Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Agronegócio

Norte-americanos descobrem o gosto da erva-mate do Paraná

Produtores de São Mateus do Sul fornecem erva orgânica para importador dos Estados Unidos

Paulo Wenglareck: cultura tem tratamento especial para atender exigente importador americano | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Paulo Wenglareck: cultura tem tratamento especial para atender exigente importador americano (Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo)

São Mateus do Sul - Uma empresa criada por um argentino e um americano está tentando derrubar a velha crença de que dinheiro não cresce em árvores. Nesse caso, as "verdinhas" que brotam nas florestas tropicais da Argentina, Paraguai e do Brasil são as folhas da erva-mate, agora convertidas em dólares quando exportadas para o mercado norte-americano.

A erva-mate brasileira sai da cidade paranaense de São Mateus do Sul e é produzida de forma 100% orgânica – sem o uso de insumos químicos ou agrotóxicos – pela Cooperativa de Famílias de Agricultores Agroecologistas (Cofaeco), formada por 25 famílias.

O plano de negócios da Guayakí, empresa importadora, é ousado. Além de tentar pôr em prática conceitos abstratos como "comércio justo" e "sustentabilidade sóciocultural e ambiental", a ideia é oferecer a tradicional bebida sul-americana como alternativa à Coca-Cola, ao café, chás e outras bebidas energéticas.

Para ganhar mercado e conquistar adeptos, a empresa busca uma coerência entre discurso e prática. A chamada erva-mate "sombreada", cresce na mata nativa da região de São Mateus do Sul, em meio a exemplares de araucárias e imbuias. A localização geográfica também faz com que os níveis de concentração de cafeína nas folhas da planta sejam maiores que os encontrados em quaisquer outras regiões.

O Paraná é o maior produtor de erva-mate do país, responsável por 70% da produção nacional, segundo a Pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, 15 dos 20 principais municípios produtores da erva-mate são paranaenses. São Mateus do Sul se destaca como o maior do país, respondendo por 14% da produção nacional.

A Guayakí paga um sobrepreço de 50% em média pelo quilo desta erva-mate em relação ao mercado nacional. Parte do valor adicional serve justamente para financiar os custos sociais, como forma de incentivar este tipo de manejo sustentável e colaborar com a preservação e restauro da mata.

A empresa, que já importou 200 toneladas da erva de São Mateus do Sul em 2005 e 2006 está negociando com a Cofaeco a compra da próxima safra. A Guayakí compra a erva mate dos produtores "no pé"; depois colhe, beneficia, armazena e exporta para os Estados Unidos em sacos de 50 quilos. Lá, o produto é reembalado em pacotes de 1 pound (equivalente a 453,5 gramas) e 5 pounds (2,26 kg), que são vendidos em aproximadamente 530 pontos de venda nos EUA e outros 30 no Canadá. O preço da erva no mercado internacional é de US$ 12 (pouco mais de R$ 27) o pacote e 1 pound e US$ 52,50 (R$ 117,6) o pacote de 5 pounds.

Para os cooperados da Cofaeco, o valor pago pelo quilo da erva-mate por aqui é considerado justo, mas o preço cobrado do consumidor final indica que ainda há uma margem de ganhos para ser explorada. "Nosso produto está na moda lá fora. É preciso ter isso em mente na hora da negociação", indica o coordenador geral da Cofaeco, Benedito Padilha Pedro.

O produtor cooperado Paulo Wenglareck, no entanto, sabe que para ampliar os lucros é preciso fazer mais do que simplesmente produzir matéria-prima. "Vender para a Guayakí é um bom negócio e dá condições do agricultor manter a floresta em pé. O próximo passo é criar condições de beneficiamento da erva para agregar valor dentro da propriedade", analisa.

Obstáculos

A erva-mate não enfrenta nenhum tipo de barreira tarifária para entrar no mercado norte-americano. Por outro lado, o controle de qualidade de níveis microbiológicos e de metais pesados é extremamente rígido e a erva orgânica passa por um processo de certificação internacional.

Segundo o presidente e fundador da Guayakí, o argentino Alex Pryor, as dificuldades maiores são outras: a erva-mate – na forma do chimarrão – ainda é desconhecida por cerca de 90% da população dos EUA. "O desafio é introduzir um novo conceito e criar uma categoria completamente nova no setor de bebidas", ressalta. "Isso diz respeito não só aos aspectos culturais de compartilhar uma cuia de chimarrão, mas também o simbolismo da hospitalidade, de diálogo e amizade que a tradição da erva-mate gera, assim como todos os aspectos saudáveis da bebida", finaliza.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.