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Escritório do Slack | CARLOS CHAVARRIANYT
Escritório do Slack| Foto: CARLOS CHAVARRIANYT

Slack é o caso clássico de sucesso acidental no Vale do Silício. Nascido há três anos a partir de uma tentativa de jogo frustrada, o software atualmente é usado por cinco milhões de pessoas. 

A empresa por trás do aplicativo, a Slack Technologies, fez sucesso ao combinar algo que o Vale do Silício fetichiza – dados sobre como as pessoas utilizam o produto –, com algo que muitas vezes ignoram: como os usuários se sentem ao usar o aplicativo? 

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Essa combinação produziu um sucesso improvável quando o software corporativo foi disponibilizado ao público em 2014. No ano passado, a empresa de capital fechado foi avaliada em US$4 bilhões. 

Agora, o Slack enfrenta um novo desafio. O aplicativo se tornou grande o bastante para atrair a resposta de gigantes como a Microsoft, mas não o suficiente para garantir a manutenção dos maiores clientes corporativos dos quais depende para competir com essas gigantes. 

No segundo semestre do ano passado, a Microsoft anunciou um concorrente direto do Slack chamado Teams, que seria distribuído gratuitamente aos 85 milhões de usuários do Office 365. Ao mesmo tempo, o Facebook passou a distribuir gratuitamente sua ferramenta de colaboração, o Workplace. A Atlassian, uma empresa de pequeno porte, também conquistou grandes clientes corporativos. 

Como resultado, o Slack precisa se defender contra alguns dos maiores e mais vorazes competidores de tecnologia do setor se quiser ser mais que uma ferramenta de nicho para pequenas empresas e equipes.

A Microsoft já oferecia formas de colaboração para seus funcionários. E, embora essas ofertas não tenham viralizado, elas contam com as opções chatas mais importantes exigidas por grandes empresas, como segurança de dados e controles regulatórios de conformidade. 

Ninguém no Slack ousa dizer que o sucesso é certo. Entretanto, o fundador e CEO Stewart Butterfield afirmou que pequenas empresas de tecnologia com novas ideias muitas vezes derrotaram rivais de grande porte que tentaram copiá-las. Bons exemplos são o da Apple, que venceu a IBM na computação pessoal; o do Google, que bateu a Microsoft nas ferramentas de busca; e o do Facebook, que não deu chance ao Google nas redes sociais. 

Nascido nos jogos 

O Slack é fruto da segunda tentativa frustrada de Butterfield de criar um videogame. Sua primeira, um jogo chamado Neverending, contava com uma ferramenta de compartilhamento de fotos que se tornou mais popular que o jogo. Ela se separou e virou o Flickr, que foi vendido ao Yahoo por US$ 25 milhões em 2005 e existe até hoje

Em 2011, ele criou outro jogo, Glitch, no qual as pessoas cooperavam para construir mundos compartilhados. (Jogadores que se comportavam mal eram colocados de castigo.) No auge, o jogo custava US$ 500 mil ao mês à empresa e gerava apenas US$ 30 mil em receita. Por isso, Butterfield encerrou o jogo no fim de 2012. Alguns funcionários continuaram para construir a plataforma de mensagens que os engenheiros do Glitch usavam entre si. O projeto deu origem ao Slack. 

O Slack foi oficialmente lançado em fevereiro de 2014 e atualmente conta com cinco milhões de usuários diários – em outubro de 2016, eram quatro milhões. A maioria dos usuários usa a versão gratuita, mas cerca de 1,5 milhão de pessoas paga entre US$ 6,50 e US$ 12,50 ao mês ao Slack para ter acesso ao armazenamento e a busca total das mensagens. A empresa de 800 funcionários irá faturar US$ 200 milhões este ano, mas ainda não é lucrativa. 

Apps do SlackSlackDivulgação

Inicialmente popular entre pequenas equipes de engenheiros de software que queriam trabalhar remotamente sem a necessidade de videoconferências e troca de e-mails, o Slack não foi projetado para grandes empresas. Os usuários podem conversar em “canais”, geralmente organizados em torno de algumas tarefas bem definidas. 

“A supervisão do trabalho entre diferentes escritórios se torna menos complicada” com o Slack, afirmou Nick Coronges, CTO da R/GA, agência de marketing e design com dois mil funcionários e escritórios em várias cidades. 

Softwares de colaboração como o Slack não são novidade. O Wave, do Google, que começou em 2009 e foi interrompido em 2012, serviria para substituir o e-mail como ferramenta de mensagem, mas era muito difícil acompanhar o fluxo da conversa. A Atlassian, uma empresa australiana de software, lançou uma plataforma de colaboração em 2004 e adquiriu o principal concorrente do Slack, o HipChat, em 2012. 

Contudo, o Slack se concentrou em fazer um produto que as pessoas gostam de usar, uma estratégia mais comum entre empresas de produtos voltados ao consumidor, como a Apple, o Snap e o Spotify. 

Em busca de grandes clientes 

Stewart Butterfield, fundador e CEO do SlackCARLOS CHAVARRIANYT

No começo, o Slack tinha menos funções que seus rivais, mas isso não era um problema. Dezenas de milhares de pequenas equipes criavam contas, algumas até pagas, sem precisarem de muita propaganda. Os pequenos clientes ainda correspondem a 50% do faturamento do Slack. 

Contudo, a empresa sabia que sempre teria um produto de nicho sem características básicas, como “tópicos” comuns em e-mails e salas de bate-papo usadas por grupos para responder determinadas mensagens. O software também precisava de um processo mais simples de conexão. Originalmente, cada equipe precisava de uma conexão diferente, mesmo que o funcionário trabalhasse em muitas equipes dentro da própria empresa. 

À medida que a concorrência crescia, o Slack começou a ouvir o feedback de empresas como a Capital One. As equipes do banco gostariam de se conectar em um só local e ter acesso a todas as salas do Slack. Eles queriam que os canais permitissem mais membros, além de características específicas, como compartilhamento de arquivos, para estar de acordo com as regulamentações vigentes. 

O Slack fez essas mudanças, e os funcionários “não largaram mais”, afirmou Jennifer Manry, vice-presidente de funcionários de tecnologia da Capital One, indicando que “ele preencheu uma lacuna fundamental”. 

Ao final de janeiro, Butterfield revelou um novo produto para grandes clientes corporativos, o Enterprise Grid. Voltado para grandes empresas e governos, o software é capaz de gerir conversas de até 500 mil funcionários de uma vez. A IBM, a Jet.com, a NASA e a Home Depot já usaram o produto. 

Contudo, a Slack ainda não dominou o mercado. A Capital One usa, paralelamente, ferramentas de colaboração da Microsoft e da Atlassian. O Facebook e pequenas empresas como a Asana também compartilham clientes com o Slack. O Microsoft Teams está disponível em 181 mercados ao redor do planeta, em 19 idiomas. O Slack só está disponível em inglês em todos os locais onde o aplicativo pode ser baixado. 

Grandes ambições 

A batalha entre o Slack e seus rivais se dá basicamente em torno de quem irá criar um software que ninguém conseguirá mais abandonar no trabalho. Muitas empresas, grandes e pequenas, dependem do Excel, da Microsoft, do Photoshop, da Adobe e do Gmail, do Google. 

O Slack quer fazer parte desse panteão – o lugar onde as pessoas colaboram e conversam online, a sala de conferências e o bebedouro virtuais. 

O nome Slack – sigla em inglês para “arquivo pesquisável em todas as conversas e conhecimentos” – deixa claro quais são as ambições da empresa. Contudo, para se tornar um sucesso do tamanho da Microsoft, as pessoas precisarão escolher o Slack em detrimento dos concorrentes. 

“As empresas querem que os funcionários colaborem mais, porque a colaboração reduz a necessidade de abandonar o navio. O principal motivo que leva as pessoas a mudarem de emprego é a sensação de isolamento”, afirmou Sean Ryan, diretor de parcerias do Workplace, do Facebook. 

“Estamos tentando criar empatia em grande escala”, afirmou Butterfield. As paredes do escritório do Slack estão cobertas de recados de clientes e os banheiros tocam música pop francesa. Os engenheiros da empresa afirmam que ser um bom designer é como ser um bom anfitrião, e usam expressões como “colocar a mesa” quando criam novas ferramentas. 

“Crio softwares há 15 anos e aprendi mais sobre como as pessoas interagem com o software nos últimos 18 meses do que nos 13 anos anteriores”, afirmou April Underwood, que se tornou vice-presidente de produtos do Slack em 2015. 

Para essa abordagem se converter em lucro para o Slack, a empresa precisa se espalhar mais rapidamente para outros países e os funcionários de grandes empresas precisam convencer seus departamentos de TI a pagar pelo aplicativo. Isso só acontecerá se eles alcançarem um nível de devoção pelo software. É por isso que o Slack se dedica tanto ao bem-estar dos usuários. 

“Existem pessoas que estão prestes a morrer, se divorciar, que têm filhos com câncer. Você precisa se colocar no lugar delas. Se deixarmos essas pessoas preocupadas por um segundo sequer, vamos perder esses usuários”, afirmou Butterfield. 

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