendo o entusiasmo pelo euro contribuíram para a turbulência nos mercados globais da semana passada, quando os investidores começaram a considerar seriamente o risco de que a unidade monetária fosse quebrada. O custo dos empréstimos cresceu não apenas para países endividados, mas também para economias saudáveis, como a alemã.

Os chefes de governo dos países europeus se reunirão nesta semana para tentar estabelecer um mecanismo permanente de solução de crises de débito. A pressão também é grande para que os líderes convençam o mercado financeiro da solidez do euro antes do fim de dezembro, mês em que a negociação de títulos públicos é mais calma.

Em várias ocasiões, Schäuble e a chanceler Angela Merkel adotaram uma postura linha-dura com os países causadores da crise. Em março, por exemplo, o ministro disse ao jornal Bild que deveria haver uma maneira de expulsar membros da zona do euro que não conseguissem manter seus orçamentos sob controle. Declarações desse tipo parecem mera resposta ao crescente descontentamento da população alemã com o resgate da Grécia e da Irlanda. Ainda assim, a relutância do governo alemão em socorrer as nações em dificuldades acabou atrasando todo o processo decisório europeu, ao mesmo tempo em que incitava a ansiedade dos mercados.

Mais recentemente, no entanto, os líderes alemães passaram a reafirmar seu compromisso com o euro. O ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, disse na semana passada que a Alemanha está determinada a defender a moeda e que "aqueles que quiserem destruir o euro vão logo perceber que não terão sucesso".

Em entrevista ao Bild publicada há cerca de dez dias, Schäuble mudou seu posicionamento em relação aos países que eventualmente abandonassem a moeda única. "Mesmo que apenas um pequeno país deixasse [a zona do euro], as consequências seriam imprevisíveis", declarou. Refe­rindo-se à falência do banco Lehman Brothers, que quase gerou um colapso financeiro global em 2008, o ministro alemão insistiu: "Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes".

Schäuble contrariou suas próprias afirmações anteriores, que pareciam guiadas pelo desejo de agradar à opinião pública, e enfatizou os benefícios de que a Alemanha desfruta por causa do euro. Ele declarou-se irritado com "pessoas experientes" que pedem o retorno do marco. "Quem olha para o desenvolvimento da economia alemã sabe que a nossa integração internacional é maior que a de qualquer outro país. Sem o euro, nossa moeda sofreria uma valorização que traria consequências negativas para as exportações", disse.

Público

O jornal popular Bild, com suas edições diárias repletas de escândalos e sexo, é o mais lido da Alemanha. A publicação, muitas vezes, ajudou a propagar o ressentimento contra o resgate de outras nações entre os contribuintes alemães. Quando falam ao Bild, os políticos do país geralmente querem transmitir uma mensagem aos cidadãos comuns e à classe trabalhadora.

Para os economistas, a Ale­manha é de fato um dos principais beneficiários do euro – em países como a Itália, a moeda impede a desvalorização cambial com vistas à maior competitividade no valor das exportações. O crescimento da economia alemã será um dos maiores da Europa neste ano e o desemprego no país tem diminuído.

Schäuble também disse ao Bild que os mais jovens podem não entender o grau de importância que a União Europeia e o euro tiveram para a manutenção da paz desde a Segunda Guerra Mundial. "Não podemos desperdiçar a oportunidade histórica de manter uma Europa unida", frisou.

Tradução: João Paulo Pimentel

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